segunda-feira, 18 de maio de 2015

"Cadernos e livros impressos à moda de Gutenberg"

"Na Edições Serrote há cadernos sabão azul e branco, toalhas de mesa, livros que revelam a visão que os estrangeiros, em séculos passados, guardavam de Portugal. Tudo feito com os preceitos da tipografia inventada por Gutenberg no século XV. Nuno Neves e Susana Vilela inspiram-se na actualidade e com os carimbos centenários dão vida a cadernos de edição limitada.

O sabão azul e branco faz parte do imaginário nacional. Durante anos foi o produto de limpeza preferido das donas de casa. O Caderno Sabão Azul e Branco não lava a roupa, embora como diz o adágio popular «lava os olhos». As páginas, de padrão igual ao dito sabão, estão prontas para receber palavras inspiradas. Este é apenas um dos cadernos da Edições Serrote. 



Nuno Neves e Susana Vilela iniciaram o projecto em 2004 com a procura de «oficinas tipográficas em Lisboa com o objectivo de produzir um caderno que fosse impresso em tipografia antiga, com caracteres móveis, à maneira de Gutenberg, o alemão que no século XV desenvolveu tipos móveis em metal, uma técnica que permanece ainda hoje em tipografias mais antigas», explica Nuno.



Muitas das tipografias tradicionais fecharam portas. Uma houve que aceitou o desafio do professor de desenho e da designer gráfica. «No fundo de gavetas comidas pelo bicho encontrámos gravuras e letras de chumbo mordidas e gastas pelo tempo, que eram utilizadas desde há décadas para imprimir facturas e cartões-de-visita», relembra Nuno que, entretanto, deixou o ensino e se dedica em exclusivo à Serrote.


O primeiro caderno nasceu nos primeiros dias de Janeiro de 2005. Trata-se de um exemplar liso, de miolo azul, com a capa impressa a duas cores. Nuno e Susana ficaram com muitos carimbos que as tipografias ao fecharem iam rejeitar e com eles tentam passar para os cadernos as ideias que surgem. «As ideias chegam de todos os lados, do nosso dia-a-dia, das pessoas com que nos cruzamos. Tentamos conciliar o moderno com o mais antigo», diz.



Nos carimbos há animais, estrelas, flores. «Estamos limitados às gravuras e tipo de letras mas isso dá-nos vontade de ser mais criativos para fazermos coisas diferentes com o que temos», adianta Nuno Neves.



Ao primogénito caderno liso, juntaram-se outros, quase todos com apontamentos muito nacionais, como o sabão azul e branco, a toalha de mesa, estrelado, bolacha. Criar com estes símbolos é o principal desafio da empresa. Mas há outros. O mais recente prende-se com a impressão. Nuno revela que decidiram adquirir uma máquina de impressão e, nesse momento, a aventura Serrote conhece então novos traços.



«Trabalhávamos com tipografias antigas que têm fechado. Desde que temos a máquina o desafio é imprimir, porque antes só assistíamos à impressão e agora temos mesmo de a fazer e resolver problemas da máquina», diz Nuno com um sorriso, revelando paixão e dedicação por uma ideia que diz «dá para um pessoa viver disto, embora duas pessoas não consigam subsistir só com este negócio. As vendas ainda são poucas».



Os projectos, a impressão e o dobrar dos cadernos é tarefa que cabe a Nuno e Susana. Actualmente, «agrafar os cadernos ainda é feito numa gráfica». Um trabalho manual que torna cada caderno único, uma autentica peça de colecção até porque as edições são limitadas.



A Serrote tem também uma colecção de livros cujos autores continuam a ser Nuno e Susana. Em «Portugal a Cores» fazem uma compilação de excertos de relatos de estrangeiros de visita a Portugal nos séculos XVIII e XIX; em «Trás-os-Montes» falam da terra por detrás dos montes do Marão, Alvão, Cabreira e Gerês e para lá do rio Douro das suas fragas, burros e sardões; torques, chouriças e leirões; lobos, recos e berrões.



Um dicionário de francês, um sobre o Minho e um romanceiro tradicional são outros títulos dos livros Serrote, a editora que tem ainda um caixote com misturas improváveis. «O Caixote Serrote foi pensado e concebido para ser desfrutado ao ar livre, sob um céu azul ou um céu estrelado», afiança Nuno.



Dentro do caixote, uma caixa de pinho gravada a quente, pregada, com tampa, há um caderno sabão azul e branco, fio de balcão, emblemas bordados, um par de meias bicolor e outros tantos produtos (no total dez) «produzidos especialmente para este projecto pelas publicações Serrote ou em colaboração com outros fabricantes portugueses».



De ideia em ideia, vendendo e aplicando o dinheiro em novos projectos, Nuno e Susana comemoram já dez anos de Serrote. Na loja on-line, em lojas nacionais e também lá fora distribuem os seus cadernos, livros e caixotes que povoam o imaginário de memórias de infância pela puerilidade de cada desenho. "

Sara Pelicano

Café Portugal 

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