quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Das inspirações d' O Editorial

"Depois do sucesso no Chiado e Porto, A Vida Portuguesa abriu uma nova loja no Bairro do Intendente, Lisboa. Sendo a âncora para a renovação desta zona da cidade, o novo espaço dedicado à casa apresenta as marcas divulgadas pela A Vida Portuguesa desde há muito e novas adições como a Ideal & Co ou Green Boots."




Outras inspirações: O Portugal de Catarina Portas. O tesouro nacional que é a Fábrica de Sabonetes Ach Brito. A modernidade a reinventar a tradição nas malas de pele Ideal&Co.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Maria Keil em exposição

O seu olhar estendeu-se ao país inteiro mas Lisboa, a sobre e a subterrânea, está particularmente povoada pelas cores e os azulejos de uma senhora que foi pintora, ilustradora, designer e cenógrafa. Um talento de abundância que é um presente mas também um futuro admirável. Para redescobrir num painel de azulejos, num livro infantil ou na exposição De propósito... Maria Keil, obra artística. No Palácio da Cidadela de Cascais até domingo, dia 27 de Outubro.  Digamos, muito simplesmente, que é uma das nossas artistas favoritas.



A exposição, pelos olhos da Time Out: "Muitos de nós passamos todos os dias por Maria Keil sem saber. Ela já não está entre nós em pessoa mas vemo-la em Lisboa, em muitos locais. Como? Através das suas obras em azulejo que povoam espaços públicos. Mas esta é apenas uma das várias dimensões dos seus trabalhos, que não são tão conhecidos como seria de esperar para uma carreira tão produtiva. A artista nasceu em Silves em 1914 e faleceu em Lisboa em 2012, e agora, no dia em que perfazem dois anos desde o seu falecimento, o Palácio da Cidadela de Cascais inaugura uma exposição retrospectiva da sua obra com o título “De Propósito”.
 
Organizada pelo Museu da Presidência da República, esta exposição mostra trabalhos de pintura, desenho, figurinos, design gráfico e ilustração, entre outras áreas. “De propósito” é uma alusão à frase dita por Maria Keil, por ocasião do seu 80.º aniversário: “Faço 80 anos, sim, e é de propósito”. A ironia subjacente em grande parte dos seus trabalhos, a desconstrução, a diversidade de abordagens e de suportes e a fuga a categorizações espelham a personalidade desta artista. Ao todo, 80 foram também os seus anos de trabalho, aqui espelhados, para maior e melhor compreensão por parte do público.
 
Como diz Alexandre Pais, investigador do Museu Nacional do Azulejo, “Maria Keil é uma presença constante no quotidiano lisboeta. A pesquisa efectuada na procura de novas expressões plásticas e a relação com a arquitectura e a funcionalidade dos locais onde os azulejos eram aplicados, são dois dos aspectos mais relevantes de uma obra pessoal, atenta ao mundo que a rodeava, reinterpretando influências e a História à luz de novos desafios”. Mas no campo da ilustração é autora de imagens criadas para textos literários e livros para crianças durante cerca de 70 anos (entre 1940 e 2007). Já nos domínios do design gráfico a sua produção assentou em anúncios, cartazes, capas de livro, selos e sobretudo ilustrações. Nas artes performativas também Maria Keil colocou a sua assinatura: os figurinos e cenários que desenhou serviram de elementos importantes para espectáculos de dança. Como pintora, especializou-se na paisagem e retrato, tendo sido companheira dos neo-realistas. Como prova da sua versatilidade e riqueza plástica, ainda são expostos aqui exemplos de desenho de mobiliário para interiores comerciais, ligados à restauração e à hotelaria, e para interiores domésticos.
 
Maria Keil foi uma mulher que se soube impor num pequeno universo dominado pelos homens – e esta semana a prova está em Cascais, para todos verem.
 
De propósito... Maria Keil, obra artística. A partir de quarta no Palácio da Cidadela de Cascais (Passeio D. Maria Pia) e até 27 Out. Qua-Sex 11.00-17.00; Sáb 10.00-18.00;Dom 14.30-18.00. Bilhetes: 2,50€"

E disponíveis na nossa loja online:
Preciso e precioso, Desvio Padrão é um livro com DVD sobre o trabalho de azulejaria decorativa de Maria Keil, nas primeiras estações de metro da cidade de Lisboa. Inclui entrevista com a artista.
As Três Maçãs é um delicioso livro infantil sobre um menino, uma menina e três peças de fruta para dividir. Histórias de "amor de mais".






segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Um doce de máquina



Já está a bombar a Máquina de Furos Regina que acaba de chegar à loja do Intendente. Até ao final da semana haverá também uma no Chiado e outra no Porto. O funcionamento é simples, como relembra o Briefing: "Originalmente criada na década de 40, a máquina de furos apresenta uma cartela amovível com 140 furos que liberta bolas coloridas, variando entre sete cores possíveis. Cada cor corresponde a um produto, sendo que o consumidor paga um preço fixo (80 cêntimos) para fazer um furo e tem sempre direito a um chocolate."
"Numa primeira fase, serão lançadas 50 réplicas fiéis das Máquinas de Furos Regina, construídas em madeira, e que estarão disponíveis nas lojas d'A Vida Portuguesa e em estabelecimentos gourmet. (...)

Desde o início da abertura das lojas A Vida Portuguesa, os produtos mais emblemáticos da Regina sempre tiveram presença nestas lojas. A parceria entretanto tem vindo a reforçar-se, como por exemplo, com a recuperação do Chocolate confortável para Turistas (tabletes Regina de 100 gramas de chocolate negro, de leite e com amêndoas) – assim conhecido por ser uma das atrações irresistíveis para os estrangeiros que visitavam a Costa do Sol nos tempos glamorosos das décadas de 30 e 40. 

A Vida Portuguesa também inclui produtos Imperial nas iniciativas em que está presente, como a Bienal de Veneza, por exemplo. Os Chocolates Regina foram selecionados para venda na loja do cacilheiro "Trafaria Praia", pavilhão flutuante da representação de Portugal na bienal de arte de Veneza deste ano. Com a instalação das réplicas das Máquinas de Furos da Regina nos balcões d' A Vida Portuguesa, esta parceria consolida-se ainda mais."

Manuela Tavares de Sousa
CEO da Imperial em entrevista ao Briefing.




"Uma das lojas mais bonitas de Lisboa"


"Not only is this one of Lisbon’s most beautiful shops, it also offers some of the most genuine products in the city. Some of them were near extinction before they once again became must-have items such as the Ach Brito soaps and fragrances. A second, more recent space also offers homeware.

Não é apenas uma das lojas mais bonitas de Lisboa, oferece também alguns dos produtos mais genuínos da cidade. Alguns deles estavam perto da extinção até se tornarem novamente (re)conhecidos, como foi o caso dos sabonetes e perfumes Ach Brito. Um segundo espaço mais recente também oferece produtos para a casa."

LISBONLUX

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

"As andorinhas d’A Vida Portuguesa já voam no Intendente"


No antigo armazém da Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego acaba de abrir a nova loja A Vida Portuguesa, de Catarina Portas. São dois andares, e há novidades: um horto, peças de têxtil-lar, vestuário, banheiras, fogões. E até, para quem quiser, candeeiros de rua e coretos. No tecto, as andorinhas de sempre.
Catarina Portas está sentada junto a uma janela no café O das Joanas, numa das esquinas do Largo do Intendente, ao lado da nova loja de A Vida Portuguesa que acaba de inaugurar. Conversa com a Fugas, enquanto come uma sopa e uma salada, e está constantemente a cumprimentar pessoas que entram no café ou que passam na rua. O largo, que nos últimos tempos se tem vindo a transformar gradualmente – abriram espaços novos, como a Casa Independente ou a Largo Residências, e até o presidente da Câmara, António Costa, se mudou para ali – parece cada vez mais um bairro familiar. 

A própria Catarina deixou a sua casa e esteve, temporariamente, a viver nas Largo Residências enquanto preparava a nova loja: dois andares, no antigo edifício da Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego, coberto a azulejos com figuras de chineses que mostram, em faixas, a data de fundação da fábrica, 1849. À noite ficava a olhar o largo da janela, e de dia descia as escadas e vinha acompanhar as obras de adaptação da loja – que mantém, no essencial, o carácter da antiga fábrica e armazém, nomeadamente a grande variedade de azulejos (não deixem de espreitar o espaço onde estão expostas as peças de ourivesaria da Topásio), aos quais se juntaram móveis recuperados de antigas mercearias e lojas que foram fechando pelo país. 

Mas tão ou mais importante do que a preparação do espaço foi o trabalho prévio, de escolha de marcas e peças para colocar na nova loja (a irmã mais nova, embora maior, da A Vida Portuguesa original, no Chiado, a que veio mais tarde juntar-se a loja do Porto), que tinha a ambição de entrar por novas áreas, como o têxtil-lar e o vestuário.


À descoberta da portugalidade
“Eu e a Patrícia Abrantes, a directora desta loja, que veio da Área e é uma pessoa com quem eu há muito tempo tinha vontade de trabalhar, fomos numa viagem às fábricas”, conta Catarina. “Concentrámo-nos em áreas em que a produção portuguesa é especialmente boa: no têxtil-lar somos dos melhores da Europa, na cerâmica também, na cutelaria somos muito bons. Depois há nichos de mercado, como as banheiras da Recor, em ferro fundido esmaltado, de uma fábrica da zona de Aveiro, que exporta quase toda a sua produção”.

Foi mais uma viagem de descoberta. Se, quando abriu a primeira loja, Catarina fez um aprofundado trabalho de identificação, e em vários casos de recuperação, de marcas antigas, agora descobriu realidades diferentes. Procurou marcas estabelecidas (e, que têm, todas elas, já forte projecção internacional), dialogou com os proprietários, e tentou encontrar as peças que mais se enquadrassem no espírito de A Vida Portuguesa. “A minha intenção era apresentar produtos que dissessem imediatamente ‘eu sou de uma fábrica que tem não sei quantos anos’, que fossem marcas antigas, com história”. 

Encontrou, por exemplo, a CIF (Companhia Industrial de Fundição). “Fica em Gondomar, junto ao Douro. Numa altura em que ainda não havia estrada eles já existiam, e as coisas seguiam pela estrada fluvial para a Ribeira, onde tinham o armazém”, conta. Actualmente, o principal negócio da CIF são os recuperadores de calor, em grande parte para exportação. “Mas eles faziam tradicionalmente uma série de peças como os candeeiros de iluminação pública das cidades, aquelas lanternas lindas que estão nos Aliados [no Porto] são da CIF, os bancos de jardim, os coretos”.


Na loja do Intendente há espaço para expor os fogões a lenha de ferro, as panelas, os tachos, as frigideiras, as chaleiras, as salamandras (“o modelo mais pequeno que temos é o tradicional das salas de aula das escolas do Alentejo”), tudo em ferro, assim como o pequeno escaravelho, que serve para nos ajudar a descalçar as botas. Mas Catarina tem também o catálogo da marca, e, diz com uma gargalhada, vende até coretos.

Para o têxtil-lar, contactou a Lameirinho e a Coelima, que “trabalham para mercados muito exigentes, para grandes marcas, mas que normalmente não aparecem com marca própria”. “O melhor que se faz no mundo nós sabemos fazer”, diz. “A minha dificuldade é ter produto com etiqueta e marca portuguesa porque essa não é a prioridade destas marcas”. Por isso, continua, a próxima aventura de A Vida Portuguesa será “começar a trabalhar de forma mais próxima com algumas fábricas, para criar marcas em conjunto”. 

Entre os clássicos tem ainda as peças de ourivesaria da Topásio, marca do Porto nascida no século XIX e especializada em prata. (“foram aos baús buscar tesourinhos antigos para nós”), a cutelaria da Cutipol e da Ivo, os vidros da Marinha Grande. E os serviços da Vista Alegre, dos quais fez uma escolha. Inclui clássicos e modernos, e ainda, por exemplo, peças como a Colecção Bestiário da artista Bela Silva com tampas-bichos para garrafas.


A importância da manufactura
A viagem pelo país permitiu também a Catarina descobrir outra realidade. “Há um fenómeno interessante a acontecer em Portugal. Há pessoas, entre os 30 e os 40 anos, umas ligadas ao comércio, outras ao design, que andam à procura do que temos de melhor na nossa manufactura e criam marcas a partir daí”. Exemplos são a marca Green Boots, botas artesanais, feitas com sapateiros da zona de Leiria, ou a La Paz, roupa de homem inspirada na vida dos marinheiros, que já exporta para vários países mas que, até agora, não tinha um ponto de venda em Portugal. Ou ainda a Ideal & Co, que faz mochilas em cabedal. “São pequenas marcas, mas são um fenómeno recente e que me parece muito interessante e prometedor”. 

A aposta em produtos que tenham algum grau de manufactura corresponde a uma convicção de Catarina. “Há uma teoria que tenho vindo a defender que é a de que o nosso atraso pode ser o nosso avanço. Por nos termos modernizado e industrializado mais tarde que o resto da Europa, guardámos uma larga experiência de manufactura, que associávamos à pobreza e à miséria durante muito tempo, mas que hoje é uma coisa preciosa em termos europeus, e que não devíamos perder”. O facto de haver marcas novas a aproveitar este saber tradicional “é um sinal de enorme esperança”. Mas, alerta, “há muita gente a morrer sem passar o saber” e há artes, como a latoaria ou a cestaria, que estão a desaparecer.

Na A Vida Portuguesa, as peças distribuem-se pelos dois andares da loja, onde há também uma zona com brinquedos para crianças, e um espaço para livraria. À entrada, debaixo de um tecto coberto de andorinhas de louça que esvoaçam sobre as nossas cabeças, há um horto para quem quiser lançar-se na agricultura doméstica.

O desafio é trazer os estrangeiros até ao Intendente, imaginamos. “Os estrangeiros e os portugueses”, sublinha Catarina Portas, lembrando que, apesar de toda a reabilitação que ali tem acontecido, da visibilidade que o largo conquistou nos últimos tempos, e dos vários projectos que têm vindo a abrir, “o Intendente ainda não é um circuito comercial”. Mas Catarina gosta precisamente de apostar em novos sítios, vê-los a transformar-se e de participar nessa transformação."

Alexandra Prado Coelho
Público, 15 de Outubro de 2013

"A Vida Portuguesa de sempre abre portas num Intendente que se renova"


"É preciso ir atento, quando se atravessa o Largo do Intendente, para reparar na entrada da nova loja de A Vida Portuguesa, a marca criada por Catarina Portas e que já tem lojas no Chiado, em Lisboa, e no Porto. Mas quando olhamos com atenção, vemos que o nome está lá, sobre o portão que dá para o pequeno pátio que conduz até à porta. Não há que enganar: é o pequeno edifício, antigo armazém, e fábrica, da empresa Viúva Lamego, com belíssimos painéis de azulejos como o do chinês de sapatos revirados que segura uma faixa anunciando a histórica fábrica de cerâmica.

No interior, A Vida Portuguesa abre-se a diversas áreas que ainda não explorara: os têxteis, o vestuário, (mais) artigos para casa, as banheiras em ferro fundido esmaltado, os fogões de ferro, e até, para quem quiser, candeeiros de rua e coretos. Catarina Portas contactou novas empresas e marcas portuguesas, da Recor (banheiras) à La Paz (um projecto recente, de roupa para homem), passando pela Topásio (trabalho em prata, de uma marca de prestígio que vem do século XIX). Encontrou projectos como o Green Boots, nascido em 2012, que está a trabalhar com artesãos e a recuperar técnicas que estavam em risco de se perder. E procurou grandes marcas tradicionais, como a Vista Alegre, da qual escolheu alguns dos muitos serviços de louça para apresentar na nova loja.

As peças distribuem-se pelos dois andares da loja, onde há também uma zona com brinquedos para crianças, e um espaço para livraria. À entrada, debaixo de um tecto coberto de andorinhas de louça que esvoaçam sobre as nossas cabeças, há um horto para quem quiser lançar-se na agricultura doméstica.

O desafio é trazer os estrangeiros até ao Intendente, imaginamos - "os estrangeiros e os portugueses", sublinha Catarina Portas, lembrando que, apesar de toda a reabilitação que ali tem acontecido, da visibilidade que o largo conquistou nos últimos tempos, e dos vários projectos que têm vindo a abrir, "o Intendente ainda não é um circuito comercial". Mas Catarina gosta precisamente de apostar em novos sítios, vê-los a transformar-se e a participar nessa transformação."

Alexandra Prado Coelho
Fugas, Público.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

"Uma grande casa portuguesa no Intendente"


"O conceito manteve-se: procurar as marcas com história e herança em Portugal, encontrar outras que valham a pena, mas acima de tudo promover o que é tão nacional como bom - como os sabonetes Ach. Brito, considerados por Oprah Winfrey dos "melhores do mundo". Da saboaria a especiarias, são muitos os cheiros que enchem a nova loja (a terceira) A Vida Portuguesa, de Catarina Portas, que acaba de abrir no Intendente, em Lisboa. 

As conservas não podiam deixar de marcar presença e são muitas as marcas que lá pode encontrar, como a Tricana, a Minor ou a Santa Catarina. Nas bebidas, não falta vinho Moscatel e vinho do Porto, mas a grande novidade surge sob a forma de uma cerveja artesanal nortenha, a Sovina, que pode ser ruiva, loira ou ale (€2,80 ou €6,80 dependendo do tamanho). A loja faz uma espécie de retrato da emigração portuguesa, podendo adquirir desde azeite em "lata de conserva" (partia-se menos nas malas dos emigrantes) ou na tradicional garrafa de vidro (de €3,50 até €12,50), a Farinha 33, chocolates Arcadia (entre €5 e €30) ou os sacos de café da Brasileira (€5,90), produtos caracterísitcos dos cabazes dos emigrantes portugueses. 

A Vida Portuguesa não vive só de produtos alimentares e no Intendente, agora com mais espaço (500 metros quadrados distribuídos por dois andares), decidiu aventurar-se nas loiças, com marcas como a Vista Alegre ou a Bordallo Pinheiro, mas também reaproximar os clientes de utensílios tão característicos como as cataplanas, por exemplo. Não faltam, claro está, cremes Nally, a pasta medicinal Couto, lápis Viarco, cadernos Emílio Braga, botas, roupa, brinquedos de lata e muitos mais produtos do antigamente recuperados para os dias de hoje.

A Vida Portuguesa
Largo do Intendente Pina Manique 23, LisboaTel. 210 997 070
Todos os dias das 11h às 20h

Francisco Teixeira Bastos
Expresso, 12 de Outubro 2013

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A qualidade do que fazemos


"Nós, enquanto povo, sempre tivemos um bocadinho a tendência para achar que a primeira qualidade de um produto não era ser bom ou ser mau, era ser estrangeiro. Isso já se encontra até em alguns escritores do século XIX e, por exemplo, há um fenómeno muito curioso que é as duas grandes saboarias portuguesas, a Ach Brito e a Confiança, que, nos primeiros anos 20 anos da sua vida, vendiam sabonetes feitos em Portugal mas inteiramente rotulados em francês. Pois como era um produto de luxo, tinha que ser francês, senão não se vendia.

Mas acho que isso está a mudar. E tem mudado por várias razões. Uma delas é a crise, que não traz só coisas más, as pessoas foram obrigadas a confrontar-se um pouco com a realidade económica e, de repente, também perceberam que quando estão a comprar português estão a assegurar empregos de pessoas que vivem na mesma comunidade."

No programa 5 PARA A MEIA NOITE, Catarina Portas explicou como se perdeu uma modista de chapéus para se ganhar primeiro uma jornalista e depois a empresária por trás d' A Vida Portuguesa. O programa, na íntegra, aqui.


sábado, 5 de outubro de 2013

O futuro do passado


"Se a valorização das boas marcas portuguesas de antigamente se tornou coisa de tendência, Catarina Portas não está de todo isenta de "culpa". Projetos como as lojas A Vida Portuguesa ou os Quiosques de Refresco vieram dar o merecido protagonismo a muito do que Portugal vem fazendo bem há largos anos. O que faz da jornalista a pessoa certa para falar sobre coisas vintage - desde que a palavra "vintage", propriamente dita, não venha à conversa.

Afinal, o que é isto do vintage?
Tenho uma certa intolerância ao termo "vintage", acho que é usado abusivamente. Vintage é o vinho em anos especiais. Tudo bem que se alargue a outras noções, agora de repente "tudo o que é velho é vintage" já me parece um barco demasiado grande. É um termo demasiado genérico e nunca chamei vintage àquilo que fazia.

Então é o quê: antigo, clássico, velho?
Acho que me dou melhor com o clássico. A ideia inicial foi ir buscar marcas com história, queria que as pessoas compreendessem que eram marcas antigas no mercado com produtos que já existiam.

Produtos com memória?
Sim. Uma fábrica como a Ach Brito faz muita coisa diferente, com ar mais atual, mas na altura fui buscar coisas intemporais, como a Lavanda. para alguns será uma questão de memória, mas outros descobrem-na agora. O Restaurador Olex não estava à venda na loja. Mas, de facto, tive que introduzi-lo porque as pessoas não paravam de pedir.

Esses eram também produtos da sua infância?
Nem por isso. Alguns sim, outros não. Tive uma infãncia muito estrangeirada e isso também ajudou quando fui à procura - tinha açguma distância em relação a eles. E muitos eram apenas de distribuição regional.

Os fornecedores ficaram surpresos quando os contactou para iniciar o projecto A Vida Portuguesa?
Não. tem graça, diz-se que fiz que as fábricas voltassem a produzir. Eu não fiz nada, as coisas já existiam, as pessoas tinham deixado de as encontrar porque a distribuição também se alterou muito ao longo dos últimos trinta anos. Lidamos com empresas muito variadas, do pequeno artesão até uma unidade de produção com centenas de trabalhadores.

Que surpresas guardou para a nova loja A Vida Portuguesa do Largo do Intendente, em Lisboa?
É um prolongamento natural do projecto. Aquilo que fizemos em relação às marcas pequenas de uso doméstico queremos fazer agora em relação à área de casa. Não vamos vender móveis, mas pratos, talheres, copos, roupa, sapatos, banheiras, além da secção de mercearia, que vai ser muito maior e incluir vinho.

A localização da loja é fundamental?
É, leva muito tempo. A do Chiado levou nove meses, a do Porto foi ano e meio e a decisão da do Intendente foi também longa. É um desafio abrir uma loja de quinhentos metros quadrados no intendente, que não é propriamente uma zona comercial, é colocar a fasquia um pouco alta. mas se não for isso, o que andamos aqui a fazer? Há muitas coisas novas a surgir por ali. O sítio para onde nós vamos é lindo. Em junho do ano passado fui ver o espaço e fiquei absolutamente apaixonada. Tive a certeza de que ali se faria uma belíssima loja.

Tem a noção de que, quando abre uma loja ou um quiosque, essa zona da cidade fica na moda?
Bem, tem acontecido. Acho que ajudamos porque a minha ideia sempre foi provar que era possível abrir lojas nos centros históricos e não era preciso demolir tudo e fazer uma caixa de sapatos branca com focos embutidos para ter sucesso. É possível preservar os espaços comerciais históricos, é uma actividade quase pedagógica. É muito mais fácil destruir do que preservar. Não quero armar-me em educadora do povo, mas esse desejo de dar o exemplo de que é possível pode contribuir para o sucesso - isso aconteceu na loja do Chiado.

Muita gente seguiu os seus passos, após o êxito d' A Vida Portuguesa.
Tem a ver com vários fatores, mas sim, há muitas inspirações, por vezes mais do que isso. As lojas para turistas vendiam Nossas Senhoras de Fátima e Galos de Barcelos, agora vendem sabonetes e conservas, não é? (risos) O facto de o turismo ter aumentado contribuiu para que surgissem mais lojas e houve inspirações de norte a sul, mas não é nada que me incomode demasiado, porque o que essas lojas fazem é encomendar às fábricas que eu quero que continuem a fabricar. O meu projeto inicial tinha que ver com isso, assegurar o futuro. E depois, nenhuma loja é igual à nossa. Temos um grande e longo trabalho de pesquisa. E parcerias muito fortes com as fábricas."

Entrevista de Ricardo Santos
Fotografia de Fernando Marques
Revista Evasões Outubro 2013

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Quinhentos metros quadrados de casa



Na nova loja A Vida Portuguesa, no Largo do Intendente, em Lisboa, até há espaço para vender fogões de cozinha a lenha. Por Rosa Ruela texto e Marcos Borga fotos. Revista Visão, 3 de Outubro de 2013.

Com as suas paredes aqui e e ali cobertas de azulejos desirmanados, alguns saídos da imaginação de Almada Negreiros, os antigos armazéns da Fábrica Viúva Lamego já valiam uma visita, antes de Catarina Portas ali instalar a sua terceira loja. Mas, se é verdade que existem espíritos do lugar, como acredita a dona d' A Vida Portuguesa, o genius loci que mora nestes 500 metros quadrados recebeu bem as centenas de caixotes que, nos últimos dias, chegaram ao número 23 do Largo do Intendente.
Lá de dentro, viu saírem os sabonetes da Ach. Brito/Claus Porto e da saboaria Confiança, mais os cremes Nally e a pasta medicinal Couto, os lápis Viarco e os cadernos Emílio Braga, os brinquedos de lata, os pacotes de Farinha 33 e as faianças Bordallo Pinheiro. O rol completo não caberia aqui, mas cabe bem nos dois andares da nova loja e ainda sobra espaço para muitas novidades.
Ao fim de quase nove anos a recuperar do esquecimento nacional pequenos produtos, Catarina Portas fala numa evolução "natural e lógica" quando fala da sua nova "loja de casa". Agora, além de ter aumentado a mercearia e reservado várias prateleiras para vinhos, vende banheiras com pés, deliciosamente românticas, e fogões de cozinha a lenha, de ferro fundido, fabricados pela Companhia Industrial de Fundição (uma empresa criada em 1895). Mas há mais. Logo na entrada, num pequeno horto com ervas aromáticas, estão bancos de jardim e fontanários. E, no segundo andar, pode-se comprar roupa da Coelima para a casa e roupa de homem La Paz, uma marca retro do Porto.
Servem estas linhas apensa para abrir o apetite para um espaço recuperado delicadamente pelo arquiteto João Regal, sócio de Catarina Portas nos Quiosques de Refresco. E para deixar escrito que é obrigatório espreitar a "saleta ouro", e repetir as visitas, porque a loja vai continuar a encher até ao Natal.

A VIDA PORTUGUESA
Lg. do Intendente, 23, Lisboa
Tel. 21 197 4512
Seg-dom, 11h-20h

Também
... em Lisboa
R. Anchieta, 11 T. 21 346 5073
... no Porto
R. galeria de Paris, 20-1º
T. 22 202 2105
... e online
loja.avidaportuguesa.com/pt

"Comprar é um ato político"


"No Largo do Intendente, em Lisboa, a ex-jornalista abre esta semana a terceira loja A Vida Portuguesa, mais uma frente de batalha pela produção nacional. Por Rosa Ruela texto e Marcos Borga fotos. Revista Visão, 3 de Outubro de 2013.

A conversa, no pátio interior da Casa Independente, vizinha de mais uma loja A Vida Portuguesa, que vende produtos genuinamente nacionais, havia de ser acompanhada por um delicioso hummus, um prato do Médio Oriente. Catartina Portas bate-se pelo feito em Portugal mas não é fundamentalista, nem à mesa. "A diferença é valiosa", dirá, quando questionada sobre os irmãos, Miguel e Paulo, ao fim de quase duas horas de gravador. Duas horas em que começou por defender o "comércio delicado" e acabou a falar da morte.

No início de agosto, arrendou um quarto, no Largo do Intendente. Foi só para ficar perto da nova loja?
Além da questão prática, queria conhecer a Mouraria e só se conhece um bairro quando se adormece e acorda nele.

E que tal?
Estou a adorar, vai custar-me muito voltar para a Lapa (risos). Desde que (o presidente da Câmara de Lisboa) António Costa decidiu que uma das prioridades do seu mandato era transformar esta zona, que estava sequestrada pelo tráfico e pela prostituição, ela mudou brutalmente. E ainda vai mudar mais. Espero que não mude ao ponto de ficar irreconhecível, mas que mude o suficiente para o bairro ser bom para todos.

O que a atraiu na Mouraria?
No início, era a imprevisibilidade. Em qualquer outro bairro de Lisboa, sei o tipo de gente e de lojas que vou encontrar, as conversas que vou ouvir na rua. Aqui, não. Nos primeiros tempos, punha-me à janela e ficava uma ou duas horas a ver o bairro a acontecer. E acontecem coisas fascinantes, porque é um bairro extremamente cosmopolita. No outro dia, estava a olhar par auma dúzia de pessoas e, só à distância, podia dizer que havia, pelo menos, oito nacionalidades diferente. Tudo residentes.

Os turistas, se calhar, ainda ficam pelo Martim Moniz.
Deviam cá vir porque há muitos projetos interessantes, como o Lar de Residências, o Café das Joanas, a Casa Independente ou a Cozinha Popular da Mouraria. São de pessoas que se têm aproximado do bairro de uma forma correta, porque há sempre o perigo de os novos expulsarem os velhos. penso que as pessoas que começaram uma nova vida no Bairro Alto, nos anos 80, sentiram qualquer coisa parecida com o que se está a passar aqui.

Foi por isso que decidiu abrir aqui uma nova loja?
Soube, de uma forma curiosa, que os antigos armazéns da Viúva Lamego estavam para arrendar: na inauguração da exposição da Joana Vasconcelos, em Versalhes, António Costa perguntou-me se queria arrendar uma loja no Intendente. Andei a pensar na vida, um pouco aflita porque a altura não é a mlehor para abrir uma loja de 500 metros quadrados num sítio como o Intendente... Pensei muito no investimento, não queria endividar-me demasiado.

Vir para aqui é um risco?
É um risco calculado, mas também há alguma loucura. Até hoje, tive cuidado. Comecei o negócio com mil euros, fui reinvestindo o que ganhei, e é assim que temos crescido.

Defende que, cada vez que vamos às comoras, podemos mudar o mundo. Acredita mesmo nisso?
No comércio, há uma dimensão cultural e uma dimensão política. Quando comecei a ir às fábricas e a conhecer as pessoas que fazem as coisas, os seus problemas, as suas histórias, percebi muita coisa. E apeteceu-me intervir. O facto de termos um comércio cada vez mais igual e massificado, gerido por entidades cada vez maiores e mais poderosas, desequilibra a relação de forças entre os intervenientes. Quando votamos, escolhemos como queremos ser governados, quando vamos às compras, escolhemos a quem damos o nosso dinheiro. Podemos dá-lo a uma empresa que cumpre as regras ou a uma empresa que não cumpre as regras. Determinamos, dessa forma, o mundo em que queremos viver, com mais ou menos direitos dos trabalhadores, por exemplo. Consumir é um ato político.

A crise veio ajudar?
A crise acordou-nos um bocadinho para isso, mas também faz com que muita gente tenha a tendência de escolher o produto mais barato. Só que há um barato que sai muito caro. Quando escolhemos dar menos cinco cêntimos por um litro de leite de uma marca da distribuição, não sabemos de onde vem. Provavelmente, não foi comprado em Portugal. Mas, se começo a comprar leite que não é português, posso estar a atirar para o desemprego os produtores portugueses e, a seguir, dos meus impostos vai sair o seu subsídio de desemprego. Será que poupei dinheiro?

Já a ouvi falar em "comércio delicado". Quer explicar?
O termo não é meu, é do francisco Palma Dias (que aplica essa ideia ao seu conceito de turismo, em castro marim). É um comércio que respeita os vários intervenientes na cadeia e respeita os consumidores, dando-lhes informação sobre aquilo que estão a comprar. O lucro não é a única motivação e pode ajudar-nos a termos cidades melhores e vidas melhores. As coisas nunca serão perfeitas, mas é nosso dever tentar que sejam mais justas. Se não, o que andamos aqui a fazer?

A manufatura entra nessa equação?
Sempre tive muito respeito pelo trabalho das mãos, e uma das coisas de que me apercebi ao visitar estas fábricas foi que ainda há um grande saber fazer. O facto de nos termos modernizado mais tarde faz com que ainda tenhamos isso. E esse saber fazer deve ser acarinhado, ferozmente salvaguardado. É importante as pessoas perceberem que a manufatura é uma riqueza nos dias de hoje. O nosso atraso pode ser o nosso avanço. E com as novas tecnologias, mesmo estes pequenos negócios poderão chegar a todo o mundo. Muitas vezes, basta fazer um trabalho de pesquisa para ver o que ainda existe e juntar tudo no mesmo sítio. O conceito é adaptável a qualquer país. Aliás, já temos uma cópia espanhola.

A Vida Portuguesa é uma missão?
Tem sido a maior aventura da minha vida. Começou com uma missão quase impossível, que era os portugueses gostarem dos seus próprios produtos, e hoje continua a crescer, a empregar mais gente e a dar mais visibilidade às marcas. Há uma coisa muito boa que me faz dormir bem todas as noites: aquele balcão é uma frente de batalha da produção portuguesa. Quando estou a vender um produto, sei quem foram as pessoas que o fizeram e sei que a vida delas fica melhor por eu vender aquele sabonete ou aquela vassoura. Sei que contribuí para a vida de muitas outras pessoas.

Já andava a pensar em abrir mais uma loja em Lisboa?
Depois de valorizar os pequenos produtos, a evolução para a área de casa pareceu-me natural e lógica. Queria, há muito tempo, alargar o espaço do Chiado, mas o metro quadrado ali é proibitivo para lojas independentes. E não é uma especificidade de Lisboa. Como as multinacionais entraram no retalho obsessivo, as cidades, agora, parecem corredores de aeroporto.

O seu pai (o arquiteto Nuno Portas) antecipa que, no futuro, os centros das cidades vão ser só hotéis, uma coisa monótona.
No ano passado, fechou a Nova Açoriana, uma mercearia muito antiga (na Rua da Prata), porque o prédio foi comprado para fazerem um hostel. Tinham uma outra entrada no rés do chão mas desalojaram a mercearia. É aquilo a que chamo matar a galinha dos ovos de ouro. O setor da hotelaria não percebe que este comércio característico e charmoso atrai as pessoas? Costumo dar um exemplo fácil de entender: metade das reportagens sobre Lisboa publicadas na imprensa internacional traz uma fotografia da Luvaria Ulisses; nunca lá vi uma fotografia da H&M, que tem 2 mil metros quadrados e está do outro lado da Rua do Carmo.

Isto não acontece só em Lisboa, infelizmente.
É um problema de muitas cidades do mundo. As marcas tornaram-se globais e vão ocupando o comércio que existia, mais original e diversificado. Há uma situação semelhante em Paris, a das livrarias à volta da Sord+bonne porque, de repente, chegaram as marcas de roupa e começaram a apagar mai. A câmara, então, decidiu ir comprando esses espaços e subalugá-los aos livreiros, a preços bonificados. Portanto, há soluções. Não são fáceis, mas encontrá-las é um dos grandes desafios de quem gere uma cidade com passado.

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Desta vez, andou pelo País à procura de móveis para a loja, não foi?
Temos grandes armários que vieram das salas de arquivo de uma fábrica de Tomar, móveis que eram de uma loja de aprestos para barcos, em Setúbal, e uma mercearia inteira de Braga - os armários, o balcão, até a faca do bacalhau! Combinei com o sr. José Braga que ele viria na abertura, ver a segunda vida da sua mercearia. Pusemos anúncios no nosso Facebook, tivemos muitas respostas de vários pontos do País e aconteceu uma coisa curiosíssima: recebemos mensagens de pessoas a dizer-nos: "Na minha cidade, há uma mercearia e uma farmácia fechadas, porque não abrem aqui uma loja?" As pessoas não querem que esses espaços desapareçam... (...)"