Em entrevista ao "Expresso", Catarina Portas admite que se perde "em antiquários e lojas de velharias", que gosta de "passear nos arquivos" das fábricas "e vender os seus produtos". "Não entendia porque é que os nossos produtos não eram estimados, como acontecia noutros países. (...) Tive uma educação muito estrangeirada, vivi alguns anos lá fora. (...) voltei a olhar para o meu país com uma visão exterior e mais descomprometida, menos implicada. Aos 35 anos, quando comecei este projecto, deu-me uma vontade enorme de regressar a casa."
"Como se sentiu ao ler na revista "Monocle", em 2009, que era uma das 20 figuras mundiais a precisar de um palco maior? Foi uma surpresa, embora a revista me tenha avisado antes, porque me pediram uma fotografia.
Como é que chegaram a si? O jornalista da "Monocle" que escreve sobre Portugal costuma vir cá todos os anos e telefona-me - como julgo que fará a outras pessoas - para fazer o "Guia das melhores Cidades para Viver". Veio à minha loja várias vezes. Conhecia o negócio e até chegou a visitar os Quiosques de Refresco. Soube bem, como sabe bem qualquer outro reconhecimento.
Precisa de um palco maior? Tenho muita imaginação e, por isso, muitas ideias (risos). Algumas até podem dar origem a projectos maiores. Tento controlar-me ao máximo, porque não quero tornar a minha vida um inferno. Preciso ter alguma calma, quero que as coisas corram bem. Se não tiver tempo para estar calmamente uma tarde a pensar ou a ler livros, ou a fazer as pesquisas que me apetece, também deixo de ter ideias. Tento que as lojas A Vida Portuguesa funcionem e tenham uma boa relação com as fábricas.
Que relação é essa? Gosto de passear nos arquivos e vender os seus produtos. Estou a organizar uma série de livros. Tenho um livro em estado avançado sobre 20 fábricas e produtos portugueses. Há outro semipreparado, com o Manuel Reis, sobre o Frágil.
Esse lado de escritora/jornalista não morreu? Não. Sou uma jornalista que não escreve e uma documentarista que não filma. Mas o olhar continua a ser esse, a que juntei uma intervenção comercial.
Tem duas lojas A Vida Portuguesa. pensa expandir o negócio? Não quero multiplicar lojas. Quero que elas sejam especiais, invulgares e provem que não é preciso demolir interiores para fazer uma loja.
Recebe muitos pedidos de franchising? Muitos. Fazemos revenda para lojas e para musues e vendemos para Londres. Prefiro dar passos pequenos e ter controlo sobre o que faço. O meu intuito não é fazer dinheiro. Não gasto dinheiro em carros, nem sequer tenho carta, barcos, palácios... Claro que o sucesso é fundamental, porque sem isso os projectos não avançam. Mas não tenho necessidade de abrir lojas para fazer muito dinheiro. (...)"
Excerto de uma entrevista de Cândida Santos Silva, com fotografia de Ana Baião. Revista "Única", semanário "Expresso", 21 de Agosto 2010.
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