Não é fácil adivinhar-lhe a idade. Carlos Oliveira chega ao nosso escritório de manhã cedo, numa rara deslocação à capital, carregado de malas coloridas que são catálogo vivo do trabalho que lhe sai das mãos todos os dias. A pele algo carregada das marcas do sol mas os olhos brilhantes de quem leva uma vida pura em Cercal do Alentejo, longe dos computadores e do rebuliço. E até deixamos de lhe querer adivinhar a idade, tal é a frescura do relato, basta-nos saber que a maior parte da vida, mais de trinta anos, já foram dedicados às belíssimas peças que extrai ao tear - malas, almofadas, tapetes, mantas - e que também são expressão da gente a quem chamamos alentejana.
Chegou a trabalhar numa fábrica das redondezas mas depressa percebeu que não tinha sido feito para aquilo, precisava de voltar a encontrar-se no meio das ovelhas onde cresceu e com que os pais faziam queijo. Acostumado desde pequeno a ver trabalhar o tear a tia-avó, começou a ajudá-la a cortar trapos e fazer fio, e quando deu por si já fazia tudo “menos tosquiar as ovelhas”: cardava, fiava - e aqui pára para explicar que “trabalhar uma roda de fiar é meditação”. A entrega continua a ser tal que o tecelão até se esquece de almoçar e só dá pela passagem do tempo pela forma como “bate o sol na parte do tear grande”. “Para descansar a cabeça” vai trabalhar a terra em redor da casa, que lhe dá legumes e fruta em abundância, mesmo se já o preocupa a falta de chuva recente. Mas deixemos isso à sabedoria da natureza, que Carlos continua a honrar usando as mais puras lã e algodão em peças intemporais com motivos tradicionais e cores contemporâneas. A isto se chama "Alentejo Weaving" e as suas malas já estão à venda n’ A Vida Portuguesa.
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