"Portugal está na moda. E a culpa também é de Catarina Portas - mentora da Vida Portuguesa, que recuperou marcas e produtos nacionais antigos - e de Mário Ferreira - dono da empresa de cruzeiros Douro Azul e candidato a turista espacial. Uma conversa sobre negócios, turismo e risco para descobrir o que têm, afinal, em comum, um tubarão do Norte e uma intelectual de esquerda lisboeta."
“Não acho que haja exploração exagerada de Lisboa, atenção! Aquilo que eu digo é que se deve repensar, porque o turismo de hoje não é o mesmo de há 20 anos, é muito massificado. É uma coisa muito rápida e, portanto, eu acho que as câmaras municipais, os atores da cidade, têm de pensar e definir regras claras para as coisas, refletir em conjunto. Há lojas, de facto, muito especiais que, com o tempo, se tornaram ainda mais especiais. Mas, como temos estado a assistir, há hotéis atrás de hotéis que estão a fechar lojas centenárias e com valor, em Lisboa. Eu não estou a dizer que todas as lojas antigas têm de se salvar, mas as que têm qualidade devem ser cuidadas porque são emblemáticas. (…) Uma loja centenária no rés do chão de um hotel é uma mais-valia. (...)
Agora faço parte de um conselho consultivo da Câmara de Lisboa, para as lojas com história. Tenho esperança que saia daqui um caminho. Atenção, isto não é um problema nosso, é comum a todas as cidades, hoje em dia."
“O meu problema com o modelo de turismo de hoje é as coisas tornarem-se todas iguais. Sou pela diferença, há espaço para toda a gente e para várias formas de fazer as coisas. Não tem nada a ver com saudosismo, mas sim com identidade, com quem somos e o que fomos. Faz-me impressão ver medalhões a fingir antigo, um pastel de nata, que foi inventado no outro dia, com uma inscrição a dizer que é de 1904, é tentarem enganar as pessoas. Não é preciso. Fizemos um produto novo, ótimo! Vamos afirmá-lo como novo.
Há lojas em Lisboa, daquelas que têm souvenirs portugueses feitos na Ásia (que há muitas!), onde se vende um souvenir que é um autocarro de dois andares, daqueles de levar turistas, iguais em dezenas de cidades e vendem-nos como se fossem típicos de Lisboa. Quando é o mesmo para não sei quantas cidades.”
“O meu negócio partiu de uma investigação sobre as marcas portuguesas. E com uma noção muito nítida de que esta história é benéfica para as marcas. É uma forma de contar a história de um povo, de um país. Consigo contá-la através de um rótulo de sabonete. É impressionante! Há sabonetes monárquicos, republicanos, sabonetes que têm a ver com o Estado Novo e depois há o sabonete Grândola Vila Morena. Também pensei as lojas como um sítio onde a pessoa pode começar a estudar um país.”
“O sucesso para mim não se mede em Ferraris ou Maseratis, nem sequer em milhões, apesar de já faturarmos em milhões - o que é bom porque nos permite concretizar outros projetos. Mas não é isso que me move. Tem muito mais a ver com o caminho que as ideias fazem. Eu tinha uma série de ideias há dez anos: achava que os portugueses deviam gostar dos seus produtos, que era possível ter lojas no centro histórico sem destruir tudo para fazer cubos brancos iguais a uma loja de um centro comercial, achava que os quiosques eram uma mais valia e não um trambolho e que davam charme à cidade, quis provar que a manufatura não era o nosso atraso - que o facto de termos uma indústria que ainda tem alguma manufatura é uma mais-valia. Havia uma série de ideias que eu queria ver fazer o seu caminho. Não serei responsável exclusiva, mas ajudei. E esta é a medida do meu sucesso.”
"E o seu sonho, Catarina?
Bem, penso que estou prestes a concretizá-lo: vou abrir o meu gabinete de design da Vida Portuguesa. Terei cá um casal de designers - um português e uma alemã , que estão a mudar-se de Berlim. Eles produziram um trabalho notável, com o artesanato algarvio. A ideia é fazer desenvolvimentos de produtos exclusivos para A Vida Portuguesa, trabalhar com as fábricas. Enfim, é uma extravagância, a liberdade de poder criar."
“O sucesso para mim não se mede em Ferraris ou Maseratis, nem sequer em milhões, apesar de já faturarmos em milhões - o que é bom porque nos permite concretizar outros projetos. Mas não é isso que me move. Tem muito mais a ver com o caminho que as ideias fazem. Eu tinha uma série de ideias há dez anos: achava que os portugueses deviam gostar dos seus produtos, que era possível ter lojas no centro histórico sem destruir tudo para fazer cubos brancos iguais a uma loja de um centro comercial, achava que os quiosques eram uma mais valia e não um trambolho e que davam charme à cidade, quis provar que a manufatura não era o nosso atraso - que o facto de termos uma indústria que ainda tem alguma manufatura é uma mais-valia. Havia uma série de ideias que eu queria ver fazer o seu caminho. Não serei responsável exclusiva, mas ajudei. E esta é a medida do meu sucesso.”
"E o seu sonho, Catarina?
Bem, penso que estou prestes a concretizá-lo: vou abrir o meu gabinete de design da Vida Portuguesa. Terei cá um casal de designers - um português e uma alemã , que estão a mudar-se de Berlim. Eles produziram um trabalho notável, com o artesanato algarvio. A ideia é fazer desenvolvimentos de produtos exclusivos para A Vida Portuguesa, trabalhar com as fábricas. Enfim, é uma extravagância, a liberdade de poder criar."
Texto: Sara Sá
Fotos: Gonçalo Rosa da Silva
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