"Já não se fazem paredes assim. Na loja Cortiço & Netos há centenas de padrões que já não se fabricam e uma grande vontade de investigar a sua história.
Quando
em 1979 Joaquim José Cortiço começou o negócio da compra e venda de
linhas descontinuadas de azulejos industriais portugueses, provavelmente
não imaginava estar a reunir um precioso acervo para memória e
património futuros. Grande parte dos conjuntos sobreviveram ao
encerramento das unidades que os fabricaram - como a mítica Fábrica de
Loiça de Sacavém - e estão agora nas mãos dos netos de Joaquim José
Cortiço, que se encarregaram de dar continuidade ao negócio do avô (que
morreu em 2013). A loja Cortiço & Netos trouxe o espólio de Benfica
para a Mouraria e juntou à actividade comercial a sua conservação,
divulgação e investigação. Daí que os netos tenham decidido, em
paralelo, criar a Associação para a Interpretação do Azulejo Industrial
(AIAI).
"Não há muita informação sobre o azulejo industrial. O Museu do
Azulejo conhece a nossa colecção e diz que tem bastante interesse",
explica João Cortiço, um dos netos e um dos quatro irmãos que gerem o
estabelecimento e todo este acervo. A pouca informação existente sobre
esse tipo de azulejaria faz com que a quantificação, classificação e
atribuição de um valor artístico seja difícil de estabelecer. "Contámos
num primeiro inventário informal 900 padrões diferentes. Mas
provavelmente serão mais". Na loja estarão representados cerca de 100,
de uma colecção que abrange azulejos produzidos entre os anos 1950 até à
altura em que a maioria das fábricas fechou, nos anos 1990. "Gostava
muito que se fizesse essa investigação: como é que se pode passar dessa
produção para uma quase não existência, em menos de 15 anos?", desabafa.
As paredes da Cortiço & Netos vão lembrando esses tempos de glória
da produção de cerâmica exibindo também quadros com recortes dos nomes
de antigas fábricas. Além disso, a família esforça-se por manter as
colecções, adquirindo peças em falta e reservando, pelo menos, 22
exemplares do mesmo desenho, um para amostra e os outros para o padrão.
Está ainda para breve a criação de uma base de dados, com o registo
fotográfico dos azulejos e sua organização por categoria, data e fábrica
de origem.
São,
de resto, estas as bases de tudo e as de 15x15, tipicamente
portuguesas, as de 20x20 e as de 11x11 as jóias da coroa, segundo João
Cortiço. As decorações de cada azulejo também variam, indo desde as
reproduções dos desenhos mais tradicionais, azuis e brancos, aos padrões
gráficos e geométricos, coloridos ou monocromáticos. A sua autoria é
desconhecida, mas os irmãos Cortiço, que têm quase todos formação na
área do design e da ilustração, suspeitam que tenham sido os próprios
arquitectos a desenhá-los.
Reinterpretação
Apesar do interesse histórico, a Cortiço & Netos não quer ser um depósito patrimonial. A ideia é revitalizar o uso destes azulejos. E isso começa logo com os pedaços que muitas vezes se partem no transporte entre o armazém, situado em Alenquer, e a loja, em pleno centro lisboeta. "Usamos uma máquina de corte para dividir em quatro e retirar os quadradinhos pequenos que saem inteiros". João Cortiço refere que, por vezes, é possível isolar um detalhe do azulejo nesse processo e que os turistas - os que actualmente mais visitam o espaço - chegam a levar 10 destes, de cada vez. À procura de pormenores que enriqueçam os seus projectos com um toque de autenticidade vão também muitos arquitectos e decoradores de interiores. Já a maioria dos clientes particulares nacionais continua a procurar os azulejos para pequenas reparações e substituições: alguns deles fregueses antigos, ainda do avô Joaquim José Cortiço.
Reinterpretação
Apesar do interesse histórico, a Cortiço & Netos não quer ser um depósito patrimonial. A ideia é revitalizar o uso destes azulejos. E isso começa logo com os pedaços que muitas vezes se partem no transporte entre o armazém, situado em Alenquer, e a loja, em pleno centro lisboeta. "Usamos uma máquina de corte para dividir em quatro e retirar os quadradinhos pequenos que saem inteiros". João Cortiço refere que, por vezes, é possível isolar um detalhe do azulejo nesse processo e que os turistas - os que actualmente mais visitam o espaço - chegam a levar 10 destes, de cada vez. À procura de pormenores que enriqueçam os seus projectos com um toque de autenticidade vão também muitos arquitectos e decoradores de interiores. Já a maioria dos clientes particulares nacionais continua a procurar os azulejos para pequenas reparações e substituições: alguns deles fregueses antigos, ainda do avô Joaquim José Cortiço.
Jóias da Coroa
Tabuleiros
de madeira forrados a azulejos, combos de quatro quadrados diferentes,
bases para copos e para quentes e, mais recentemente, mesas com tampo em
azulejo são alguns dos produtos que a loja vende, além das unidades
avulso."
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