segunda-feira, 25 de março de 2013

The best souvenir shops



"If there's one company that stands head and shoulders above the rest in terms of marketing Portuguese products it is A Vida Portuguesa (Rua Anchieta 11) in Chiado. This much copied concept remains one of the city's most original shopping spots. Every year they revamp the stock with quirky products, many of them evocative for locals of childhood memories. Top sellers include the ceramic swallows of 19th-century artist Rafael Bordallo Pinehiro, Regina chocolates with their vintage packaging, and Ach Brito scented soaps."

Time Out Lisbon for Visitors.
2013 edition.

quinta-feira, 21 de março de 2013

167 anos de Bordalo



Nasceu em 1846, Rafael Bordalo Pinheiro, numa família de artistas lisboetas. Quis ser actor nos palcos, mas foi afinal actor crítico de uma sociedade nas páginas das revistas que criou como A Berlinda, A Lanterna Mágica, o António Maria ou A Paródia. Desenhador, gráfico, ilustrador e caricaturista, deve-se-lhe a criação da figura do Zé Povinho. Em 1883, fundou a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, onde, até à sua morte, em 1905, tenta um projecto artístico invulgar de investimento industrial e simultaneamente de procura de um certo espírito de ser português.



"João Paulo Cotrim traçou o rasto ao artista – republicano, anticlerical, libertário, sim senhor, entre outros epítetos que haveria de recolher na pança larga e no humor ainda mais distendido. E fê-lo com economia de palavras, escolhendo iluminar momentos, amizades, afectos, que revelam a faceta mais humana do eterno trocista. A acompanhar o muito material fotográfico e, essencialmente, esse tesouro de desenhos (muitos deles feitos para a revista Lanterna Mágica) que marcou o imaginário popular, este volume tem ainda uma cronologia comentada. [...] Esta fotobiografia é ‘cousa’ imperdível.” Sílvia Souto Cunha, VISÃO.

Feliz Dia Mundial que vale por dois

"Então, todos compreenderam que a memória da árvore nunca mais se perderia, nunca mais deixaria de os proteger, porque os poemas passam de geração em geração e são fiéis ao seu povo." "A Árvore" de Sophia de Mello Breyner Andersen.



"Um tufão chamado Marilyn varreu recentemente uma das ilhas do Japão, tendo deixado um rasto de inúmeros cabelos loiros presos nas árvores." "O Poeta Nu", Jorge de Sousa Braga.



"A Poesia Está na Rua" de Maria Helena Vieira da Silva.





segunda-feira, 18 de março de 2013

Place to discover


"PLACE TO DISCOVER | A VIDA PORTUGUESA
An intriguing concept store with lovingly selected and creatively presented products all made in Portugal and ranging from toothpaste, cooking utensils, exercise books and coat hangers to rice, coffee and canned food."

Patricia Engelhorn
Swiss Airlines Magazine

Para uma semana que é uma limpeza


Eficaz contra a sujidade mas simultaneamente suave e delicado com os tecidos. Um essencial da lavagem à mão. Com provas dadas, a cuidar da roupa (e não só!) dos portugueses desde 1956. Compre aqui, o sabão Clarim.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Para a Ucrânia, com amor



Até a televisão ucraniana já sabe que uma visita a Lisboa não fica completa sem uma paragem n' A Vida Portuguesa. E o apresentador da IHTEP não conseguiu sair da loja do Chiado sem um saco cheio de compras. É confirmar a partir do minuto 29:40, aqui.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Bordados de Viana

Da série "os nossos fornecedores são autênticos heróis". Isilda Parente na revista Visão:



"Na pequena aldeia de Perre, às portas de Viana, o rosto sereno de Isilda Parente não deixa transparecer os seus 75 anos. A bordadeira, uma das que mais tem feito em prole dos bordados vianenses nas últimas duas décadas, continua a ser a alma da sua oficina de artesanato, mas a gestão da casa está, agora, entregue aos filhos e nora.
Os bordados de Viana, entretanto já certificados, continuam a ser uma das maiores "marcas" da cidade. Do ateliê de Isilda Parente saem, sobretudo, toalhas e almofadas bordadas, com linha de algodão número oito, para todo o mundo, em especial, Holanda e Japão. "Mas as toalhas mais caras têm sido compradas em Portugal", garantem. E os preços podem atingir os 1500 euros. Os corações e flores do campo bordadas a ponto cheio e crivo, em azul, vermelho e branco, já não se resumem aos atoalhados e começam a partir para outros suportes como candeeiros e, até, um biombo que acabou selecionado para o Prémio Nacional de Artesanato.
Daqui já saíram bordados para criações de Nuno Gama "ele fez muito pelos bordados de Viana", realçam mas também para Anabela Baldaque e Ana Salazar. Entre as muitas noites mal dormidas, Isilda Parente recorda as horas "trabalhosas" passadas à volta do vestido vermelho que Lucia Moniz vestiu para o Festival da Canção (1996). E as toalhas bordadas para a Presidência da República, durante a mandato de Jorge Sampaio.
O importante, sublinha Isabel Parente, continua a ser "a qualidade e criatividade do produto"."

Souvenirs vintage

Para a edição francesa da revista Cosmopolitan, Pascale Declos elegeu A Vida Portuguesa entre as paragens diurnas obrigatórias de Lisboa. "Das sardinhas enlatadas aos doces de medronho, dos sabonetes perfumados com verbena, aos belos cadernos de escrita, das andorinhas para pendurar aos cobertores de lã macia: as prateleiras de madeira desta loja chique nostálgica não têm senão artigos "made in Portugal". A melhor para comprar presentes!" Abril 2013

terça-feira, 12 de março de 2013

Notícias que apetece espalhar

O livro MAR ganhou o Prémio LER/Booktailors para Melhor Design de Obra Infantojuvenil 2012. Os nossos parabéns à Pato Lógico Edições!

E a Planeta Tangerina (que também está nomeada para o prémio de Editora do Ano pela Feira do Livro Infantil de Bolonha, em Itália) já arrebatou uma Menção do Júri na categoria Opera Prima nos Bologna Ragazzi Awards com "A Ilha".

O que nos lembra duas óptimas sugestões para o Dia do Pai:

"E era assim que as coisas aconteciam, / pois um pai com seis filhos tem, / naturalmente, que fazer pela vida." Livro infanto-juvenil de capa mole, 62 páginas e o humor de Alface (o escritor João Alfacinha da Silva, 1949-2007). Para os homens (e sua descendência) que sabem que nestas coisas (sérias) da paternidade o mais importante mesmo é manter um sorriso no rosto. "Um Pai Porreiro Ganha Muito Dinheiro"

"Um pai é mesmo uma pessoa muito especial. Capaz de se dobrar, desdobrar, encolher e esticar… Um pai transforma-se, num passe de mágica, nos objetos mais incríveis. Ou será que nunca repararam nos pais transformados que andam por aí? Pais-cabides, pais-ambulâncias, pais-aviões, pais-sofás, pais-escadotes, pais-travões… Basta abrir os olhos e observar. Um livro que olha de perto a relação de cumplicidade entre pai e filho. E que convida filhos e pais a descobrirem-se juntos ao virar de cada página." "Pê de Pai"

segunda-feira, 11 de março de 2013

Voz do Cidadão


Filmado n' A Vida Portuguesa do Chiado e incluindo uma breve entrevista a Catarina Portas, o último programa do Provedor do Espectador da RTP debateu o pessimismo nas notícias. O crescente interesse em relação a temas relacionados com a economia e a importância de nos conhecermos melhor e de sabermos como as coisas são feitas. Porque "o consumidor tem a capacidade de, escolhendo a quem entrega o seu dinheiro, contribuir para mudar o mundo."


"Vem depressa ó Primavera"



© Sara Martins

segunda-feira, 4 de março de 2013

Big in Japan



O "Guia Japonês sobre Portugal" acabou de sair, que é como quem diz, de chegar ao nosso escritório. Dicas práticas para desfrutar o país de norte a sul e tanta beleza que é de pôr os olhos em bico. E não só A Vida Portuguesa ocupa duas páginas... como um dos nossos carimbos (e uma das nossas imagens de marca) foi escolhido para a capa. Arigato!

sexta-feira, 1 de março de 2013

Portugal de... Catarina Portas

"Quem é que nós somos, ainda nos lembramos? Eu acredito profundamente na originalidade, na criatividade, na especialidade de cada um de nós. Na diferença. A diferença para mim é fundamental. A diferença não me afasta, a diferença atrai-me. E acho que é saudável nós sermos todos diferentes e podermos falar uns com os outros. Porque o ponto de vista do outro enriquece-me. O seu ponto de vista diferente faz-me pensar. Não é que eu venha a concordar com ele, se calhar até venho, mas faz sobretudo mexer isto, trabalhar, magicar, querer saber, ter curiosidade, senão, que tristeza de vida...

Algum do nosso passado também pode ser algum do nosso futuro. Tudo aquilo que nós olhámos ao longo das últimas décadas um bocadinho como símbolo do nosso atraso, do nosso imenso atraso - porque nos tínhamos industrializado e modernizado mais tarde do que o resto da Europa e do que outros países nossos vizinhos - o facto de ainda conservarmos algum desse saber fazer, da manufactura, do saber fazer das mãos, e houve fábricas que não cresceram demasiado, também é para o mercado que existe hoje em dia, extremamente interessante. Muita Europa perdeu essas fábricas e está outra vez à procura disso. Além de que, como estamos num mundo cada vez mais globalizado, as coisas são cada vez mais parecidas e é óbvio que, por oposição, o local também acabe por crescer.
Quando eu comecei a fazer pesquisa, e também porque sempre viajei muito, e estando o mundo cada vez mais igual, comecei a perceber, de facto, quão mais exótico por vezes era o meu país. E fiquei fascinada. E quando comecei a ir às fábricas - que é provavelmente hoje em dia a minha actividade favorita - conhecer todas as pessoas que fazem os produtos que eu vendo, e isso é uma coisa de que eu gosto, porque eu gosto de saber e sei exactamente qual foi a senhora que embrulhou aquele pacote de chá Gorreana, por exemplo.
Todos os países estimam as suas marcas antigas e nós tínhamo-nos esquecido um bocadinho delas, estávamos a esquecer-nos delas, a nossa geração e as gerações mais jovens conheciam menos bem estas marcas e, para elas, essa descoberta também foi uma surpresa.

Nós trabalhamos com empresas que podem ter várias centenas de pessoas como outras em que existem duas. São dimensões muito diferentes e eu tenho um respeito que nunca mais acaba por pessoas que conseguiram (mesmo às vezes quando as fábricas mudaram de mãos) ao longo de décadas, às vezes de um século, manter uma marca contra as vicissitudes da economia, da história, por aí fora, e conseguiram continuar a acreditar, a melhorar, a comercializar; sobretudo conseguiram continuar a dar emprego.

O trabalho das mãos é, para mim, das coisas mais preciosas. Lembro-me que muitas vezes ligava para as fábricas e a primeira resposta era quase sempre: "oh não, menina, isso é muito complicado!" Em 90% dos casos era a primeira frase. E era sempre preciso dar aquela volta, pedir, explicar. Mas depois, quando se conhecem as pessoas, elas também fazem coisas incríveis se precisarmos. Precisamos daquilo, para aquele prazo, etc, etc, e naquele dia está pronto. Era uma coisa dificílima mas é importantíssimo para não perder esta entrega, abrir no dia certo... E as pessoas fazem isso também. E há um trabalho muitas vezes de várias gerações, de muita gente empenhada, tem muita mão de obra, tem muito saber fazer. Isso dá muito valor a um produto. E saber transmitir isso aos clientes, toda essa informação, faz parte da compra.
Há uma ideia do Eduardo Lourenço, que nós temos simultaneamente um complexo de superioridade e um complexo de inferioridade, enquanto povo. E eu acho que isso é uma marca, uma herança da história, a dificuldade que temos de nos unir por uma causa comum. Não esqueçamos que nós vivemos num país de individualistas - e eu também acho que as coisas estão a mudar - mas, basicamente, eu cresci num país em que metade das pessoas não se digna a votar e metade da população foge aos impostos. E depois dizem "a culpa é deles". Mas "eles" somos nós, o Estado somos nós. Portanto, tudo começa por nós.

Esta dificuldade que nós temos... não gosto de falar em inveja mas digamos que há sempre uma desconfiança do outro. E esta coisa de dizermos mal à mesa do café é muito mais fácil do que obviamente mudarmos as coisas. E dizer que a culpa é daquele senhor que está lá em cima, mas aquele senhor é uma pessoa que nós elegemos e a responsabilidade é nossa. Enquanto não entendermos isto é difícil. Para nós o fracasso é mais difícil do que se calhar para os americanos ou para outros que têm esta cultura de fazer as coisas, OK, falha-se e depois recomeça-se e se calhar isso não é tão fácil para nós.

Cansei de ouvir dizer que isto é um país do Terceiro Mundo. Vão lá ao Terceiro Mundo e aí vão perceber que isto não é um país do Terceiro Mundo. É verdade que há coisas que não funcionam mas, apesar de tudo, temos uma qualidade de vida bastante especial.
Nós temos sempre um anseio de alguém que está lá em cima e nos há-de salvar. Em vez de pegarmos nas nossas mãozinhas para nos salvarmos e salvarmos a nós próprios e aos outros. E essa tendência para descansarmos em alguém que tem a responsabilidade, isso eu acho que é uma característica muito portuguesa, pelo menos destes últimos 20, 30 anos porque acho que vem de uma herança próxima que é a herança do salazarismo. isso é óbvio. Mas convinha que nos libertássemos disso o mais possível. Nós não podemos alterar o passado, devemos entendê-lo para que não se repita o que ele teve de pior.

A minha geração e a geração abaixo da minha tinha um grande desconhecimento de como é que os nossos pais, como é que os nossos avós tinham sido educados, em que mundo é que tinham vivido e como isso ainda influenciava o país que nós somos hoje. E achava de facto imprescindível que se soubesse um pouco mais. Entretanto aconteceram várias coisas... E tenho por certo que foi aquele momento fatídico em que o Salazar ganhou o concurso do maior português de sempre que fez com que essa gaveta finalmente se abrisse porque houve muita gente muito indignada e de repente isso voltou completamente.
A maior parte destas empresas já existia antes do Estado Novo e continuaram a existir depois do Estado Novo. Adaptaram-se ao seu mundo, senão também não tinham resistido. Mas o que é incrível - e isso foi para mim a grande descoberta enquanto jornalista - foi perceber como era possível contar a história de um país, de um povo, de uma sociedade através dos produtos de consumo. E, de facto, há coisas incríveis. Dos rótulos dos sabonetes eu consigo ter uma visão do que foi a história de Portugal durante 100 anos. A andorinha também nos simboliza bastante, é preta e branca o que é quase triste mas por outro lado voa com imensa alegria, é muito pequena mas extremamente valente, atravessa oceanos ou mais propriamente continentes, do sul ao norte e sobretudo volta sempre a casa. Acho que tem muito a ver com os portugueses.

Espero que o Miguel Esteves Cardoso seja sempre lembrado. Eu sou de uma geração que tem muito a dever ao Miguel, pela forma como ele nos viu, foi de facto uma coisa muito nova. Ele pegou também nos produtos antigos, na coluna do expresso, A Causa das Coisas, a pretexto de produtos antigos falava das características dos portugueses. Mas depois com o Independente, foi muito uma aprendizagem minha, estive por lá nos primeiros tempos e havia uma forma de ver as coisas. Havia sobretudo uma enorme discussão sobre como ver as coisas e quais as coisas que devíamos ver.
Lembro-me sempre muito das tarde que eu passada com a minha mestra chapeleira. Eu tinha 17, 18 anos e ela tinha 70 e muitos. Eram tardes inteiras a conversar e o que eu aprendi nenhuma escola me poderia ensinar. Eu não queria ir para a universidade, queria ser modista de chapéus. E fui aprendiza durante dois anos.

Fui dois anos aprendiza e esse atelier onde eu trabalhei durante dois anos aqui no Chiado, na Calçada do Combro, eu tinha uma mestra, a dona Virgínia, e todas essas tardes em que eu saía do liceu e ia para lá cozer. Aprender a cozer com a agulha curva, uma série de técnicas, porque ainda por cima os chapéus mexem com imensos materiais diferentes, é muito complicada a chapelaria de alta costura, tem muito que saber e essas tardes a ouvr as histórias, a perceber de facto o incrível que é. As mãos da dona Virgínia fariam inveja a qualquer cirurgião. Era extraordinário o que ela fazia com aquelas mãos.

Mas essa é uma questão que me preocupa ainda hoje, a história do aprendizado, a história das lojas antigas, neste momento aflige-me que haja um certo novo-riquismo pelo qual nós passámos nos anos 80 e nos anos 90. O que é natural, de repente chegaram as marcas estrangeiras a Portugal, tanta coisa nova, incrível. Os portugueses sempre tiveram uma tendência para achar que a primeira qualidade de um produto é ser estrangeiro, não é se é bom ou se é mau, é se é estrangeiro. Isto era uma coisa assim para o chique, não é?
Hoje em dia as empresas quanto mais crescem mais accionistas têm e mais contas têm que prestar aos seus accionistas. E há uma dimensão humana do negócio que se perde, porque já só contam os resultados e os números. É preciso é que as margens sejam maiores. Por isso, eu acho que estas pequenas ou médias empresas ajudam a fazer um mundo melhor, um mundo onde é muito mais agradável viver.

Eu prefiro saber que este produto é feito em Portugal com as regras de trabalho que nós temos. Porque quando este produto vem da China ou de outro país que não tem as mesmas regras de trabalho que nós temos, pode ter sido feito por crianças ou por pessoas que estão a trabalhar 70, 80 ou 90 horas por semana, pessoas que estão em camaratas, que são extremamente mal pagas, cujos direitos são completamente usurpados. Em que mundo é que eu quero viver? Há um barato que sai caro. Sai caro em termos humanos. Se nós temos alguma preocupação de querer viver num mundo justo, ou o mais possível justo, tudo começa por nós e pela nossa atitude. Às vezes poupar cinco cêntimos é poupar aquela pessoa que nós conhecemos ao desemprego.
Como é que as coisas que nós consumimos são produzidas? Elas não aparecem por milagre numa prateleira de um supermercado. E é muito interessante perceber isso porque isso também molda o mundo em que nós vivemos. Quando uma t-shirt custa a mesma coisa que um pão, há qualquer coisa que não está bem. Um pão é trigo que cresce, é moído e as mãos amassam, com água, e vende-se numa loja. Uma t-shirt é algodão que cresce, que é apanhado, que é fiado, que é tingido, de que é feito o tecido, que é cortado, cozido, embrulhado, vem não sei de onde, é posto à venda numa loja... Como é que pode custar a mesma coisa? Não é possível. Acho que é muito importante sabermos com que regras é que as coisas são feitas e como é que são vendidas. Porque são decisões que nós tomamos no dia-a-dia. Quando vamos ao hipermercado, quando vamos às marcas que controlam totalmente o mercado... E há duas marcas hoje em dia que controlam 70% da grande distribuição alimentar, portanto fazem o que querem e nós vimos isso... é benéfico para os consumidores? É no momento em que consomem mas quas são as consequências disso? Eu não quero. Eu hoje em dia vou ao supermercado e eu não vejo aquela marca portuguesa que eu conheço, encontro produtos que eu não sei como são fabricados, por quem nem como. Chego aos legumes e vejo batatas e cebolas espanholas e pergunto-me porquê. E acho que as pessoas têm que começar a ser exigentes também. Porque o importante não são só os números. O vermos só os números conduziu-nos também ao mundo em que estamos.
Com a crise económica em que nós estamos, é melhor começarmos a consumir aquilo que produzimos porque senão é que não saimos mesmo daqui. Acho que a crise, apesar de todos os seus defeitos e dramas teve um grande benefício que foi as pessoas pensarem no que estão a fazer. E eu acredito profundamente que o consumo pode ter uma componente política, cívica, no sentido de cidadania. Um consumidor, escolhendo a quem entrega o seu dinheiro pode ajudar a mudar o mundo. Não tenho dúvidas nenhumas sobre isso. É preciso é sermos muitos.

Hoje em dia recebo muitos turistas nas lojas d' A Vida Portuguesa. Há estrangeiros que moram cá e adoram o país. Há estrangeiros que conhecem mal e de repente percebem que de facto há umas coisas imbatíveis em Portugal. A relação qualidade-preço do vinho e do peixe portugueses, por exemplo, é imbatível em relação a qualquer país da Europa ou mesmo fora da Europa. Eu acho que nós temos sempre tendência a considerarmo-nos menos interessantes do que somos. Vivemos há tanto tempo aqui que deixamos de reparar nas coisas que estão perto de nós. Em relação às coisas portuguesas, o facto de ter tido uma educação um bocadinho estrangeirada e de ter sempre viajado muito, fez com que quando eu comecei a descobrir Portugal mais em pormenor digamos, se calhar estava mais atenta a uma série de coisas porque vinha com um olhar habituado a outra coisa.
O Chiado hoje em dia tem tendência a transformar-se porque já só as multinacionais ou as grandes cadeias de lojas mesmo que nacionais, é que conseguem ter uma loja na Rua Garrett porque os preços são totalmente proibitivos. E há toda esta tendência para transformar estas lojas em lojas que poderiam estar num centro comercial. E isso eu acho uma pena porque a mais-valia de estar no centro antigo da cidade é exactamente os espaços, sobretudo os espaços interiores e o que foi feito neles ao longo de 100 ou 200 anos. No ano passado fui a Nova Iorque e as lojas que encontrei lá são exactamente as mesmas que encontro aqui, à saída desta loja, e pensei "porque é que eu atravessei um oceano?" É a globalização e apesar de tudo nós gostamos de ter acesso às coisas mas não é tão interessante assim, acho que vamos acabar por chegar a essa conclusão sermos todos iguais. E portanto é natural que as raízes e o que nos faz diferentes, a nossa diferença, cada vez mais se afirme num mundo que tem a tendência a ser cada vez mais parecido.

Eu gosto mais de juntar a tradição e a identidade. Aliás tenho sempre aqueles momentos dificeís quando dizem que a minha loja é sobre a saudade. Qual saudade! isto não é quem nós fomos, é quem nós somos. E pode-nos ajudar a ser quem nós seremos." Catarina Portas, Portugal De...