terça-feira, 28 de agosto de 2012
Reinventar a história
""Autenticidade, genuidade e confiança num saber fazer" são as principais coordenadas que definem a marca (Ach. Brito) desde a sua criação, em 1887, por Ferdinand Claus e Georges Schweder, dois alemães que viram em Portugal a oportunidade de um negócio que florescia em países como a França. Tendo em mira uma elite endinheirada, habituada a consumir produtos de higiene importados, fundam no Porto a Fábrica de Produtos Chimicos Claus & Schweder - a primeira fábrica nacional de sabonetes e perfumes, com rótulos sugestivamente estrangeiros. Nessa altura, o Porto era uma cidade ilustrada por "carros de bois e pessoas descalças, onde a maioria da população nem sequer tinha casa de banho", explica José Fernandes, diretor-geral da Ach. Brito, sublinhando o arrojo dos alemães na aposta em produtos requintados. A qualidade dos produtos, no entanto, foi de imediato reconhecida e premiada internacionalmente; primeiro na Universal Exposition Saint Louis /EUA), em 1899, e depois na Exposição Internacional de Higiene, Ofícios Y Manufacturas de Madrid, em 1907.
Durante a I Guerra Mundial, Claus e Scheweder fogem do país e encerram a fábrica, mas o seu saber fazer é (re)inventado por um dos colaboradores - o português Achilles Alves de Brito -, que cria, em 1918, a Ach. Brito. Adquire a Claus Porto, transformando-a na sua marca premium, e cria novos produtos que têm marcado gerações de portugueses. Como, por exemplo, a linha Musgo Real, a fragância composta de vetiver, com acento de patchouli, criada em 1920, que tem permanecido no mercado ininterruptamente com o mesmo aroma e a mesam nota, estando agora em preparação uma nova colecção com diferentes aromas e embalagens com diferentes cores. Ou, por exemplo, a Água de Colónia Lavanda, o clássico aroma fresco a alfazema, a primeira colónia de muitos portugueses.
Hoje são mais de 500 referências, 150 fragâncias. Cerca de um terço da produção é exportada para os cinco continentes, para mais de 50 países. Sendo os EUA o principal mercado internacional da Ach. Brito, são também relevantes mercados como o Canadá, a Inglaterra e a Alemanha. Com 56 trabalhadores, uma das premissas da empresa é "fazê-los felizes" e, segundo José Fernandes, enquanto isto acontecer "a Ach. Brito é uma empresa de sucesso".
O charme das embalagens
Em 1953, perseguindo uma estratégia de diferenciação, a Ach. Brito cria nas suas instalações uma litografia, assumindo o controlo de todo o processo, desde o fabrico ao acondicionamento dos produtos, passando pela rotulagem. (...)
Foi a esse arquivo de imagem que a Ach. Brito recorreu há dez anos quando perspectivou uma estratégia de conquista de novos mercados internacionais sustentada na colocação dos produtosClaus Porto nas melhores lojas de design do mundo. Marcou presença, é claro, em feiras internacionais, mas sobretudo centrou-se em traçar no mapa os pontos de venda que lhe interessava e foi à conquista. "Não digo que tenha sido fácil, mas quando se mostra com verdade a nossa história, do outro lado, a reacção é de surpresa: há cem anos que isto é assim?", recorda José fernandes das primeiras abordagens ao mercado internacional. E avança: "Se na loja onde fazemos questão em estar não nos dão as melhores condições, não interessa. Acreditamos no nosso produto".
Depois de estarem em lojas como a Saks, em Nova Iorque, a Christian Lacroix, em Paris, ou A Vida Portuguesa, em Lisboa e no Porto, "tudo foi acontecendo com naturalidade", lembra José Fernandes, "a mensagem foi passando": das lojas para a comunicação social e daí para figuras públicas como Oprah Winfrey, Nicholas Cage, Kate Moss ou Molly Simms...
Com a mediatização da Claus Porto, os portugueses, que tinham a marca registada na memória, voltaram a interessar-se pelos históricos sabonetes. E neste ponto o diretor-geral da Ach. Brito faz questão de salientar que o facto de não terem dinheiro para divulgar os produtos, os levou a procurar estratégias mais criativas e a apostar nos pontos de venda de excelência como chamariz para novos clientes. É essa mesma estratégia de ponto de venda de excelência que a Ach. Brito está a usar com a Confiança, outra marca histórica, de 1894, que adquiriram em 2008 e que começa agora a ser exportada para um segmento intermédio de consumidores. Tal como a Ach. Brito, a Saboaria e Perfumaria Confiança conta a história dos portugueses e das suas preferências. As figuras típicas e castiças do país, as flores associadas a espaços emblemáticos, como Sintra, a Torre de Belém, São Pedro do Sul, a memória das praias dos anos 40, são estampa de embalagens reunidas numa coleção exclusiva, "Portugueses Confiantes", uma parceria com A Vida Portuguesa."
Ana Serpa, revista UP. Agosto 2012.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário