quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Dias de magusto

Patrono dos soldados aos pedintes, dos alfaiates aos cavaleiros, dos restaurantes aos hotéis, dos cavalos aos gansos, dos produtores de vinho aos alcoólicos reformados, São Martinho haveria de estender o seu afamado manto de milagreiro sobre muitos. Húngaro de origem, Martinho chegou a ser o mais popular dos santos em França durante a Idade Média e deixou o seu nome em muitos lugares do norte ao sul de Portugal (de São Martinho das Amoreiras ao da Cortiça).

O seu espírito de generosidade e humildade ficou perpetuado na lenda segundo a qual partilhou a capa com um mendigo, afastando a chuva para dar lugar ao sol do "Verão de São Martinho". E em 2005 o Conselho da Europa haveria mesmo de o proclamar "modelo europeu de partilha". Ainda hoje o povo não dispensa a oportunidade de o festejar com a exuberância associada à altura do calendário rural, em que terminam os trabalhos agrícolas e se começa a desfrutar das colheitas. E assim, ainda hoje se assam as castanhas e se prova o vinho em sua honra. O nosso magusto está montado, sejam benvindos.


«O S. Martinho, como o dia de Todos os Santos, é também uma ocasião de magustos, o que parece relacioná-lo originariamente com o culto dos mortos (como as celebrações de Todos os Santos e Fiéis Defuntos). Mas ele é hoje sobretudo a festa do vinho, a data em que se inaugura o vinho novo, se atestam as pipas, celebrada em muitas partes com procissões de bêbados de licenciosidade autorizada, parodiando cortejos religiosos em versão báquica, que entram nas adegas, bebem e brincam livremente e são a glorificação das figuras destacadas da bebedice local constituída em burlescas irmandades. Por vezes uma dos homens, outra das mulheres, em alguns casos a celebração fracciona-se em dois dias: o de S. Martinho para os homens e o de Santa Bebiana para as mulheres (Beira Baixa). As pessoas dão aos festeiros, vinho e castanhas. O S. Martinho é também ocasião de matança de porco.»

in "As Festas. Passeio pelo Calendário"
de Ernesto Veiga de Oliveira
Fundação Calouste Gulbenkian, 1987


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