"Braga celebrou 120.º aniversário da empresa abrindo ao público o histórico edifício que a acolheu no centro da cidade até há 12 anos. A autarquia, que comprou o espaço há dois anos, ainda procura financiamento para o reabilitar.
Há um gesto que se repete: levar o pequeno sabonete ao nariz para sentir o aroma a alfazema. Dezenas de pessoas fazem-no inconscientemente assim que recolhem a oferta da saboaria Confiança à chegada à sua antiga fábrica, em Braga. No velho edifício, encerrado há 12 anos, voltou a sentir-se o cheiro dos sabonetes que, durante um século, saíram dali para todos os pontos do país.
O perfume que anda no ar contrasta com o cenário que se contempla: os azulejos da entrada estão a cair, não há nem um vidro nas janelas e as escadas de pedra estão picadas, como se fossem feitas de madeira e estivessem carcomidas. “É um bocadinho triste ver isto assim”, confessa Teresa Pereira. Começou a trabalhar na Confiança em 1973 e hoje ainda é funcionária da empresa, que passou para um parque industrial nos arredores da cidade em 2002. “Já os meus [familiares] aqui trabalhavam”, conta.
Ainda sabe de cor o que funcionava em cada um dos espaços: os grandes cilindros que sobrevivem à ferrugem que neles se instalou acolhiam a massa dos sabonetes e as paredes de madeira do segundo piso protegiam a sala da tipografia da empresa, por exemplo. Isto, apesar de, desde que a fábrica no centro de Braga fechou, nunca mais aqui ter entrado. É por isso que, apesar da mágoa com que vê o estado de degradação do edifício, consegue encontrar “alguma felicidade” neste regresso.
Como Teresa, algumas dezenas de ex-funcionários aproveitaram o facto de a Câmara de Braga ter aberto a velha fábrica Confiança ao público neste fim-de-semana, a assinalar os 120 anos da sua fundação, para voltar àquele lugar. A firma foi criada em 12 de Outubro de 1894 e designava-se se então Silva Almeida & Ca. A iniciativa foi de Rosalvo da Silva Almeida, filho de bracarenses, mas nascido no Rio de Janeiro, que tinha 21 anos, e do seu cunhado, cinco anos mais velho, Manuel Santos Pereira.
Nessa primeira fase, a Confiança funcionava numa pequena oficina, no mesmo local do edifício que este fim-de-semana foi aberto ao público, uma construção inaugurada em 1921. Desde o seu início, a empresa começou a produzir sabões, sabonetes e perfumes que chegaram a todo o país. A firma chegou a ter 150 marcas diferentes. Na década de 1920, as 8000 caixas de sabonetes produzidas por mês representavam metade do consumo do país.
“O nome de Braga chegou a todo o lado”, conta o designer e investigador Nuno Coelho, que dedicou a última década a estudar o material gráfico da empresa, o que deu origem à sua tese de doutoramento. “Os rótulos tinham quase sempre o nome da cidade”, acrescenta. Das mais de 1000 embalagens de produtos da Confiança por si recolhidas, apenas cerca de 20 não tinham “Braga” impresso.
Estes foram alguns dos pormenores do seu trabalho que Coelho contou a uma plateia de cerca de uma centena de pessoas, constituída sobretudo por familiares dos fundadores e antigos e actuais funcionários da Confiança, numa conferência que, na sexta-feira, iniciou o programa com que Braga assinalou os 120 anos de uma empresa marcante na sua história.
A fábrica pertence, desde 2012, ao município – custou 3,5 milhões de euros, num negócio polémico, que começou por ser uma expropriação e acabou em acordo com os proprietários. Nessa altura, foi lançado um concurso de ideias para decidir o destino a dar ao equipamento. Entre as 77 propostas apresentadas, foram selecionadas quatro, determinando que ali há espaço para acolher um pouco de tudo: de um hostel a uma incubadora de empresas de base tecnológica – aproveitando a proximidade da Universidade do Minho e do Instituto Ibérico de Nanotecnologia –, um centro de Ciência Viva e espaços de comércio de restauração. Além disso, a autarquia exigiu a instalação de um núcleo museológico dedicado à produção de sabonetes e perfumes naquele espaço. Recentemente, o presidente da Câmara, Ricardo Rio, prometeu também instalar ali a sede da Associação Académica da Universidade do Minho. O projecto está, no entanto, parado por falta de financiamento e deverá ser candidatado a fundos do próximo quadro comunitário de apoio, para viabilizar a reabilitação do espaço industrial."
Há um gesto que se repete: levar o pequeno sabonete ao nariz para sentir o aroma a alfazema. Dezenas de pessoas fazem-no inconscientemente assim que recolhem a oferta da saboaria Confiança à chegada à sua antiga fábrica, em Braga. No velho edifício, encerrado há 12 anos, voltou a sentir-se o cheiro dos sabonetes que, durante um século, saíram dali para todos os pontos do país.
O perfume que anda no ar contrasta com o cenário que se contempla: os azulejos da entrada estão a cair, não há nem um vidro nas janelas e as escadas de pedra estão picadas, como se fossem feitas de madeira e estivessem carcomidas. “É um bocadinho triste ver isto assim”, confessa Teresa Pereira. Começou a trabalhar na Confiança em 1973 e hoje ainda é funcionária da empresa, que passou para um parque industrial nos arredores da cidade em 2002. “Já os meus [familiares] aqui trabalhavam”, conta.
Ainda sabe de cor o que funcionava em cada um dos espaços: os grandes cilindros que sobrevivem à ferrugem que neles se instalou acolhiam a massa dos sabonetes e as paredes de madeira do segundo piso protegiam a sala da tipografia da empresa, por exemplo. Isto, apesar de, desde que a fábrica no centro de Braga fechou, nunca mais aqui ter entrado. É por isso que, apesar da mágoa com que vê o estado de degradação do edifício, consegue encontrar “alguma felicidade” neste regresso.
Como Teresa, algumas dezenas de ex-funcionários aproveitaram o facto de a Câmara de Braga ter aberto a velha fábrica Confiança ao público neste fim-de-semana, a assinalar os 120 anos da sua fundação, para voltar àquele lugar. A firma foi criada em 12 de Outubro de 1894 e designava-se se então Silva Almeida & Ca. A iniciativa foi de Rosalvo da Silva Almeida, filho de bracarenses, mas nascido no Rio de Janeiro, que tinha 21 anos, e do seu cunhado, cinco anos mais velho, Manuel Santos Pereira.
Nessa primeira fase, a Confiança funcionava numa pequena oficina, no mesmo local do edifício que este fim-de-semana foi aberto ao público, uma construção inaugurada em 1921. Desde o seu início, a empresa começou a produzir sabões, sabonetes e perfumes que chegaram a todo o país. A firma chegou a ter 150 marcas diferentes. Na década de 1920, as 8000 caixas de sabonetes produzidas por mês representavam metade do consumo do país.
“O nome de Braga chegou a todo o lado”, conta o designer e investigador Nuno Coelho, que dedicou a última década a estudar o material gráfico da empresa, o que deu origem à sua tese de doutoramento. “Os rótulos tinham quase sempre o nome da cidade”, acrescenta. Das mais de 1000 embalagens de produtos da Confiança por si recolhidas, apenas cerca de 20 não tinham “Braga” impresso.
Estes foram alguns dos pormenores do seu trabalho que Coelho contou a uma plateia de cerca de uma centena de pessoas, constituída sobretudo por familiares dos fundadores e antigos e actuais funcionários da Confiança, numa conferência que, na sexta-feira, iniciou o programa com que Braga assinalou os 120 anos de uma empresa marcante na sua história.
A fábrica pertence, desde 2012, ao município – custou 3,5 milhões de euros, num negócio polémico, que começou por ser uma expropriação e acabou em acordo com os proprietários. Nessa altura, foi lançado um concurso de ideias para decidir o destino a dar ao equipamento. Entre as 77 propostas apresentadas, foram selecionadas quatro, determinando que ali há espaço para acolher um pouco de tudo: de um hostel a uma incubadora de empresas de base tecnológica – aproveitando a proximidade da Universidade do Minho e do Instituto Ibérico de Nanotecnologia –, um centro de Ciência Viva e espaços de comércio de restauração. Além disso, a autarquia exigiu a instalação de um núcleo museológico dedicado à produção de sabonetes e perfumes naquele espaço. Recentemente, o presidente da Câmara, Ricardo Rio, prometeu também instalar ali a sede da Associação Académica da Universidade do Minho. O projecto está, no entanto, parado por falta de financiamento e deverá ser candidatado a fundos do próximo quadro comunitário de apoio, para viabilizar a reabilitação do espaço industrial."
Samuel Silva, Público
Sem comentários:
Enviar um comentário