sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A maravilhosa arca do passado


"(...) eu tinha um projecto a concurso, e estava à espera de conseguir apoios para fazer um filme-documentário. Às tantas as coisas foram acontecendo, tornou-se uma bola de neve e houve uma altura em que eu decidi de facto investir nisso. Era uma coisa que eu desconhecia, e eu adoro desafios impossíveis e aquilo parecia-me bastante impossível para mim na altura (abrir uma loja), portanto essa parte satisfazia-me (risos). Depois, por outro lado, comecei a apaixonar-me completamente pelo mundo que estava a descobrir e que era o mundo das marcas antigas e das fábricas e das pessoas, às vezes gerações atrás de gerações, que mantiveram uma fábrica, uma marca, um produto. É uma coisa que é muito difícil e hoje em dia eu tenho uma admiração gigantesca, um enorme reconhecimento, por estas pessoas que de facto lutam, conseguem continuar a manter empregos e a sustentar também um pouco da economia deste país. (...)

A pesquisa é a alma do negócio. É também uma das coisas que me dá mais gozo fazer, adoro visitar fábricas, eu não sabia, mas acho que é mesmo uma das coisas que mais gosto na vida, é visitar fábricas e perceber como é que as coisas se fazem. Nós perdemos tanto o contacto com a realidade na nossa vida hoje em dia, será que nós sabemos como é que se faz uma colher, um prato, temos ideias bastante vagas sobre isso geralmente, mas as coisas são concretas e as coisas são feitas por pessoas. Por exemplo, o tapete que está na minha sala, eu sei quem foi a pessoa que o fez, ou muitas das coisas que eu uso eu sei quem foram as pessoas que fizeram, que embalaram, eu vejo a cara delas, e isso é toda uma outra relação que passamos a ter com o consumo, e que eu acho que é uma relação muito mais saudável, e que sobretudo conduz ou pode conduzir a um mundo muito mais interessante e também mais saudável. Se nós fossemos capazes de, quando compramos um objecto ver a cara de quem o fez, se quando compramos uma t-shirt que custa €3, virmos porque é que ela custa €3, quem é que a fez e quanto é que ela recebeu por isso, o mundo seria muito diferente, não tenho dúvida nenhuma sobre isso. (...)


As histórias dos produtos contam coisas fascinantes. A história do consumo também conta a história de um país, muitas das empresas da marca que nós vendemos já existem antes do Salazar subir ao poder e continuam a existir depois do 25 de Abril, ou depois de o Salazar deixar o poder. E portanto, muitas delas foram-se adaptando, os gostos das pessoas também mudaram. Costumo dar este exemplo dos rótulos dos sabonetes que eu acho que é muito eloquente: uma fábrica como a Confiança tanto fez o sabonete da exposição do mundo português, em 1940 - foi a grande exposição do regime fascista -, como fez o sabonete Grândola Vila Morena, em 1975, portanto é de facto quase possível contar a história do país através de rótulos de sabonetes de uma fábrica e de gostos. Nos anos 10 ou 20, a influência francesa culturalmente era gigantesca, os sabonetes eram todos rotulados em francês, porque senão não eram chiques, aí já evoluímos um bocadinho(risos) mas continuamos a gostar muito de produtos estrangeiros. Acho que isso está a mudar felizmente, porque a nossa economia bem precisa disso. (...)

Não acho que devemos viver no passado, mas acho que também não o devemos esquecer, faz parte de nós. Mas o futuro também me interessa muito, atenção (risos). O que é interessante é que muitas coisas já foram feitas, nós não estamos sempre a inventar a roda, há coisas que eram boas, que foram bem feitas ao longo do tempo, se calhar podemos pegar nelas e continuar essa evolução, adaptá-la ao mundo e às necessidades de hoje. Portanto, eu acho que o passado é uma maravilhosa arca onde ir pilhar ideias para o futuro. (...)

Nós já não temos a mesma fé no futuro que tinham os nossos pais e os nossos avós. Normalmente, em alturas de crise o que acontece geralmente é que as pessoas tendem a refugiar-se em coisas seguras, e o passado é seguro, o futuro não sabemos como é que vai ser, mas o passado nós controlamos. Portanto, normalmente essa é uma tendência que se verifica sempre em alturas de crise e recessão. Mas eu na altura peguei nisso não de todo por uma atitude saudosista. (...) para mim estes produtos são uma questão de identidade e não de todo uma questão de saudade, eu não gosto deles porque eles são velhos, eu gosto deles porque eles são bons, e são bons porque existem há não sei quantos anos, e que houve não sei quantas pessoas a tentá-los fazer bons, aliás senão não tinham resistido estes anos todos no mercado, como é óbvio."


Catarina Portas em entrevista à revista MAXIM, Dezembro 2012.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Praça de Natal


Na Praça da Alegria desta manhã, não perca uma breve visita guiada pela loja e algumas das marcas de sempre que fazem A Vida Portuguesa. A partir do minuto 17:45 da quarta parte do programa. A palavra a Serenella Andrade...

Nos bocas (dos blogues) do mundo

Uma adivinha para animar a tarde: quando um grupo de bloguers lisboetas (que escrevem sobre moda e tendências) recebe uma representação de congéneres espanholas, e lhes quer mostrar as suas lojas preferidas, onde é que elas acabam todas?... As pistas são da da Amberhella.
"Fomos à Luvaria Ulisses, à Vida Portuguesa, à República das Flores, ao Plano Infinito, à Lisbon Lovers e ao Le Chat. É sempre bom poder mostrar uma cidade como Lisboa", diz A Pipoca Mais Doce.
Segundo a Carmo "a manhã foi abençoada pelo sol". E dentro da loja também brilhavam radiantes inúmeras gulodices. "Entrar na loja A Vida Portuguesa é uma perdição e uma delícia! Facilmente me perco por lá, e esta última vez, não foi excepção... Trouxe uma boneca que tem tanto de amorosa como de creepy, um caderno e uma caixa de lápis Viarco (love, love,love!!!) :) "




quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Chocolate para Turistas "Costa do Sol"


Neste Natal, a Regina e A Vida Portuguesa juntam-se para lançar uma linha clássica de chocolates, de rótulos vintage e tema inesperado, resgatados dos primórdios daquela que é uma das grandes marcas históricas portuguesas. Um trio de tabletes de Chocolates para Turistas, também vendidas numa caixa de oferta chic a valer, como se diria na época.

OS CHOCOLATES PARA TURISTAS
Em 1928, o cheiro guloso do chocolate começou a espalhar-se pelo bairro lisboeta de Alcântara com a fundação da primeira fábrica da Regina. Nascia então a indústria do turismo e o Estoril afirmava-se como o primeiro destino chic e cosmopolita do país com a Costa do Sol a publicitar-se dentro e fora de portas. A Regina, marca seleta de chocolates, aproveitou a moda para lançar uma curiosa novidade: as tabletes Costa do Sol, dedicadas especialmente aos turistas, e que agora se reeditam. Entre as décadas de 30 e 40 do século passado, foram-se sucedendo as tabletes com vistas do Estoril, ilustrações de banhistas e elegantes barcos de recreio. A Regina reinava no mercado português, com chocolates que pertencem à memória alimentar coletiva portuguesa, como as icónicas Sombrinhas, o Coma Com Pão ou o chocolate Bebé, prémio das inesquecíveis máquinas de furos. Em 1970, 500 operários fabricavam 15 toneladas diárias de produtos Regina mas nos anos 90 a empresa viria a encerrar. Graças à antiga concorrente Imperial, de Vila do Conde, que comprou a marca e a relançou em 2002, voltou com o sucesso de sempre e para felicidade de tantos. Em 2012, quando tantos estrangeiros descobrem Portugal, regressam os Chocolates para Turistas, sempre atuais, muito deliciosos e incrivelmente charmosos.

A HISTÓRIA DESTA EDIÇÃO
A reedição dos Chocolates para Turistas da Regina também tem a sua história para contar. Tendo a Imperial comprado a marca após o fecho da empresa Regina, não ficou na posse do arquivo histórico completo da marca, dedicando-se a reconstituí-lo desde então.
Nenhum destes rótulos agora reeditados, datados dos primórdios da Regina, eram conhecidos da Imperial. Porém, nas suas pesquisas sobre marcas antigas portuguesas, Catarina Portas deu um dia com o rótulo original da tablete “Banhista” e adquiriu-a. E mais tarde, reparou na caixa “Barco de Recreio”, exposta na extraordinária colecção de Maria Proença no Centro de Artes Culinárias, no Campo de Santa Clara, em Lisboa. Intrigada, foi indagando e descobriu que a sua amiga e olisipógrafa Marina Tavares Dias, uma fã de sempre da Regina, possuia na sua colecção particular vários belos rótulos antigos com vistas do Estoril, alguns deles assinados pelo conhecido aguarelista e ilustrador Alfredo de Morais (1872-1972). Em comum, embora com ilustrações de géneros diferentes, todas estas embalagens antigas, partilhavam o nome “Costa do Sol”. E aliciavam para uma ideia que A Vida Portuguesa propôs e a Imperial, actual detentora da marca Regina, acolheu com entusiasmo. Convém lembrar que a reedição dos clássicos da Regina, levada a cabo no decurso dos últimos 10 anos superou todas as expectativas da Imperial, demonstrando a popularidade da marca e as saudades que o público tinha de produtos como as Sombrinhas de Chocolate, o Coma Com Pão ou os Chocolates de Aromas de Fruta.
Em conjunto, a Regina e A Vida Portuguesa trabalharam com preciosismo nesta reedição fiel e, afinal, tão actual – quando, tantos anos depois, Portugal se afirma como um dos destinos turísticos preferidos por turistas de todo o mundo. E ambas as marcas agradecem a colaboração generosa das coleccionadoras que facultaram os seus rótulos antigos para dar a conhecer um produto deveras original da história do consumo português.

OS PRODUTOS
A gama dos novos Chocolates para Turistas da Regina compõe-se de 3 tabletes de 100g com imagens e sabores diversos: chocolate negro, chocolate de leite e chocolate com amêndoas. As tabletes vendem-se avulso mas também numa magnífica caixa de cartão rígido, ideal para oferta, contendo as três tabletes.
Os Chocolates para Turistas pretendem atingir um mercado seleccionado, vendendo-se nas lojas A Vida Portuguesa (Lisboa, Porto e Online) mas destinando-se também ao comércio gourmet nacional, pontos turísticos e às melhores pastelarias e confeitarias de todo o país.
Preços recomendados de venda ao público: Tablete de 100g 2,99€ / caixa com 3 Tabletes 10€.


A REGINA/ IMPERIAL
Nascida em 1928, no bairro de Alcântara em Lisboa, a Regina reinou no mercado do chocolate português até aos anos 90, quando faliu e encerrou definitivamente. A marca foi então adquirida pela Imperial, fábrica concorrente nascida em 1932 em Vila do Conde, agora propriedade do Grupo RAR. É o maior fabricante nacional de chocolates, detentor das principais marcas portuguesas do sector como Jubileu, Pintarolas, Pantagruel, Fantasias e Allegro, além da Regina. Líder de mercado em Portugal, a Imperial exporta atualmente os seus produtos para mais de 40 países, alcançando inclusive segmentos especiais de mercado (sem açúcar, kosher, halal).

A VIDA PORTUGUESA
Fundada em 2007 por Catarina Portas, A Vida Portuguesa afirmou-se como um novo conceito de loja, dedicada aos produtos e marcas antigas portuguesas, sempre com o intuito de valorizar o saber fazer e promover a indústria e manufactura nacionais, junto de portugueses e estrangeiros. Com portas abertas no Chiado, em Lisboa, e nos Clérigos, no Porto, e vendendo oline para todo o mundo, A Vida Portuguesa é também uma marca que reedita e recupera produtos de sempre, mercê de parcerias com marcas como Ach. Brito, Saboaria Confiança, Lápis Viarco, Cadernos Emílio Braga, Bordalo Pinheiro e, agora, a Regina.

Disponível aqui.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Christmas in London


Lá fora a fazer pela Vida, em versão feirante para a Monocle, foi assim o fim de semana no mercado de Natal londrino, com sabor a bolo rei e xarope de refresco. "Oh freguês, venha provar o capilé que é bom também em inglês!"




Há Vida Portuguesa em Londres


"A Vida Portuguesa" de Catarina Portas foi uma das lojas de todo o mundo convidadas pela revista "Monocle" para a sua Feira de Natal em Londres, hoje e amanhã.

Não é a primeira vez que a "Monocle" faz referência a Catarina Portas e à "A Vida Portuguesa", mas é uma estreia da sua loja nas Feiras de Natal da revista. Que produtos vai levar?
Pediram-nos produtos alimentares e outros que simbolizassem Portugal. levamos os três novos sabores dos xaropes do Quiosque de Refresco e a nova edição de Chocolates para Turistas" da Regina, que não fazia estes chocolates desde 1930. E, curiosamente, fui eu quem lhes levou os rótulos originais, porque quando a Imperial comprou a Regina não ficou com o arquivo. Um dos rótulos, comprei-o na Feira da Ladra, outro tinha-o a historiadora Marina Tavares Dias. É também o primeiro produto deles que não irá para as grandes superfícies, sendo apenas vendido em lojas gourmet, pastelarias e confeitarias. Ao todo, levo 150 quilos, entre mantas alentejanas, cabazes de Natal, andorinhas Bordalo Pinheiro, cadernos Emílio Braga...
Sente-se embaixadora do seu país quando está em eventos no estrangeiro a vender produtos de A Vida Portuguesa?
Sim, claro. Mas também confirmei um feeling, que estes produtos não funcionavam apenas por saudade - quando vejo os estrangeiros terem exatamente a mesma reação que nós.
O que lhe dá mais satisfação no projeto A Vida Portuguesa?
Termos voltado a trazer a uma geração mais nova uma série de produtos que eles não conheciam. E ter conseguido que a Bordalo Pinheiro passasse a fabricar 10 mil andorinhas por ano, em vez de 10 andorinhas em 10 anos."

Katya Delimbeuf. Revista do Expresso, 1 de Dezembro 2012.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Iluminações ao alto


A árvore está montada, a iluminação foi ligada, a livraria reorganizada e até as prateleiras levaram uma demão de tinta fresca... Está tudo a postos para o início da época natalícia, que arranca hoje no Chiado. Temos produtos novos e promoções especiais a chegar para aqueles que mais se quer mimar. Os tempos podem ser de crise mas a verdade é que o Natal sempre foi muito mais do que vender e comprar.

(Ilustração de Laura Costa.)


Dos anais da imprensa mundial

Ou como em 1879 o New York Times descobria a encantadora história do Chá Gorreana:


It seems that two Chinese tea-growers have been sent for by the Agricultural Society of St. Michael, and, after a careful examination of the tea plantations, they pronounced the plants as belonging to the very best varieties grown in China. It is prophesied that "the time is not far off when tea from St. Michael will come to the European market and prove to be of a very good quality."

Cresce em pleno Atlântico, na ilha d
e São Miguel, nos Açores, uma raríssima plantação de chá europeia. A sua produção iniciou-se em 1874, com o conselho técnico de dois chineses mandados vir então com esse propósito. Há cinco gerações na mesma família, a Gorreana é a mais antiga fábrica de chá da Europa ainda em funcionamento e merece hoje a visita, para testemunhar a história e o cuidado artesanal desta marca. Com uma plantação de 32 hectares, produz anualmente mais de 30 toneladas, pelo método Hysson, a vapor. O chá Gorreana declina-se em quatro variedades: Orange Pekoe, Pekoe, Broken Leaf e Verde. Todos chás de aroma intenso e com a particularidade de não conhecerem os pesticidas, graças ao clima sempre húmido da ilha.





quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A reciclagem em chinelo

Dias frios pedem pés quentes e "miminhos" que chegam até mesmo ao Japão. Hoje recuperamos um artigo de Kathleen Gomes para a revista do Público sobre como os chinelos que são feitos manualmente com sobras de tecidos na Serra da Estrela (para criar pares rústicos, únicos e irrepetíveis) conquistaram o coração dos japoneses amantes da perfeição.


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

An unexpected, quaint store


"Everything began with a reporter’s investigation. Catarina Portas wanted to know more about Portuguese daily life in the 20th century and ended opening a store in Lisbon where some of the country’s most iconic products can be found, telling stories and bringing back memories." A video by Magda Wallmont for Portugal Daily View.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Vida Portuense


Faz hoje precisamente três anos. Era uma sexta-feira e acabavam dois anos e meios de pesquisa e alguns meses de montagem. Abríamos finalmente A Vida Portuguesa no Porto, com uma varanda para os Clérigos. No dia seguinte, chamámos os fornecedores e os amigos para festejar e aproveitámos para apresentar ao mundo a nossa loja online. Hoje queremos agradecer à equipa, pequena e dedicada, capitaneada pela Francisca Alves Costa, que se entrega continuamente a este espaço e aos seus clientes. E aos portuenses que nos acolheram tão generosamente desde o primeiro momento, como continuam a fazer todos os dias. Obrigada, bem-hajam, e sejam sempre muito bem-vindos!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Convida. Com Vida.

Continuamos a marcar presença no guia ConVida, que dá a (re)descobrir os bairros desta Lisboa tão antiga e sempre nova. Em destaque nesta edição de Novembro, os artigos da linha Musgo Real da Ach Brito (de que teremos uma promoção especial mesmo a tempo para o Natal), as charmosas e únicas peças da Secla (aqui, caneca em verde-água e leiteira em amarelo) e uma novidade absoluta, apresentada em primeiríssima mão e que está quase, quase a chegar: a tablete de chocolate "Costa do Sol", recuperada pela Regina juntamente com A Vida Portuguesa. Uma re-edição preciosa de um chocolate que se afirmava "confortável para os turistas" e volta para fazer as delícias de diferentes gerações de portugueses.


sábado, 17 de novembro de 2012

De categoria


Não há muitas empresas que se possam gabar de oferecer "produtos de categoria desde 1874" mas a Fábrica de Biscoitos e Bolachas Paupério é uma delas. A marca de Valongo correu mundo e foi medalhada na exposição Hortícola e Agrícola do Porto
, na Exposição Internacional de Filadélfia e na do Rio de Janeiro de 1879.
Descurando tendências de mercado e todo o tipo de modernices desnecessárias, a fábrica continua a puxar dos galões da "padronização da produção, a exclusividade das receitas e uma única tradição de mais de cem anos". "O registo da patente Paupério, que remonta ao início do século XX, atesta a importância e a exclusividade destes produtos." Ou não fosse um "produto de categoria", aqui em versão "sortido selecção" e "sortido fino".

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Lanche de Viana

Depois do furor da marmita, A Vida Portuguesa propõe o regresso de outro clássico: o saco de lanche. Ou o espanto da simplicidade; que nos chega de Viana do Castelo.

Poucas regiões na Europa serão tão ricas em bordados populares como a região de Entre Douro e Minho. E nenhuns são tão originais, genuínos e populares como os bordados de Viana do Castelo. Decorando originalmente os trajes de festa, só no início do séc. XX invadiram toalhas, almofadões, caixinhas de costura ou alfineteiros. Inspirados pela fauna e pela flora locais, dedicam-se também a representar o amor em belos e gordos corações. A maioria dos bordados de Viana seleccionados por A VIDA PORTUGUESA são obra de um dedicado e prendado atelier que, desde 1985, prossegue e inova a tradição.


Dia do Desassossego


Se fosse vivo, José Saramago cumpriria amanhã 90 anos. A Fundação com o seu nome assinala a data com comemorações várias, cujo programa pode acompanhar aqui. Como uma obra que se levanta do chão.

Pretexto (se preciso fosse) para redescobrir na nossa livraria "José e Pilar", resultado dos quatro anos de trabalho e amor captados pela câmara de Miguel Gonçalves Mendes, posteriormente vertidos para livro. Que acresce ao filme com o mesm
o título conversas inéditas. Ou, como explica o autor/realiador: "O que se tem no livro é um conteúdo filosófico e ideológico que, infelizmente, no filme, por uma questão de tempo, não está. É o caso das origens da Pilar [del Río], a questão da família, o processo de criação do José [Saramago], a forma como ele lidava com a fama, com os jornalistas, ou mesmo com a morte. São temas muito mais desenvolvidos." Viagem à intimidade do casal e do escritor.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Orgoglio della tradizione



"L'apipista dell' orgoglio è una giornalista, Catarina Portas. Nel 2004 conduce un' inchiesta su che fine hanno fatto segnato i'nfanzia della sua generazione: dalla pasta dentifricia Couto alle matitecolorate Viarco, dai fazzoletti del Minho ricamati con dichiarazioni d' amore alle caramele del dottor Bayard, che raccontano una storia di amicizia complice e solidale sullo sfondo della seconda guerra mondialetra un droghiere di Lisbona, Álvaro Matias, e un medico francese rifugiato in Portogallo, il dottor Bayard, che ricambió il generoso aiuto dell' amico facendogli dono della formula di una caramella per la tosse, oggi famosissima.


Dopo l'inchiesta, Portas lascia il gionalismo per restituire al suo paese i prodotti di un tempo. Pervicare, si estabiliscein business plan e progettazione; nel 2007 nasce il primo punto vendita a Lisbona (rua Anchieta 11, avidaportuguesa.com), a cui fa seguito un secondo a Porto. Un' operazione culturale prima che commerciale: Crediamo che gli oggetti possano raccontare di un popolo e dei suoi gusti, di una società e del suo contesto. Crediamo nel potere magico degli oggetti, che ci rivelano a noi stessi, scrive Portas." Roberta Corradin, L' Espresso.

Outra revista italiana, a Gambero Rosso veio conhecer os chefs que fazem furor na cozinha lisboeta e recomenda A Vida Portuguesa como uma das moradas essenciais ao "shopping gastronómico".


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Cantar o cinema


Porque o cinema nos está na massa do sangue, A Vida Portuguesa tem todo o gosto em se associar ao Lisbon & Estoril Film Festival, que arranca já amanhã. Dia-a-dia, o programa, os convidados, as novidades... acompanhem tudo aqui.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Dias de magusto

Patrono dos soldados aos pedintes, dos alfaiates aos cavaleiros, dos restaurantes aos hotéis, dos cavalos aos gansos, dos produtores de vinho aos alcoólicos reformados, São Martinho haveria de estender o seu afamado manto de milagreiro sobre muitos. Húngaro de origem, Martinho chegou a ser o mais popular dos santos em França durante a Idade Média e deixou o seu nome em muitos lugares do norte ao sul de Portugal (de São Martinho das Amoreiras ao da Cortiça).

O seu espírito de generosidade e humildade ficou perpetuado na lenda segundo a qual partilhou a capa com um mendigo, afastando a chuva para dar lugar ao sol do "Verão de São Martinho". E em 2005 o Conselho da Europa haveria mesmo de o proclamar "modelo europeu de partilha". Ainda hoje o povo não dispensa a oportunidade de o festejar com a exuberância associada à altura do calendário rural, em que terminam os trabalhos agrícolas e se começa a desfrutar das colheitas. E assim, ainda hoje se assam as castanhas e se prova o vinho em sua honra. O nosso magusto está montado, sejam benvindos.


«O S. Martinho, como o dia de Todos os Santos, é também uma ocasião de magustos, o que parece relacioná-lo originariamente com o culto dos mortos (como as celebrações de Todos os Santos e Fiéis Defuntos). Mas ele é hoje sobretudo a festa do vinho, a data em que se inaugura o vinho novo, se atestam as pipas, celebrada em muitas partes com procissões de bêbados de licenciosidade autorizada, parodiando cortejos religiosos em versão báquica, que entram nas adegas, bebem e brincam livremente e são a glorificação das figuras destacadas da bebedice local constituída em burlescas irmandades. Por vezes uma dos homens, outra das mulheres, em alguns casos a celebração fracciona-se em dois dias: o de S. Martinho para os homens e o de Santa Bebiana para as mulheres (Beira Baixa). As pessoas dão aos festeiros, vinho e castanhas. O S. Martinho é também ocasião de matança de porco.»

in "As Festas. Passeio pelo Calendário"
de Ernesto Veiga de Oliveira
Fundação Calouste Gulbenkian, 1987


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Na cabeça do arquitecto

Por dentro do gabinete e da cabeça de um dos maiores arquitectos portugueses e mundiais. "Eduardo Souto de Moura: Atlas de Parede, Imagens e Método", agora também na nossa livraria.

"Como é que um arquitecto trabalha? Sabemos que gere um n
úmero complexo de solicitações, das exigências peculiares do cliente às limitações geológicas do terreno, passando pelo autoritarismo dos regulamentos e pela subjectividade do mestre-de-obras. O projecto é o lugar onde essa gestão ganha forma documental e a Arquitectura é o saber que permite operar o projecto.
Mas como é que se cartografa esse saber? Como é que ele é composto? Como é que ele se constrói?
Este livro navega por essas interrogações, utilizando o imaginário visual do arquitecto Eduardo Souto de Moura para ensaiar algumas hipóteses. As muitas imagens que conquistaram o espaço do livro foram sendo recolhidas pelo arquitecto e dialogam com desenhos e projectos originais. Estiveram ou estão ainda afixadas nas paredes do seu escritório, arquivadas em gavetas pesadas, penduradas nas paredes de casa e, particularmente, presentes ou latentes no modo como o arquitecto imagina a Arquitectura."


"O livro reúne textos teóricos sobre a questão da imagem e da sua presença nas metodologias de trabalho da arquitectura elaborados por Philip Ursprung, Diogo Seixas Lopes, Pedro Bandeira e do próprio Eduardo Souto de Moura. A edição foi coordenada por Pedro Bandeira e André Tavares e o objecto desenhado pelo designer João Faria." Colecção Fora de Série, Dafne editora.

Rapariga Karateca

Para desfrutar deliciadamente gomo a gomo, que é como quem diz página a página, ou não fosse cortesia da Planeta Tangerina, "O Caderno Vermelho da Rapariga Karateca" veio inaugurar a coleção para leitores mais crescidos "Dois Passos e Um Salto" e vencer o Prémio Branquinho da Fonseca 2011. Ana Maria Magalhães, que integrou o júri, justificou assim a decisão unânime: "fresco, despretensioso, divertido, com ritmo e com graça, lê-se com agrado e anuncia uma jovem escritora que se inicia como quem é capaz de erguer um projeto pessoal." A jovem escritora em questão é Ana Pessoa e o ilustrador de serviço Bernardo Carvalho. Mas afinal, quem é a rapariga de quem todos falam?

"N não é uma menina, é karateca.
N tem 14 anos, quase 15, e o seu maior sonho é ser cinturão negro e beijar o Raul.
N gosta de escrever, mas prefere lutar com o Raul.
(Escrever é uma seca.)

Isto não é um diário. Não tem chave, não tem segredos.
(Sim, tem segredos.) Também tem vontade própria, páginas movediças, palavras como «diarreia» e «romântico» e personagens como a bruxa má que quer aprender a ser boa e a mosca que não sabia quem era.

Isto é o Caderno Vermelho da Rapariga Karateca. O objeto preferido de N,
um animal de estimação, uma personagem, uma pessoa de verdade.
(O que é a verdade?)"


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Agendar o ano que vem

Um ano novinho em folha, 2013 começa desde já a organizar-se na agenda que a Firmo preparou, à semelhança dos cadernos azuis que vieram com este ano que já é velho e que conquistou até mesmo o escritor norte-americano Paul Auster. "Eu costumava comprar esses cadernos quando ia a Lisboa. São muito bons, muito resistentes. A partir do momento em que começamos a escrever neles, nunca mais nos apetece escrever em coisa nenhuma" (in "A Noite do Oráculo").

Inspirado nos espécimes comerciais tradicionais (Livros de Actas, Contas ou Contabilidade, como eram vulgarmente chamados) foi rapidamente adoptado por profissionais das mais diversas áreas, dos talhantes aos retroseiros, para registar o dever e o haver dos seus dias. Foi fiel depositário dos segredos, inspirações e todo o tipo de apontamentos preciosos da gente com o vício de escrever, rabiscar e ilustrar; tornando-se indispensável a gerações de estudantes, viajantes, escritores.

Das mercearias de bairro aos romances do autor norte-americano, o Caderno Azul (ou "Blue Note") da Firmo já viveu muitas vidas. Líder na produção e comércio por grosso de artigos de papelaria, a Firmo já conta com mais de 60 anos de tradição, sob o lema "todos temos um papel".


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Nostalgia portuguesa

Ficamos sempre deliciados com as notícias de jornais e revistas que os nossos clientes têm a amabilidade de nos trazer. Muitos deles, ainda frescos dos vôos internacionais, ficaram a saber da nossa existência através das publicações dos aviões. E trazem esses ou outros recortes que o comprovam, como o que nos chegou esta semana, da revista sueca ELLE Interiör.

"NOSTALGIA PORTUGUESA. A proprietária Catarina Portas reuniu produtos antigos e típicos portugueses. Aqui podem encontrar-se belas mantas alentejanas, cadernos Emílio Braga, sabonetes Ach Brito entre muitos outros, todos em belas embalagens retro."



sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Mazagran na livraria


É uma das novidades da semana, já em destaque na nossa compacta mas selecta livraria. Um vulto maior das letras portuguesas que dá à estampa um livro de crónicas (e "Recordações & outras fantasias"). O lançamento oficial deste Mazagran que
se lê acontece hoje às 18h30 na Biblioteca Municipal Florbela Espanca em Matosinhos, com a presença do autor, José Rentes de Carvalho. E amanhã, em Lisboa, às 16h00, haverá uma apresentação em jeito de conversa com os críticos literários Isabel Lucas e João Bonifácio, no Quiosque de Refresco do Príncipe Real.

“À infância ninguém retorna e o passado perde-se sem remédio, mas por repentes toma-me a vontade de voltar à terra onde nasci e lá, tirando da prateleira da cozinha um copo grosseiro, sentar-me num escabelo junto da pipa e beber como dantes: sem ciência nem medo de errar, só por gosto.” Das 320 páginas que apetece saborear com calma, como bebida que lhe dá título, e que deleita, revitaliza e dá energia.

Crónicas para beber


"A verdade continua a não ser o mais importante. Importante é o jogo que vai mantendo com a memória para o qual o autor convoca o leitor enquanto lhe serve um mazagran.
A bebida, uma das preferidas no Magrebe, dá o nome ao mais recente livro de José Rentes de Carvalho (Vila Nova de Gaia, 1930) publicado em Portugal, um conjunto de "recordações e outras fantasias" em formato de crónica, metade das quais epistolares, ao longo do qual o escritor expõe ideias e faz confissões, numa conversa onde quase se consegue escutar a respiração de quem as lê.
De preferência na companhia de um mazagran: "um copo grande cheio até mais de um terço com café forte, um volume igual de água gasosa, muito açúcar, uma rodela de limão", e "quando o Profeta abranda a sua vigilância junta-se-lhe um cálice de conhaque"."


Da recensão de Isabel Lucas no ípsilon de sexta-feira passada. A crítica literária estará no Quiosque de Refresco do Príncipe Real, com o colega João Bonifácio, para apresentar o último livro de José Rentes de Carvalho. No sábado, às 16h00.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

"Num certo sentido, sou um bocadinho anarquista"


Meses depois do golpe do destino, que lhe roubou o irmão, Catarina Portas define prioridades: equilibrar a vida privada, escrever o livro, fazer crescer A Vida Portuguesa.

Achava que ia ser arquiteta, aos 17 anos dedicou-se à chapelaria e tornou-se adulta no jornalismo. Mas, fazendo uma retrospetiva, Catarina Portas considera que tudo se conjugou para a criação de A Vida Portuguesa, a empresa que comercializa marcas antigas portuguesas. Em 2009, revitalizou os tradicionais Quiosque de Refresco, na Praça Luís de Camões, no Príncipe Real e na Praça das Flores, e pretende abrir mais antes do final do ano. Filha de Margarida Maria Gomes de Sousa Lobo e Nuno Portas, a irmã de Paulo e Miguel Portas é apartidária, mas interventiva. Entre sonoras gargalhadas e as lágrimas que lhe banham os olhos quando fala do irmão, Miguel, que morreu de cancro do pulmão no passado mês de abril, a mais nova do “trio” recorda uma infância marcada pela diversidade, numa família onde o sentido de humor sempre ajudou a ultrapassar os diferendos.

VIP – Aos 17 anos queria ser chapeleira, 15 anos depois estamos aqui, na loja A Vida Portuguesa. O gosto pelos ofícios tradicionais é-lhe inato?
Catarina Portas – Não sei, mas sempre quis ser muita coisa na minha infância: arqueóloga, antiquária, arquiteta... aliás, sempre achei que ia ser arquiteta. Queria ser várias coisas, mas sem grande convicção, porque achava sempre que ia parar à arquitetura. Depois aconteceu de facto de interessar-me por uma profissão manual, a chapelaria de alta-costura, e fui aprendiza durante dois anos. Em simultâneo enveredei pelo jornalismo. O que aconteceu de interessante com A Vida Portuguesa é que todas as experiências que tive na vida se conjugaram para vir dar aqui: o jornalismo, a investigação, até a televisão, que me ajudou a treinar os meus dotes comunicacionais, o documentário e depois o interesse que tinha por trabalho manual especializado...

Quando saiu de casa, aos 16 anos, para aprender a fazer chapéus, a ideia foi bem recebida?
Sim, quer dizer... saí de casa para ir viver com o meu irmão Miguel. Eles deram-me liberdade e responsabilidade, sobretudo, e nunca nos facilitaram demasiado a vida. Acho que isso foi uma boa escola. Foi muito divertido esse período que vivemos juntos, porque o Miguel estava numa revista que se chamava Contraste, e a redação funcionava lá em casa. Foi um período muito animado.

Começou a trabalhar muito cedo, com pessoas mais velhas. Cresceu muito rápido?
Sim. Tinha uma certa “bagagem” teórica do mundo, porque sempre gostei muito de ler. Mudei de país várias vezes. Aos cinco anos, a minha mãe foi fazer o doutoramento para Inglaterra e fui com ela, depois foi consultora da Unesco, em Paris, quando tinha oito anos. Fiz a escola primária em várias escolas e em várias línguas. Como os meus amigos não podiam ir comigo, os que podiam ir comigo eram os livros, ganhei o hábito de ler muito... digamos que tinha uma certa “bagagem” teórica do mundo. Claro que depois comecei a investigar o mundo na prática e não era bem como nos livros!

Depois descobre o jornalismo através do seu outro irmão, o Paulo?
Foi na altura em que estava a acabar o liceu francês, estava a pensar naquilo que iria fazer a seguir e tinha muitos amigos que trabalhavam no Independente. Tinha sugerido ao meu irmão fazer uma secção de utilidades, coisas abertas fora de horas e ao domingo. À última hora não tinha quem fizesse e disse-me para fazer eu. Depois comecei a fazer outras coisas.

A escrita era fácil para si?
Não, tinha toda a insegurança do autodidata. Comecei a trabalhar aos 19 anos, depois fiz o concurso para o Correio da Manhã Rádio e a coisa que eu achava mais fácil do mundo passou a ser a coisa mais difícil do mundo. Ganhar os prémios revelação do Clube de Jornalistas e do Clube Português de Imprensa, na Marie Claire, deu-me alguma segurança.

Como se dá a passagem para a televisão?
Quando regressei de um curso nos Estados Unidos convidaram-me para a informação da RTP. Estive um ano na informação da RTP e depois a Manuela Moura Guedes convidou-me para o Raios e Coriscos.

Mas sendo tão tímida, não foi difícil para si?
Assustou-me imenso. Aliás, durante o primeiro ano, nunca apareci. Foi a Manuela Moura Guedes que me convenceu a apresentar, foi ela que me treinou. Depois veio o Júri da Cornélia, o Frou Frou, com a Alexandra Lencastre, era muito engraçado... No primeiro canal tínhamos muita audiência, mas estávamos muito condicionados e no segundo canal tínhamos menos condições, mas tínhamos bastante mais liberdade e portanto fui fazer o Falatório e o Onda-curta.

Sentiu-se mais “em casa” na RTP2?
Tinha muita liberdade na escolha dos convidados, dos temas, mas depois cansei-me um pouco da televisão. Sempre fui autora dos programas. O resultado das ideias que tinha ficava sempre bastante aquém do que tinha imaginado. Também fiquei com interesse em aprofundar mais os temas e fui fazer um curso de documentário em Paris. Queria explorar esses dois campos, dos livros, dos documentários, e estava à espera de conseguir montar os projetos quando apareceu a ideia de A Vida Portuguesa.

Nesse sentido, ter três minutos para apresentar um livro, como acontecia n’O Sofá Vermelho, é frustrante?
Não! Aliás, estranhamente, O Sofá Vermelho foi o programa que ficou mais próximo daquilo que os autores tinham imaginado. Foi uma pena porque na altura o Emídio Rangel não cumpriu o acordo que tinha assinado com o Ministério da Cultura e retirou o programa de prime-time, embora ele não baixasse as audiências. Claro que quando começou a passar às três da manhã, começou a resultar menos. Foi uma deceção...

Ainda escreve?
Pouquíssimo. Quando escrevia as crónicas para o Público obrigava-me a passar uma tarde por semana a escrever. Agora ando desabituada, mas é como andar de bicicleta...

O seu livro Goa: História de um Encontro foi um enorme investimento de tempo.
Cinco anos. Tinha medo de cometer erros, para além de que sempre estudei no sistema francês, portanto descobri Portugal já adulta e acho que isso me ajudou no que faço hoje em dia. Também tive influência da minha mãe. Ela colecionava artesanato e dizia-me: “Temos de comprar antes que acabe.” Noutro dia disse-lhe: “Mãe, a culpa disto é tua!” De facto, aquilo ficou!

Para escrever o livro passou seis meses na Índia. Mudou a sua visão do mundo, da vida?
Foi muito importante viver uma realidade completamente diferente. As minhas prioridades mudaram. Passou a ser mais importante fazer aquilo em que acreditava do que propriamente aquilo que me daria mais sucesso profissional ou até mais dinheiro.

Como nasceu a ideia de A Vida Portuguesa?
Pensei fazer um livro sobre a vida quotidiana em Portugal no século XX e lembrei-me que uns anos antes tinha feito um shopping para a Marie Claire e tinha descoberto que havia imensas embalagens de época em Portugal, divertidas, ingénuas algumas. Comecei a reunir os produtos e a pensar como se podia descobrir um novo público para eles. Assim como eu gosto de sabonete Ach Brito, outras pessoas gostam, porque são produtos muito bons, sobreviveram porque tinham alguma qualidade.

Foi eleita em 2009 pela revista Monocle como uma das 20 personalidades mundiais que merece um palco maior. Precisa?
Não! Quer dizer, tenho muitas ideias, mas acho que o terreno em que me mexo, dos produtos portugueses, precisa de um palco maior. E acho que já o tem, neste momento. Nos últimos dois anos a atitude das pessoas mudou muito. Quando abri a loja, às vezes sentia-me um bocadinho a pregar no deserto.

Não houve uma resistência inicial, uma associação entre os produtos e o Estado Novo?
Sim, também porque no início o projeto chamava-se Uma Casa Portuguesa e foi na altura que Salazar ganhou o concurso dos Grandes Portugueses. Obviamente que me incomodou e foi por isso que mudei o nome. Os produtos existiam antes do Estado Novo e continuaram a existir depois de Salazar cair da cadeira... ?

Vem de uma família muito politizada e foi apoiante da candidatura de Jorge Sampaio à Presidência da República. Pensou enveredar pela política?
Nunca. Nesse caso aconteceu porque acreditava profundamente que o Jorge Sampaio daria um bom Presidente da República e ofereci-me para colaborar na candidatura. De resto, achava que já havia política suficiente na família. Sempre fui muito independente. Num certo sentido, sou um bocadinho anarquista, também porque cresci com esta diversidade política à minha volta. Sou capaz de ouvir todos os lados e há coisas que me agradam e me desagradam em todos os lados.

Era a mais nova de três irmãos, a única rapariga, sentiu-se sempre parte do trio?
Claro. Os nossos encontros de família eram sempre com os três, melhor ou pior, com as agendas atribuladas, mas sempre fizemos por manter essa unidade. Eu vivi sempre com o Miguel, que vivia connosco, e o Paulo viveu com a mãe dele, a Helena
Sacadura Cabral, mas tivemos sempre uma ligação bastante próxima.

Perdeu o seu irmão Miguel este ano. Foi um golpe duro na sua vida?
Foi. Muito. Mesmo. O Miguel faz falta... Nunca esperámos que partisse tão cedo... mas tenho uns sobrinhos fantásticos e a vida continua.

Reconhece o Miguel no Frederico e no André?
Reconheço e acho que eles também reconhecem. Foi muito difícil para eles, mas foram de uma coragem e uma valentia extraordinárias.

A ideia de casar e de ser mãe faz sentido para si?
Faz. Por acaso não aconteceu na minha vida dessa forma tão tradicional, mas as pessoas fazem o que lhes fizer sentido.

No Sofá Vermelho usava muito a frase de Borges, que diz que uma biblioteca é sempre uma hipótese de encontrar a felicidade. Já encontrou a felicidade?
Sim, a vida não é fácil, mas retomando o título do novo livro do Rui Cardoso Martins, Se Fosse Fácil Era Para os Outros. Acho que isso faz parte do interesse de estar vivo. A vida é muito surpreendente, às vezes de uma maneira boa, às vezes de uma maneira difícil, mas cada momento é importante para nos conhecermos, para aprendermos e para melhorarmos.

Tem ideias para os próximos tempos?
Sim. Acho que neste momento a minha vida privada precisa de mim. Passei estes anos muito dedicada, queria muito que as coisas corressem bem, trabalhei muito e acho que agora preciso de equilibrar um bocadinho a minha vida nesses termos. E ainda tenho de fazer o livro que tinha previsto inicialmente e que deu lugar a tudo isto, que agora será mais um livro sobre as marcas antigas portuguesas e que espero fazer durante o próximo ano.

Diz que quer tirar mais tempo para si, o que são para si umas férias ideais?
Gosto de passar férias em ilhas. Uma rede. Um livro. Uma praia para nadar.




quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O sabor dos bons velhos tempos


Quando José Maria Macieira mandou o filho José Guilherme estudar para a cidade francesa de Cognac, não podia imaginar o que o futuro lhe reservava. No regresso a casa, o rebento trazia o conhecimento e a vontade de desenvolver um brandy por
tuguês e de o comercializar através da empresa paterna fundada em 1865 para se especializar em álcool, azeite e vinagre.

Depois de seleccionadas as melhores uvas nacionais (das castas Arinto, Periquita, Trincadeira e Fernão Pires), foi desenvolvida uma receita que continua inalterada para cima de 125 anos mais tarde. O resultado final é de um aroma e sabor únicos, subtil e refinado, com um envelhecimento mínimo de seis meses em cascos de carvalho para uma graduação alcoólica de 36º.

Com uma qualidade reconhecida no mundo inteiro (o brandy Macieira foi o eleito para preencher as privações de stock decorrentes da Segunda Guerra Mundial), a marca continua a exportar para mais de 30 destinos internacionais. José Guilherme havia de ser agraciado com a Legião de Honra francesa e, entre nós, Fernando Pessoa não passava sem o seu cheirinho. Tudo leva a crer que tenha entranhado sem estranhar.


"O bom sabor dos velhos tempos"... agora à distância de um clique.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Up we go

"LISBOA REINVENTADA. A alma lisboeta é revelada partindo do ponto de vista de Carlos Coelho - responsável pela imagem da LisbonWeek. Este embaixador convida-nos, entre outros espaços, a visitar a loja A Vida Portuguesa.

ESTE É UM EXCELENTE EXEMPLO DE COMO O LADO MAIS TRADICIONAL DE LISBOA PODE SER VISTO DE UMA FORMA MODERNA E CONTEMPORÂNEA."
Revista UP, Outubro 2012.