terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Uma vida a tecer
Por estes dias na TVI, a tarde foi toda do "último tecelão de cobertores de papa da Serra da Estrela". O octagenário Manuel Gonçalves exibiu em estúdio a destreza com que continua a sair do lar para se deslocar à fábrica de José Freire, sempre que as solicitações obrigam. Aprendeu a tecer ali mesmo, em Maçaínhas (perto da Guarda), acabado de sair da escola, era um petiz de 12 anos. "Uma semana para saber deitar a lançadeira a baixo e a cima, trabalhar as pernas, e a maneota da rédea a puxar a lançadeira. Foi sempre a minha vida, foi tecer. Tecer é fácil mas tem outras complicações que custa muito meter na cabeça."
Actualmente, Manuel gostava de poder ensinar os truques do ofício, com mesma a paciência com que lhe foram transmitidos, mas a verdade é que não há quem queira aprender. Gostava de contribuir para manter viva esta profissão de uma vida que também é uma tradição intemporal e que corre o risco de desaparecer consigo. Detém-se a falar da qualidade da lã. Que é "churra", a mais grossa, aquela que é garantia de uma cama quentinha, e que se acreditava ser capaz de afugentar até a trovoada e a peste. "Toda a gente no mundo devia ter em casa uma meia dúzia de cobertores destes." "Porquê, senhor Manuel?", pergunta a apresentadora. "Porque são os melhores" E porque "duram uma vida". Ou duas. Ou mais.
José Freire, o proprietário da fábrica, lembra a altura em que os cobertores eram produzidos em quantidade, para chegar a todo o país e além-mar. Serviam aos pastores no campo como resguardo do frio, aos campinos como parte do seu traje e ao Príncipe de Gales para levar de lembrança da sua visita a Portugal. E o sociólogo Luís Rodrigues, também chamado à conversa, sublinha a importância de "pensar muito a sério na riqueza que o país tem e transformá-la em produtos originais e únicos". Porque afinal, "um país é mais internacional quanto mais souber vender a sua autenticidade".
O programa da TVI está disponível aqui. E, para saber mais sobre os Cobertores de Papa, não deixe de espreitar o blogue A Ervilha Cor de Rosa, em que Rosa Pomar partilha a experiência da sua visita à fábrica e explica o processo de fabrico.
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1 comentário:
oh e uma pena deixarmos estras tradicoes morrer! Sao produtos com uma qualidade incrivel e tem potencial de ser exportados
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