quarta-feira, 3 de julho de 2013
Brincar em serviço
Há outros casos assim, de lugares do mapa nacional que se especializam numa área de produção, e se, por exemplo, Travassos fez a sua fama como aldeia-oficina de ourives, Alfena (perto de Valongo, distrito do Porto) não se coíbe de afirmar que o brinquedo faz a história da sua terra. Corria o ano de 1921 quando se iniciou, na Rua de Aldeia Nova, a produção nacional dos brinquedos "de Festas". E porque é preciso ter lata para estas coisas, as primeiras Gaitas com Asa foram feitas com "chapa de folha de Flandres". Haviam de se seguir as rocas para bebés, com a poética particularidade de terem lá dentro pequenas pedras das margens do rio Leça.
O artesão à frente deste projecto visionário chamava-se José Augusto Júnior e decidiu usar as suas siglas para baptizar a empresa. Nascia a JAJ, que se viria a tornar na JATO em 1955 e PEPE em 1977, à medida que a empresa ia mudando de mãos, mas sem nunca perder o amor à brincadeira que sempre norteou a sua actividade.
Em 1928 tinha início a produção de brinquedos de madeira. E a prova de que o negócio era coisa séria traduziu-se no aparecimento da concorrência, em 1940, na forma da AML (de Armindo Moreira Lopes), que se juntou à corrida com o Carro Pulga, o Carro Bicudo e o Carro Bugati mas haveria de encostar às boxes no ano de 1975. Fazendo recuar o relógio, a JAJ continuou a adaptar-se aos tempos e, quando a chapa de origem belga começou a escassear por culpa da segunda guerra mundial, virou-se para as litografias de chapa e sucata, reutilizando e reciclando (mesmo antes de a palavra ter sido inventada) latas velhas.
Em 1946 a empresa transfere-se para nova geografia e instalações, e adopta a designação "A Industrial de Quinquilharias de Ermezinde", sobretudo como forma de acelerar o despacho dos brinquedos, até aí assegurado por um carro de bois puxado por dois empregados até aos caminhos de ferro de Campanhã, de onde seguiam para todo o país. Data também daqui a invenção da "corda de fita de aço" que torna a JAJ pioneira no fabrico de brinquedos movidos por este sistema de corda. Em 1955 surge a técnica mista de fabrico que junta chapa de folha de Flandres e plástico e, com ela, a primeira máquina de injecção de plásticos com alavancas.
Por esta altura, e com 90 trabalhadores, a empresa afirma-se como a maior de Portugal a criar e produzir brinquedos. Mesmo assim nunca perdeu de vista as origens e (a boa fábrica também à casa torna) o regresso a Alfena dá-se em 1983. Com a missão de continuar a criar novos modelos e - mais recentemente - de trazer de volta antigas preciosidades (que fazem agora muito sucesso também entre coleccionadores) como o táxi da Mercedes (vulgo "fogareiro"), os VW Carocha e as Furgonetas Pão de Forma. Outra forma de mostrar que com estas coisas não se brinca.
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