sexta-feira, 28 de agosto de 2015

"Sonham, podem e fazem"

"Portugal está na moda. E a culpa também é de Catarina Portas - mentora da Vida Portuguesa, que recuperou marcas e produtos nacionais antigos - e de Mário Ferreira - dono da empresa de cruzeiros Douro Azul e candidato a turista espacial. Uma conversa sobre negócios, turismo e risco para descobrir o que têm, afinal, em comum, um tubarão do Norte e uma intelectual de esquerda lisboeta."
“Não acho que haja exploração exagerada de Lisboa, atenção! Aquilo que eu digo é que se deve repensar, porque o turismo de hoje não é o mesmo de há 20 anos, é muito massificado. É uma coisa muito rápida e, portanto, eu acho que as câmaras municipais, os atores da cidade, têm de pensar e definir regras claras para as coisas, refletir em conjunto. Há lojas, de facto, muito especiais que, com o tempo, se tornaram ainda mais especiais. Mas, como temos estado a assistir, há hotéis atrás de hotéis que estão a fechar lojas centenárias e com valor, em Lisboa. Eu não estou a dizer que todas as lojas antigas têm de se salvar, mas as que têm qualidade devem ser cuidadas porque são emblemáticas. (…) Uma loja centenária no rés do chão de um hotel é uma mais-valia. (...)
Agora faço parte de um conselho consultivo da Câmara de Lisboa, para as lojas com história. Tenho esperança que saia daqui um caminho. Atenção, isto não é um problema nosso, é comum a todas as cidades, hoje em dia."
 “O meu problema com o modelo de turismo de hoje é as coisas tornarem-se todas iguais. Sou pela diferença, há espaço para toda a gente e para várias formas de fazer as coisas. Não tem nada a ver com saudosismo, mas sim com identidade, com quem somos e o que fomos. Faz-me impressão ver medalhões a fingir antigo, um pastel de nata, que foi inventado no outro dia, com uma inscrição a dizer que é de 1904, é tentarem enganar as pessoas. Não é preciso. Fizemos um produto novo, ótimo! Vamos afirmá-lo como novo.
Há lojas em Lisboa, daquelas que têm souvenirs portugueses feitos na Ásia (que há muitas!), onde se vende um souvenir que é um autocarro de dois andares, daqueles de levar turistas, iguais em dezenas de cidades e vendem-nos como se fossem típicos de Lisboa. Quando é o mesmo para não sei quantas cidades.”
“O meu negócio partiu de uma investigação sobre as marcas portuguesas. E com uma noção muito nítida de que esta história é benéfica para as marcas. É uma forma de contar a história de um povo, de um país. Consigo contá-la através de um rótulo de sabonete. É impressionante! Há sabonetes monárquicos, republicanos, sabonetes que têm a ver com o Estado Novo e depois há o sabonete Grândola Vila Morena. Também pensei as lojas como um sítio onde a pessoa pode começar a estudar um país.”

“O sucesso para mim não se mede em Ferraris ou Maseratis, nem sequer em milhões, apesar de já faturarmos em milhões - o que é bom porque nos permite concretizar outros projetos. Mas não é isso que me move. Tem muito mais a ver com o caminho que as ideias fazem. Eu tinha uma série de ideias há dez anos: achava que os portugueses deviam gostar dos seus produtos, que era possível ter lojas no centro histórico sem destruir tudo para fazer cubos brancos iguais a uma loja de um centro comercial, achava que os quiosques eram uma mais valia e não um trambolho e que davam charme à cidade, quis provar que a manufatura não era o nosso atraso - que o facto de termos uma indústria que ainda tem alguma manufatura é uma mais-valia. Havia uma série de ideias que eu queria ver fazer o seu caminho. Não serei responsável exclusiva, mas ajudei. E esta é a medida do meu sucesso.”

"E o seu sonho, Catarina?
Bem, penso que estou prestes a concretizá-lo: vou abrir o meu gabinete de design da Vida Portuguesa. Terei cá um casal de designers - um português e uma alemã , que estão a mudar-se de Berlim. Eles produziram um trabalho notável, com o artesanato algarvio. A ideia é fazer desenvolvimentos de produtos exclusivos para A Vida Portuguesa, trabalhar com as fábricas. Enfim, é uma extravagância, a liberdade de poder criar."
Texto: Sara Sá
Fotos: Gonçalo Rosa da Silva

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Elogios brasileiros

Depois de, na semana passada, José Eduardo Agualusa ter escrito no Globo que A Vida Portuguesa do Chiado é “a loja preferida por nove em cada dez turistas brasileiros”, o blogue “diária” do brasileiro Raffaele Asselta não hesita em descrever a do Intendente, “que se destaca pelo espaço físico” como “uma das mais belas lojas da cidade”.
"Portugal é um dos países que mais cultivam e respeitam sua cultura. Não é a toa que sua arquitetura, cozinha, cerâmicas e muitos outros são procurados e visitados por turistas do mundo todo. Até sua música, o Fado, é considerado um patrimônio imaterial da humanidade declarado pela Unesco.
Com essa paixão pela tradição, a jornalista portuguesa Catarina Portas pesquisou os tradicionais produtos portugueses e que mantiveram suas embalagens originais ou que fossem inspiradas nelas. Reuniu todos e em 2007 lançou a marca A Vida Portuguesa (desde sempre).
Sempre em edifícios históricos, suas lojas com decoração rústica oferecem cerâmicas, mantas, vinhos, sardinhas, chás, licores, cervejas, azeites, sais, geléias, utensílios de cozinha, azulejos, sabonetes, cremes, brinquedos entre muitas outras coisas.

Uma das mais belas lojas da cidade, a Intendente em Lisboa se destaca pelo espaço físico. São 500m2 no mesmo lugar onde um dia funcionou uma fábrica de cerâmicas (Fábrica da Viúva Lamego), e seus mais de 3mil itens estão dispostos em diversas salas. O tamanho permitiu também que a oferta de produtos fosse maior que suas outras lojas: produtos de maior escala estão disponíveis para a venda como banheiras e fogões a lenha.

É um lugar onde os portugueses encontram seus produtos tradicionais, e nós turistas podemos comprar todos os presentes. Uma casa Portuguesa, com certeza."

Onde: Largo do Intendente Pina Manique, 23 – Lisboa
Quando: Diariamente das 10h30 às 19h30

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Levar a peito as marcas antigas

A Archivo quer ser um "tributo às marcas com história, que pelo seu passado e presente, representam o melhor de Portugal". Em forma de t-shirts que contam a história e simbolizam a força de cada uma das imagens recuperadas (da Oliva à Gazcidla, passando pela Famel ou pela Minor) que valem a pena levar a peito. À venda n' A Vida Portuguesa do Intendente.

Archivo de imprensa

"A Archivo nasceu há três anos e hoje já possui uma legião de fãs. O designer gráfico Pedro Fernandes, encontrava-se desempregado quando teve a ideia de criar a sua própria marca, tornando-se uma montra para as antigas marcas portuguesas, activas ou não.

Uma exposição de rótulos de marcas de sardinhas antigas num programa de televisão foi o necessário para despertar a vontade de arriscar no mundo dos negócios em Portugal. A atravessar um período de crise, o sector da publicidade deixou de ser um opção, pelo menos a curto-prazo, para o empreendedor português, designer há 19 anos e desempregado depois de trabalhar em projectos publicitários.

Pedro Fernandes começou por fazer um arquivo de todas as marcas portuguesas que existiram até então (daqui também nasceu a ideia do nome da marca) e “porque não mostrar um lado mais gráfico que não existia? Pensei que poderia ser engraçado, as pessoas não conheciam”, diz o empreendedor."

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Global reach

A IVO Cutelarias já se vem habituando a cortar terreno, a partir das Caldas da Rainha até onde houver um filete de peixe à espera de virar sashimi. Os prémios vêm tanto de Cuba como da Suécia e agora chega a distinção dos Estados Unidos da América, que coloca as suas facas entre as melhores da Europa. Também disponível nas lojas A Vida Portuguesa, é assim a Ivo: desde 1954 a cortar a eito.

"Salvar uma igreja com crowdfunding"

"Habituado às lides da comunicação, por ter trabalhado num jornal católico e sido assessor de imprensa do Patriarcado de Lisboa, Edgar Clara juntou diferentes grupos de pessoas em vários tipos de ações. Com a associação Renovar a Mouraria foi desenvolvida uma receita de biscoitos de cardamomo, à venda na igreja e na loja A Vida Portuguesa, o local onde foi feito o lançamento do projeto."
Carolina Reis, Expresso 



quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A cerâmica dá à costa

A inspiração tanto lhes pode vir das riscas pintadas nas casas de madeira da praia da Costa Nova, na Ria de Aveiro, como do desenho de um prato do século XVIII em exposição no Museu de Arte Antiga. Os engenheiros Miguel Casal e Rui Batel já tinham criado a Grestel em 1998 mas, depois de anos a fornecer louça em grés fino para as lojas chiques de Nova Iorque, perceberam que tinham em mãos a oportunidade, maior ainda, de estabelecer marca própria. 
Assim, em 2006, nascia a Costa Nova, já a pensar em diferentes e potenciais linhas. A massa do grés, desenvolvida a partir de argila de grão fino, diverge da de porcelana: absorve diferentes cores e assenta bem num estilo intemporal, entre o rústico e o sofisticado. Requer apenas monocozedura, poupando energia e reduzindo a emissão de gazes poluentes. Sendo mais durável e robusta, também pode ir à máquina de lavar loiça, ao microondas, ao forno e ao congelador. O resultado final já é exportado para mais de 40 países, está no National Geographic Café, é recomendado tanto pelo chef português José Avillez como pela guru internacional Martha Stewart… E está à venda n’ A Vida Portuguesa, com certeza.

Costa Nova na imprensa









quarta-feira, 19 de agosto de 2015

" O momento Marilyn de Lisboa"

© Fabio Seixo | Agência O Globo

"A crise, paradoxalmente, trouxe futuro; trouxe sangue novo e novas ideias. A cidade vive hoje um momento de invulgar vigor. No momento de crise e algum pânico que o Brasil vive, talvez seja útil olhar para o caso de Lisboa. Antes do gravíssimo surto de depressão que ainda sufoca Portugal e uma boa parte dos países europeus, a capital portuguesa era uma cidade bonita e com um passado glorioso, mas voltada quase inteiramente para esse passado, como uma estrela de cinema em plena decadência. A cidade sofria de uma deficiência de futuro, e isso explicava a melancolia elegante, mas um pouco opressiva, que pesava no ar.

A crise, paradoxalmente, trouxe futuro; trouxe sangue novo e novas ideias. A cidade vive hoje um momento de invulgar vigor. Jovens criativos vêm recuperando áreas antes degradadas para lançarem projetos irreverentes e inovadores. A queda dos preços do imobiliário e nova legislação mais favorável permitiram que empresários sem grande poder econômico conseguissem alugar espaços para a criação de bares e lojas alternativas.

O Largo do Chiado voltou a ser, como no século XIX, o coração pulsante da cidade. Sento-me por quinze minutos a uma das mesas, n’A Brasileira, e logo aparecem amigos, conhecidos, simples leitores, para dois dedos de conversa. É quase como estar em casa, mas sem o tédio de estar em casa. Mesmo ao lado, no Camões, há um quiosque do tempo de Eça de Queirós, que vende refrescos típicos da Lisboa daquela época, como a orchata (à base de leite de amêndoa) e o mazagran (limonada com café). A empresária que deu nova vida aos antigos quiosques lisboetas é também a proprietária da loja preferida por nove em cada dez turistas brasileiros, A Vida Portuguesa, que comercializa produtos vintage tipicamente lusitanos.

Para este ambiente contemporâneo e cosmopolita contribui o fato de Lisboa ter sabido acolher gente proveniente de todos os territórios do antigo império colonial. O Presidente da Câmara, António Costa, é filho de um escritor moçambicano de origem indiana. As duas maiores fadistas portuguesas, Mariza e Ana Moura, são mulatas, uma moçambicana e a outra angolana. A banda com mais reconhecimento internacional, os Buraca Som Sistema, toca kuduru, e é constituída por portugueses e angolanos. Há cada vez mais músicos e artistas plásticos a trocar Paris ou Londres por Lisboa.

A minha filha, Vera, que completou há pouco onze anos, gosta do Chiado, porque numa das passadeiras há uma grade de metrô para a saída de ar quente. Ela adora colocar-se em cima da grade, com a cabeleira a esvoaçar. Um dia viu um homem a insuflar sacos de plástico e a lançá-los aos céus a partir dali, e desde essa altura passou a insistir comigo para que fizéssemos o mesmo. No último domingo acordei-a de madrugada, muito cedo, e fomos para o Chiado. A cidade estava quase deserta. Havia três rapazes sentados no Largo de Camões, junto à estátua do poeta, como náufragos da noite. Um deles dormia, com a cabeça pousada nos joelhos. Os outros dois olhavam para nós, atordoados, enquanto a primeira luz da manhã inaugurava as calçadas. Trazíamos cinco sacos de diferentes cores. Três deles subiram muito alto. Dançavam no azul vibrante do céu, enquanto nós corríamos, ao longo das ruas tortas, para os recuperar. Vera disse-me, já em casa, que aquele fora um dos dias mais divertidos de toda a sua vida; da minha também.

Por vezes sentamo-nos os dois n’A Brasileira, voltados para a estátua de Camões, a assistir ao momento Marilyn das jovens turistas, vestidas com saias leves, apropriadas a este verão de calor intenso, as quais, inadvertidamente (ou não), com superior elegância (ou nem tanto), cruzam a grade. Há moças que vão de propósito ao Chiado para caminharem sobre a saída de ar quente, e se fazerem fotografar, segurando a saia, com um sorriso falsamente surpreendido.

Os melhores momentos das nossas vidas são quase sempre simples. A felicidade raramente chega de Ferrari. Pode chegar, sim, através de uma grade de metrô para a saída de ar quente.

Afinal de contas, Lisboa está, também ela, a viver o seu Momento Marilyn. Avança, ousada, provocadora, ainda, e sempre, menina e moça, mostrando o que tem de melhor, e o melhor que tem é a mistura entre a tradição e uma modernidade criativa e exuberante. A agenda cultural compete hoje com a de Paris, Berlim ou Barcelona, sobretudo no que respeita a música. As noites são uma festa. As ruas fervilham de gente.

“Lisboa é a nova Berlim” — diz-se, e é verdade, com a vantagem enorme de ser uma Berlim quase tropical."

José Eduardo Agualusa 
no Globo
© "O Pecado Mora ao Lado"

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O artesão autêntico

"Carlos Oliveira, de 63 anos, vive e trabalha há quase 40 na mesma casa, no Cercal do Alentejo. Entre cactos, trepadeiras e flores coloridas encontramos o seu ateliê recheado de almofadas, tapetes e malas. As mantas alentejanas, que os pastores usavam para se proteger do frio, são fonte de inspiração para as peças do tecelão que cruza a tradição com a modernidade.
Tudo acontece no tear que cabe na sala, à justa. Se as malas demoram três dias a fazer, uma peça maior, como um tapete, pode tardar até três meses a terminar, tal é a minúcia. Carlos vê-se cada vez mais aflito para dar resposta a todos os pedidos. “Devo ter uma obra em cada ponto do mundo”, conta. Tem muitos clientes na Europa mas também já vendeu para paragens tão distantes como Japão, Canadá, Estados Unidos e até para a Jordânia - a terra-mãe dos tapetes.
As peças em que agora trabalha são de azuis-claros e fortes, vermelhos e laranjas: as criações condizem sempre com as estações do ano, explica. Carlos trocou os ares da serra da Estrela pelos do Alentejo há quase 40 anos e não se arrepende. Nasceu entre as ovelhas e o queijo, foi serralheiro e trabalhou em grandes fábricas de Sines à Holanda, Inglaterra e Argélia mas a paixão foi desde cedo o artesanato.
As malas são o mais recente sucesso da marca que já chegou às lojas A Vida Portuguesa. Foi a companheira inglesa de há oito anos, Monica (a responsável pelas flores e pelos vários vasos que lhe rodeiam a casa), que o convenceu a apostar nas malas - que agora até há em duas versões, para mulher e para homem. Com preços que vão dos 95 aos 175 euros, têm diferentes cores e tamanhos, são cosidas com linha de remendar rede, têm pegas de cabedal e é muito difícil que ardam, por exemplo. Resumindo: são malas para a vida. Para comprar é visitar o site (em alentejoweaving.com), contactar por telefone ou então fazer uma visita à casa perdida no campo, para tardes de longas conversas.
Para conhecer Carlos e as suas peças, basta fazer-se à estrada em direcção ao Cercal e estar atento a pequenas placas de madeira. Ou então visitar o site da Associação de Turismo Casas brancas, que promove a costa alentejana e vicentina e ajuda a fazer a ponte entre os turistas e uma série de personagens e locais de interesse. Desde 2014 que apostam no conceito de Turismo Criativo para que a cultura, a natureza e o património tenham mais visibilidade e para que não escape nada a quem está de visita; principalmente o mais autêntico.”
Maria Espírito Santo
Sábado

Das coisas bonitas que os nossos clientes nos mandam


Jacques Villares esteve na loja do Porto, comprou ArtGraf da Viarco, que usou para retratar um aspecto da cidade de Faro e ainda teve a amabilidade de nos enviar dicas de utilização: “Adjunto una acuarela rápida hecha exclusivamente con el negro, el ocre y la pasta de la bolsa. Esta última mucho mas densa, para trabajar en negro sobre negro. He utilizado retardante (de W&N) en el agua, para jugar mas con la potencia del grafito durante más tiempo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Os caça-fantasmas luminosos

Designers de profissão, Rita Múrias e Paulo Barata não sabem andar por Lisboa sem ser de olhos bem abertos, a admirar e fotografar sinais, letreiros e néons, em toda a sua riqueza de variedade e colorido. Mas começaram a estranhar quando, na passagem seguinte, sem que muito tempo decorresse, encontravam uma fachada empobrecida ou um néon entre os escombros das obras. Começaram a salvar um ou outro, sempre com a devida autorização, nunca com finalidade lucrativa. Quando deram por eles, tinham transformado uma cave familiar em depósito de letreiros, a reunir estes “fantasmas” (a expressão é dos próprios) que também são testemunhas de outros tempos, de tantas lojas que fizeram a história de Lisboa. E começou a acender-se neles (e a isto nós chamamos "serviço público") a ideia de os reunir para a fruição geral.

Já estão a pensar numa exposição para 2016, em parceria com o departamento de cultura da Câmara Municipal de Lisboa, mas as vistas mais largas chegam até um futuro Museu do Letreiro, como já existe noutras cidades europeias. E que é uma forma de reunir todo um espólio que é património cultural e contribuir para a manutenção de uma memória gráfica. Juntar néons que, mais do que identificar um estabelecimento ou marcar uma época, contribuíam para aquecer uma rua ou um bairro. E que podem continuar a contribuir para aquecer a cidade.

E chegamos à parte em que você pode dar uma mãozinha e ajudar a recuperar o maior número de letreiros possível. Sempre que souber de um proprietário que queira desfazer-se dos seus, ou estiver a presenciar a ida de um deles para uma pilha de lixo, avise estes caça letreiros para o e-mail letreiro.galeria@gmail.com ou o número de telefone 918 723 055. Nas suas passeatas por Lisboa, mantenha os olhos bem abertos e lembre-se que pode ajudar a construir o Museu do Letreiro. Para que a história não se apague.


Pode ver a apresentação do projecto aqui e a sua actuação no terreno aqui. E na comunicação social: TVI, SIC, jornal i, Observador.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Das mãos

Margarida Melo Fernandes decora com a forma a cerâmica que desenha e coze e tem uma predileção por objectos utilitários de servir à mesa. Já colaborou com a “Kinfolk” e está à procura de criar “a chávena de café perfeita.”
Também já colaborou com A Vida Portuguesa. E é prova da beleza das coisas que saem das mãos das pessoas. As fotografias são de Mara Carvalho e do P3 de hoje.

Aparição

Hoje, 13 de Agosto, celebra-se mais uma aparição em Fátima. Mesmo que não faça parte dos seus planos massacrar os joelhos ou fazer-se à estrada peregrina, saiba que pode contribuir com uma aparição muito especial, onde quer que se encontre. Basta usar a Nossa Senhora ao peito, pertinho do coração como convém, e vê-la ganhar cor com a exposição solar. Tudo obra desta t-shirt desenvolvida por uma empresa portuguesa que se tem destacado na aplicação tecnológica ao vestuário para criar peças anti mosquito, bactérias, transpiração ou que, como esta, quase por magia, reagem à luz solar. Parece milagre mas é Manifesto Moda.

À venda n’ A Vida Portuguesa do Intendente, no número 23 do largo, todos os dias entre as 10h30 e as 19h30.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Andorinhas para Colar

Ruben Alves, o realizador de "A Gaiola Dourada", fotografado por Orlando Almeida com as Andorinhas para Colar d' A Vida Portuguesa. E saiu hoje no DN.

As Andorinhas para Colar são a actualização contemporânea de uma tradição popular. Colam-se (e descolam-se) com agilidade, em paredes interiores ou exteriores e vidros, e estão disponíveis em vários tamanhos, permitindo composições ao gosto e à mercê da imaginação de cada um.

Arquivo da Memória

"Nasceu em Foz Côa e começou por ser uma boa ideia para aliviar a solidão dos idosos internados em lares do concelho. Hoje é já um importante repositório de informação histórica e etnográfica. Chama-se Arquivo da Memória. (...)
Concebido pela Acôa a partir de uma ideia original da sua actual presidente, Alexandra Cerveira Lima, ex-directora do Parque e Museu do Côa, o projecto foi apoiado em 2010 pelo programa Entre Gerações, da Fundação Gulbenkian, e incluiu, nessa sua primeira fase, uma parceria com a escola secundária de Foz Côa, cujos alunos fizeram várias visitas a um lar local e ouviram os mais velhos descrever-lhes o estranho mundo da sua juventude, quando os rapazes dormiam em palheiros, não havia quartos de banho em casa, só se comia carne em ocasiões especiais, e namorar uma rapariga era o cabo dos trabalhos.

O objectivo inicial era tornar um pouco mais interessante a vida dos idosos internados em lares, recolhendo os seus testemunhos de vida e associando-os a um projecto que visava sensibilizar velhos e novos para a importância do património cultural e da história das comunidades locais. “A entrada no lar é difícil, mas depois os alunos achavam que afinal estavam muito bem com aquelas pessoas mais velhas, a ouvir histórias”, conta Alexandra Lima, acrescentando que também os entrevistados, quando lhes era mostrado o material e pedida autorização para o divulgar, reagiam positivamente: “as pessoas sentem que estão a deixar o seu retrato e vêem isto como um legado à família, uma coisa para mostrar aos netos”.

Texto de Luís Miguel Queiroz
Fotografias de Paulo Pimenta
Remontando à antiguidade, o pião é um jogo infantil antiquíssimo em Portugal. O pião de madeira deve ser envolvido com um baraço (o cordão) e então atirado ao chão, ficando a rodar e a bailar o mais longo tempo possível.
Os piões escolhidos por A Vida Portuguesa são fabricados artesanalmente na região de Barcelos, no norte de Portugal.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

"O último alfaiate do Chiado"

"Fomos conhecer a Alfaiataria Piccadilly, em Lisboa, de onde saem fatos por medida que custam milhares de euros. Esta é a história de João Ribeiro, um dos derradeiros resistentes de um ofício em vias de extinção.

A mulher está sentada num banco de madeira junto à janela do edifício no primeiro andar da Rua Anchieta, bem no coração do Chiado, em Lisboa. Curvada para a frente e com os óculos a escorregar-lhe para a ponta do nariz, pega numa linha, enfia na agulha e começa a coser, em gestos elegantes e treinados, a manga de um fato. O tecido que ela segura com os dedos curtos e roliços é o que realmente importa, mas os olhos do repórter fogem para o acessório. Estampadas na camisola da costureira estão duas palavras que são a antítese perfeita deste espaço: Zara Woman. É que as peças que daqui saem são para cavalheiros distintos, dispostos a pagar entre 1200 e mais de 5000 euros por um fato. Nem vestígio do pronto a vestir quase instantâneo e a preço de saldo do gigante espanhol da fast fashion. Contra um bom fato, não há argumentos.

Por lá andou, por exemplo, Aquilino Ribeiro, conhecido por ter os bolsos sempre deformados devido ao excesso de coisas que neles enfiava

João Ribeiro, 65 anos, é o mestre da Alfaiataria Piccadilly, que quase parece saída da londrina Savile Row, meca dos fatos por medida. A casa tem quase um século de história. Por lá andou, por exemplo, Aquilino Ribeiro, conhecido por ter os bolsos sempre deformados devido ao excesso de coisas que neles enfiava. Mas se não fosse este alfaiate, natural de uma pequena aldeia alentejana, a Piccadilly já teria desaparecido. Há três anos, quando as anteriores instalações, num primeiro andar da Rua de São Nicolau, ali bem perto, foram ocupadas por uma loja de uma cadeia de sanduíches, foi ele que resgatou a histórica casa da morte certa.

Tinha 11 anos quando começou, mas não foi uma escolha. “Naquela época não se escolhia”. Em Benavila, no concelho de Avis, fazia-se a quarta classe e depois ia-se trabalhar

Com mais de meio século de carreira, Ribeiro sabe bem que o ofício de um alfaiate é uma contradição nestes tempos do consumo rápido. Leva uma vida inteira dedicada a tornar os outros mais elegantes com fatos de fino corte. Tinha 11 anos quando começou, mas não foi uma escolha. “Naquela época não se escolhia”, conta ao Expresso, momentos antes de ser interrompido por um jovem advogado que veio experimentar um fato. Em Benavila, no concelho de Avis, fazia-se a quarta classe e depois ia-se trabalhar. Como ele tinha um tio que era alfaiate na vila, foi aprender com ele. “Não era algo que pensasse ser, mas experimentei e fui gostando.” Até hoje.

Quando voltou da guerra, 26 meses em Angola, ainda pensou dedicar-se a outra vida, mas depois apaixonou-se. Em menos de nada, estava casado. “Passei a ter outras responsabilidades. Já não podia pensar só em mim”, justifica-se.

João Ribeiro, 65 anos, faz fatos por medida há mais de 50. Vestiu Mário Soares quando este esteve na Presidência. O atual secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, também é cliente.
Chegara a Lisboa com 15 anos, à procura de uma vida melhor. Era isso ou França. No interior, a vida não era fácil. Esteve quase três décadas na Alfaiataria David, uma das mais conceituadas da capital, praticamente até esta fechar as portas. Depois, em 1992, lançou-se por conta própria, adquirindo outra casa histórica, a Loureiro e Nogueira, fundada nos idos de 1930. Quando comprou a Piccadilly, já quase todas as alfaiatarias da Baixa tinham fechado. No Chiado, só resta ele.

Em Lisboa, haverá outra meia dúzia de alfaiates, não mais. Ele é um dos mais novos. “Qualquer dia já não tem alfaiates para entrevistar”, diz, com um sorriso de criança, a tentar sacudir o desânimo. Depois, o rosto fecha-se, torna-se sério. “Não vejo futuro para esta profissão. Não aparece gente nova que queira seguir este ofício. É muito triste.”

Texto Nelson Marques
Fotografias José Carlos Carvalho