quarta-feira, 29 de abril de 2015

Provenance by Monocle

“To highlight the importance of provenance, Gillian Dobias visited Monocle Quality of Life Conference panelists David Hieatt in Wales, Catarina Portas in Lisbon and Kamal Mouzawak in Beirut – three inspiring role models for cities wanting to make the most of their heritage and create jobs.” Monocle

The importance of place

Lisbon based Catarina Portas is proof, if ever proof was needed, in the social and economic value of heritage. A former journalist, she was passionate about the naive vintage packaging of Portuguese products still in production and she travelled the country in search of small producers handed down through generations. In May 2007 she opened A Vida Portuguesa to highlight the unique qualities of Portuguese manufacturers and to showcase Portugal in a surprising light.

“When we opened the first shop in the beginning people would come in and stat looking around and asking “is this a shop or is this a museum? But for me, A Vida Portuguesa is not about nostalgia at all, it’s about identity, which is quite different.”

Living through political and economic turmoil, the Portuguese had fallen out of love with Made in Portugal. A Vida Portuguesa is helping to rekindle not just manufacturing but also a contagious sense of pride.

“Perhaps all the things that happened late in Portugal can be an advantage. Because we kept manufacture. And nowadays, in Europe, they don’t know how to produce things, they know how to import things, how to brand things, they don’t know how to make them. I love factories. I really love the alchemy between the story and the know-how, ho to do the product. I really admire the people behind these factories, the people that, generation after generation, kept these factories working, alive, producing, giving jobs to the community. To me, they are really valiant people.”
Words: Gillian Dobias. 
Image: Ceara McEvoy.
For Monocle

A alquimia entre história e saber fazer

Nos bastidores da Ach. Brito com a Monocle

terça-feira, 28 de abril de 2015

A alindar tapumes no Chiado

Especialmente a pensar naqueles que se afastam quando vêem o cenário de obras ao fundo da rua, lembrámo-nos de decorar a nossa fachada da Rua Anchieta. E convidámos para chamarizes os vendedores ambulantes de outros tempos, que forneciam tudo e mais alguma coisa necessária à cidade, que percorriam a pé, incansavelmente. É a nossa forma de homenagear estas personagens históricas, que tanto faziam pelo colorido e pela musicalidade de Lisboa.
E sim, a loja do Chiado está aberta, todos os dias
Das 10h00 às 20h00 de segunda a sábado
E das 11h00 às 20h00 aos domingos
Antigos, genuínos e deliciosos produtos de criação portuguesa

Lisboa ambulante


"No início do século XX, os vendedores ambulantes pululam nas ruas da capital, pregoando quase tudo o que é necessário ao quotidiano doméstico: água, leite, peixe, fruta, vegetais, enchidos, azeite, petróleo, carvão, camisas, sapatos, facas, vasos, cadeiras ou “abat-jours”.
As favas vendem-se já cozinhadas em caldo (“fava-rica”), o amolador também conserta chapéus-de-chuva, os garotos mercam palitos e meninas fazem flores para os chapéus. Alguns ficarão célebres, como o gorjeio dos rapazes dos jornais: “Século-Nooootícias!”.
Ou o grito mais repetido pelas ruas, o das varinas: «Viva da Costa!» Apesar do folclore alusivo e dos poemas que as louvaminham, as peixeiras da capital vivem realidade muito menos poética, passando a madrugada no cais a descarregar carvão e depois o dia a pregoar pelas ruas todo o peixe que se come às mesas de Lisboa. À noite, de regresso a casa, embalam os filhos nas mesmas canastas, sempre com o cheiro intenso do peixe."

Marina Tavares Dias in Lisboa Desaparecida

segunda-feira, 27 de abril de 2015

"Lisboa é imperfeita. Que bom!"

Criou a revista “Wallpaper”, em 1996, considerada a bíblia do design e arquitetura. Voltou a reinventar-se em 2007 com uma marca de media inovadora, a “Monocle”, que passou a ditar tendências globais. Estatuto, qualidade de vida, reinvenção do luxo e das regras do mercado fazem dela uma revista e uma cultura globalmente cobiçada. Tyler Brûlé é a “Monocle”. E todos querem ver o mundo pelo seu monóculo.

“O que é a qualidade de vida nos moldes contemporâneos? O que faz com que uma cidade, uma rua, um museu, um escritório, ou mesmo uma revista sejam considerados dos melhores do mundo? Tyler Brûlé, diretor da revista “Monocle”, escolheu Lisboa para juntar uma série de agentes internacionais com ideias sobre o que uma cidade do futuro deve ser. Designers, arquitetos, empresários, comunicadores, diretores criativos de vários países vieram ajudar a definir o mundo que a “Monocle” imagina e aplaude. Um encontro de elite na primeira conferência “Qualidade de Vida” que a marca organizou no sábado passado, em Lisboa, no Hotel Ritz, para uma audiência internacional de 165 pessoas que pagaram a entrada a peso de ouro. A “Monocle”, uma revista de tendências que publica dez edições anuais, tem vindo a agigantar-se nos oito anos da sua existência. Não é só uma publicação com um design sofisticado e matérias que dão conta do que melhor se passa em Minneapolis, Tóquio, Lisboa ou Sydney - é também uma forte marca de media, com roupas e acessórios, lojas, cafés, livros e até uma rádio, a Monocle 24. No universo das cidades de todo o mundo, quer ser um barómetro e um aferidor do que é cool, inspirador, genuíno… Para isso faz anualmente o ranking “Monocle” das 25 melhores cidades do planeta. E ninguém quer ficar de fora. Lisboa não ficou, no ano passado alcançou o 22º lugar. (…)

Nos últimos anos, a “Monocle” tem dado grande destaque a Portugal, particularmente a Lisboa. A tal ponto que escolheram fazer esta vossa primeira conferência “Quality of Life” na nossa capital. Porquê?
Observamos um grande número de coisas em Lisboa que corresponde à “Monocle”. Por um lado, é uma cidade que oferece oportunidades. As rendas são baixas, o que permite a uma pessoa aventurar-se num negócio que não seria possível, por exemplo, em Paris, Londres ou Munique, economias muito mais desenvolvidas. Este é um ponto a favor de Lisboa. Por outro lado, é uma cidade imperfeita, que bom! Não é como Genebra ou Zurique, onde tudo é perfeitinho.

Quer dizer que ainda há muito que pode ser feito para melhorar?
Sim. E o mais importante é que não se deve renovar ao ponto de tudo ficar parecido com a Disneylândia. É preciso que continue a crescer erva entre a calçada portuguesa. Isso é importante porque revela personalidade, de outra forma é como se a cidade tivesse excesso de botox. Se as cidades sofrerem demasiada cirurgia plástica começam a ficar com uma personalidade diferente, perde-se a autenticidade. A razão pela qual Lisboa é assim é porque não há toneladas de dinheiro, nem tudo pode ser renovado, não se podem contratar os melhores arquitetos, o que é bom! Jantei há duas noites no Gambrinus, que é um restaurante brilhante… simplesmente porque não muda. (…)

Quer com isso dizer que parte do nosso encanto e salvação é não termos tido muito dinheiro para investir na cidade? É por isso que ainda se encontram muitas coisas originais?
Sim, e não só. Lisboa e Portugal têm um ponto de partida de grande qualidade. É um local incrível, com um império no passado, uma história extraordinária, uma arquitetura admirável de muitos períodos diferentes. Há exemplos tão bons dos anos 60 e 70 como do final do século XVIII. A cidade está cheia de textura, não se limita à arquitetura do final do século XIX, há também um formidável sentido de modernismo. (…)

“Catarina Portas tem tido presença frequente na “Monocle”. Nesta conferência foi uma das duas únicas personalidades portuguesas convidadas a falar entre muitas figuras internacionais. (A outra foi Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto) Porquê sempre essa escolha? Catarina é Portugal para vocês?
Para nós, ela é uma representação positiva do que está a acontecer em Portugal. Alguém que é capaz de ser curador, pesquisar, filtrar e juntar os artesão e produtores que valem a pena. Para um público internacional é fácil de perceber que ela tem capacidade de estimular negócios, de criar um certo nível de orgulho nas coisas que são fabricadas em Portugal. Não é só ela. Seja a Catarina ou o Kamal Mouzawak (ativista alimentar libanês que participou na conferência), há muitas versões de pessoas assim pelo mundo com um exemplo muito bom e positivo.

A “Monocle” está de olhos em Portugal há anos, tem correspondentes e consultores a estudar a nossa realidade. Até agora não encontraram outras personalidades com projectos tão interessantes como o dela?
A Catarina é muito boa… Claro que há outras marcas individuais e companhias portuguesas interessantes. Por exemplo, há uma empresa no norte de Portugal, não no Porto, mas na zona do Porto, com quem poderemos vir a fazer um trabalho. E estamos em contacto e diálogo com muitos outros. (…)

Considera que o projecto de Catarina Portas de revitalizar a produção tradicional tem permitido um certo desenvolvimento de Portugal?
Ela consegue fazer os seus próprios projectos resultar e abrir ao mesmo tempo possibilidades para outras pessoas fazerem o mesmo. Mas ela é apenas uma. Provavelmente, teria de haver mais esforços concertados para que a sua mensagem crescesse. Portugal tem uma incrível base de manufatura. Não percebo porque é que não há uma H&M ou uma Zara portuguesa. É de loucos! Vocês estão a produzir todos os tipos de roupa para muitos países, mas nenhuma marca portuguesa emergiu à escala global como a GAP. Isso seria muito bom para o comércio nacional. Há pessoas que sabem que em Portugal há qualidade na manufatura e nos materiais. Acontece que as empresas ocidentais ainda escondem que as suas roupas são made in Portugal porque querem fingir que são feitas em itália ou na Suíça. (…)

Criticou a campanha do Turismo de Portugal, em 2007, “Portugal, the west coast of Europe”. Afirmou que mar e sol não deveriam ser os cartões de visita do país. Qual deveria ser então o nosso cartão de visita?
O orgulho da manufatura. A história legítima do país, uma história que contribui para que o mundo esteja onde está hoje. Isto é vital para Portugal numa altura em que temos de ter em consideração a distância que as camisolas viajam até que as usemos. É preciso ter consciência de que elas podem vir de uma fábrica no Bangladesh de onde os operários nem saem para dormir. Uma parte do cartão de visita de Portugal é o país pertencer à União Europeia, os operários terem salários, pensões e assistência médica. Tudo isto faz parte da mensagem. Isso é caro? Que seja! É esta a minha visão: obtém-se aquilo que se paga. Se o produto custa mais três euros para que o que defendo seja cumprido, fantástico!"

Tyler Brûlé em entrevista ao jornal Expresso
por Bernardo Mendonça e Cristina Peres

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Tentação irresistível

A nossa loja da Rua Galeria de Paris (20, primeiro andar) no Guia Definitivo do Porto para os hedonistas espanhóis: "Y como en esta plaza no pueden faltar las marcas más emblemáticas de Portugal, aquí encontramos también la tienda A Vida Portuguesa, la que ha rescatado del olvido a tantos productos tradicionales de Portugal. El antiguo almacén de textiles donde se encuentra merece por sí solo una visita. No podemos resistir la tentación y salimos de aquí con varios regalos: unas latitas de sardinas artesanales Minerva y unos jabones Ach Brito." Maribel Vives, El Hedonista

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Abril em sabonete

“O que me fascinou desde o início foi a possibilidade de contar a história dos produtos e com isso um bocadinho a história da vida quotidiana de Portugal e de quem os faz. As embalagens são bonitas, mas é muito mais que isso. É saber, por exemplo, que a fábrica Confiança, fundada no final do século XIX em Braga, tanto fez um sabonete a celebrar a exposição do Mundo português como o da Grândola Vila Morena. No fundo, é a história do país contada da perspectiva do consumo." 

Catarina Portas ao jornal i

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Aniki-Bóbó explicado aos franceses

“Uma das mais belas longas metragens sobre a inocência dos jovens” pelas edições Changeigne. Que reúne pela primeira vez argumento, fotografias de rodagem, lembranças do realizador Manoel de Oliveira e o próprio filme. Um monumento disponível n’ A Vida Portuguesa.
"En 1942, Manoel de Oliveira réalise sa première oeuvre de fiction, Aniki-Bóbó, sur le quotidien d’une bande d’enfants des quartiers populaires de Porto.
Carlitos, timide et sensible, est amoureux de la jolie Teresinha qui n’a d’yeux que pour le railleur et voyou Eduardito. Par amour, il vole alors une poupée et décide de tenir tête à son rival. Jusqu’au drame qui bouleversera l’harmonie du groupe d’amis... Ce long-métrage, à la croisée de La guerre des boutons et de L’argent de poche de François Truffaut, réunissant en lui la candeur des films de Charlie Chaplin et la gouaille de Mark Twain, est certainement un des plus beaux longs-métrages sur l’innocence de la jeunesse.
Pour la première fois en France, ce livre, réunissant le conte, le scénario, les photographies du tournage, les souvenirs du réalisateur ainsi que le DVD du film, propose aux petits et grands amateurs de cinéma de voir ou revoir avec un oeil nouveau l’un des films les plus émouvants consacrés à l’enfance."

A "Loja das Tentações" de Aniki-Bóbó

Pião na mão

Remontando à antiguidade, o pião é um jogo infantil antiquíssimo em Portugal. A peça bojuda de madeira deve ser envolvida com um baraço (o cordão) e atirada ao chão, ficando a rodar e a bailar pela maior duração de tempo possível. Os piões escolhidos por A Vida Portuguesa são fabricados artesanalmente na região de Barcelos, no Norte de Portugal. E não diferem muito deste, usado no filme de 1942 de Manoel de Oliveira, “Aniki-Bóbó”.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Preservar o que é diferente e autêntico


Quando estão demasiado à nossa frente, podemos deixar de ver as coisas incríveis que temos: Lisboa é uma cidade genuína, autêntica, que tem imensa personalidade, imenso carácter, que está no índice das cidades com a melhor qualidade de vida da revista Monocle. Os estrangeiros também nos têm ensinado a gostar das nossas próprias coisas. (…)
Quando nos procuram, os estrangeiros também procuram referências identitárias daquilo que nós somos. O turismo pode dar-nos uma oportunidade incrível de preservar a nossa diferença. Porque os turistas procuram isso, procuram aquilo que não têm, o que é diferente daquilo que conhecem, é uma oportunidade de ouro.
Eu fiz a loja para portugueses mas hoje em dia, e porque o turismo tem estado a aumentar, os turistas tornaram-se grandes clientes. E depois há sempre uma história por trás de cada produto e é isso que me apaixona, conhecer as fábricas, porque é possível contar a história de um país também pelos objectos de consumo, pelos produtos que as pessoas escolhem. E isso dá-nos informações relevantes sobre quem nós somos. E o que fazemos.”

Catarina Portas em entrevista ao programa In&Out da RTP.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

A qualidade devida às cidades do futuro

Este fim-de-semana, chegaram ao Ritz lisboeta conferencistas de todo o mundo (do México ao Japão, de Oslo a Beirute) que ouviram falar da preciosa manufactura portuguesa. E, estando em presença de marcas como a Ideal&Co, a Serrote, a Dr. Bayard e a Lona, é mais fácil perceber que a "Qualidade de Vida" também passa muito pela qualidade devida - aos produtos de todos os dias e de uma vida inteira.

O luxo da autenticidades

"Luxo pode ser ter dinheiro para jóias ou grandes marcas. Mas também pode ser ter tempo. Um estilo de vida humanizado. Um ambiente onde se respira autenticidade. Estabelecer uma relação afectiva com o que se consome. Acreditar na memória como forma de projectar o futuro. E privilegiar as ligações tangíveis ou as relações de proximidade. 

“A nova definição de luxo não é grandes marcas, semelhantes em todo o lado, mas a autenticidade, a história, a memória, porque é isso que atrai as pessoas às cidades”, arriscou o director da Monocle, Tyler Brûle, este sábado, em Lisboa, na primeira conferência internacional desta revista de tendências.
O ideal contemporâneo de qualidade de vida, de lazer, de consumo cultural ou de sociabilização que emite a influente revista britânica de impacto global passa por aí. Não surpreende, por isso, que para a conferência (The Monocle Quality Of Life) tenha escolhido um painel que revelou personalidades, projectos e práticas de todo o mundo, que acabam por atribuir sentido a essas propriedades.
Também não espantou a escolha de Lisboa. Por um lado, é a 9ª cidade do mundo onde a revista tem mais leitores e, por outro, a conferência, que aconteceu no hotel Ritz, teve o apoio da Secretaria de Estado do Turismo.
Para além de jornalistas, estiveram presentes mais de 150 delegados, dos EUA, Japão, Austrália e Europa, entre empresários, políticos, designers ou arquitectos, a maioria representando empresas ou instituições que para fazerem parte da experiência Monocle, durante três dias, desembolsaram 1.500 euros. “É muito? Depende da perspectiva”, diz-nos o búlgaro Ivan Koleliev, manager numa empresa global de consultoria, sediada no Canadá, ligada a projectos científicos. “Não é apenas o conhecimento, é também a interacção ou as novas cooperações, ou seja, isto é também um investimento.”
Durante a manhã de sábado, nos diferentes painéis, os desafios do digital estiveram em evidência. Quando se discutiram os meios de comunicação, por exemplo. O jornalista holandês Hans Nijenhuis, do grupo de média NRC, defendeu a proximidade com os leitores, dizendo não perceber a tendência para as redacções se afastarem dos centros das cidades.
“Os jornalistas têm de estar no meio das pessoas”, disse, exemplificando que o NRC tem o seu refeitório aberto ao público, possibilitando a interacção com os jornalistas, e realiza regularmente no seu espaço encontros, palestras e debates.
No núcleo da maior parte das intervenções esteve a noção de “marca”, essa ideia de que é possível uma publicação estar agregada a produtos ou acontecimentos se tiver qualidade e credibilidade. “Um bom exemplo é este evento, o futuro passa por aqui, pelas experiências”, atirou o americano Andrew Keen, que acabou de editar o livro The Internet Is Not The Answer, lembrando a história de sucesso da Monocle que, para além de revista, é também estação de rádio, cafés, lojas, dois jornais semestrais, livros e agora também uma conferência.  
O tipógrafo e designer alemão Erik Spiekermann também defendeu que as publicações têm de se reinventar fora do digital, dizendo que o modelo de negócio gratuito não funciona. “A Internet é infinita, o que é fantástico, mas as pessoas precisam de coisas que têm fim. Os jornais são isso. É preciso seleccionar”, concordou Hans Nijenhuis.
“Se dermos às pessoas apenas o que elas querem, sem irmos mais além, fazendo um jornalismo de contabilização de cliques da Internet, qualquer dia só publicamos vídeos de gatos”, ironizou Andrew Keen, comparando o regresso do vinil – no campo da música – à reacção que prevê virá a acontecer com os jornais.
“Irá haver uma reacção dos nativos digitais”, disse, acrescentando que é errado achar que os jovens não lêem artigos longos. “Todos queremos qualidade e boas histórias, de preferência inclusivas, onde nos possamos rever, para além da questão das idades”, concluiu Dorthe Riis, da TV dinamarquesa.
Os mesmos conceitos estiveram na base do painel seguinte, onde o ponto de partida era: “Como construir a casa perfeita”, em cidades que se querem inclusivas e dinâmicas. O arquitecto brasileiro Isay Weinfeld disse que tudo passa “por ouvir o cliente e respeitá-lo”, enquanto a designer e directora criativa inglesa Ilse Crawford, conhecida por criar “espaços públicos onde as pessoas se sentem em casa”, defendeu que as habitações têm de ser pensadas realmente para serem vividas.
“Qualidade de vida é escala humana, densidade, maximizar de forma integrada pequenos espaços e olhar os problemas de forma humana, em conjunto com os clientes, criando infra-estruturas inteiras, mas que guardem espaço para a mudança”, defendeu o arquitecto de São Paulo, alegando que a ideia futurista de “casa inteligente” já faz parte do presente, mas não é isso que é decisivo. “O digital está lá, faz parte da casa, mas a sua concepção não deve estar subordinada a esse facto.”
O sueco Oscar Engelbert, que constrói e vende habitações, argumentou que, para além da qualidade, o que acaba por criar mais-valia e apetência no comprador é a memória do edifício.
Como num museu. “Porque é que em plena idade digital as pessoas vão mais do que nunca a museus? Porque querem autenticidade e qualidade. Querem o que apenas podem ver nos museus. Há uns anos os museus assustaram-se com a idade digital. Mas a ‘grande arte’ é sempre contemporânea”, afirmou o director do museu londrino Victoria and Albert, o inglês Martin Roth, no painel onde se falou do papel da cultura nas cidades, em particular os museus.
“Quanto mais digitais somos, mais queremos a experiência da coisa autêntica", afirmou o historiador de arte Taco Dibbits, do Rijksmuseum da Holanda, secundado pelo director do Museu Palestino, Jack Persekian: “as pessoas querem sentir de forma tangível. Querem tocar. Querem sentir que pertencem e têm desejo de partilhar essa sensação de pertença com outras.”
Falou-se também de identidades, claro. Em países estabelecidos, como a Inglaterra ou a Holanda, "as colecções pertencem ao mundo, deve existir partilha da memória", analisou Martin Roth. No caso palestino, "olha-se mais o futuro", expôs Persekian, acrescentando que é uma responsabilidade pensar “como é que um museu pode definir uma nação.”
De preservação também se falou a propósito do regresso dos fazedores, dos artífices, das técnicas e dos saberes que nas últimas décadas se foram tornando raras e que agora é possível aplicar em novos contextos. O galês David Hieatt fundou uma companhia de jeans com operários de uma antiga fábrica, iniciando um bem-sucedido processo de reconversão: “Não é apenas o produto final que interessa, é também o processo. Em causa está um saber que se iria perder e que é garantia de qualidade e distinção, ao mesmo tempo que também existe uma história, a daquela fábrica e das suas pessoas, que deve ser valorizada.”
Dessa possibilidade de juntar pessoas, às vezes antagonistas, à volta de um projecto que as desloca do conflito, falou o libanês Kamal Mouzawak, responsável por um mercado em Beirute que agrega tradições e agricultores de pequena escala. “Make food, not war”, brincou ele, falando da possibilidade de aproximar comunidades à volta do mesmo objectivo.
Catarina Portas, fundadora de A Vida Portuguesa, salientou que alguns países sabem comunicar o que têm para vender, “mas deixaram de saber fazer”, porque não têm apostado na “transmissão do saber, com memória, com diferença, com identidade.” É preciso uma outra forma de olhar para as coisas, “mais tangível”, disse, lamentando que não exista muita consciência dessa riqueza e herança, aqui.
Foi aí que Tyler Brûle argumentou que Portugal era um país que “fazia sentido”, porque reunia as características ali nomeadas por quase todos. “Autenticidade, memória, sentido de lugar.”
Um luxo, portanto. O que falta para o activar? Longa conversa."

Vítor Belanciano, Público

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A qualidade de vida por um monóculo

A Monocle não brinca em serviço e, no mês de Fevereiro, já recolhia imagens nas lojas e nos quiosques para o filme de apresentação de amanhã. Depois de, em Dezembro de 2009, ter eleito Catarina Portas entre os seus 20 heróis globais “que merecem um palco maior”, a revista de tendências chama-a agora ao palco da conferência mundial sobre "Qualidade de Vida" nas cidades. Que (estamos em crer não seja coincidência) decorre em Lisboa, a partir de hoje e até domingo. A lotação está esgotada mas a emissão pode ser acompanhada na rádio online.

O saber fazer português

A importância da proveniência das coisas e a mais-valia que a manufactura representa nos dias de hoje são temas em detaque amanhã, na conferência sobre “Qualidade de Vida” nas cidades futuras, organizada pela Monocle. E, aqui mesmo à nossa beira, são muitos os casos concretos e inspiradores de fábricas cujo primeiro compromisso é para com a qualidade devida.