sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Aprender sempre

A Vida Portuguesa regressa às aulas. E delicia-se a aprender coisas novas com os companheiros de sempre...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Montes para descobrir

"Tra-los-Montes", edição trilingue "em português, in english, an mirandés" é mais uma encantadora publicação Serrote, da autoria de Nuno Neves, feita de ilustrações, historietas e tradições. "Por detrás dos montes do Marão, Alvão, Cabreira e Gerês e para lá do rio Douro fica situada a província mais remota de Portugal Continental: Trás-os-Montes. As serranias altas, as arribas escarpadas do rio e o Inverno que nesta região dura nove meses, isolaram desde sempre este território do resto do país. Uma enciclopédia de fragas, burros e sardões; torques, chouriças e leirões; lobos, recos e berrões." "No final do Verão, famílias inteiras atravessam os Pirinéus, regressando apenas no início do Verão seguinte. Voltam em carros puxados por muitos cavalos e constróem no lugar das casas de pedra, habitações à maneira das terras que visitaram. E é desta maneira que se passam as coisas por detrás dos montes. Se Portugal fica longe da Europa, Trás-os-Montes fica longe de Portugal."

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Regressar a casa


Em entrevista ao "Expresso", Catarina Portas admite que se perde "em antiquários e lojas de velharias", que gosta de "passear nos arquivos" das fábricas "e vender os seus produtos". "Não entendia porque é que os nossos produtos não eram estimados, como acontecia noutros países. (...) Tive uma educação muito estrangeirada, vivi alguns anos lá fora. (...) voltei a olhar para o meu país com uma visão exterior e mais descomprometida, menos implicada. Aos 35 anos, quando comecei este projecto, deu-me uma vontade enorme de regressar a casa."

"Como se sentiu ao ler na revista "Monocle", em 2009, que era uma das 20 figuras mundiais a precisar de um palco maior? Foi uma surpresa, embora a revista me tenha avisado antes, porque me pediram uma fotografia.

Como é que chegaram a si? O jornalista da "Monocle" que escreve sobre Portugal costuma vir cá todos os anos e telefona-me - como julgo que fará a outras pessoas - para fazer o "Guia das melhores Cidades para Viver". Veio à minha loja várias vezes. Conhecia o negócio e até chegou a visitar os Quiosques de Refresco. Soube bem, como sabe bem qualquer outro reconhecimento.

Precisa de um palco maior? Tenho muita imaginação e, por isso, muitas ideias (risos). Algumas até podem dar origem a projectos maiores. Tento controlar-me ao máximo, porque não quero tornar a minha vida um inferno. Preciso ter alguma calma, quero que as coisas corram bem. Se não tiver tempo para estar calmamente uma tarde a pensar ou a ler livros, ou a fazer as pesquisas que me apetece, também deixo de ter ideias. Tento que as lojas A Vida Portuguesa funcionem e tenham uma boa relação com as fábricas.

Que relação é essa? Gosto de passear nos arquivos e vender os seus produtos. Estou a organizar uma série de livros. Tenho um livro em estado avançado sobre 20 fábricas e produtos portugueses. Há outro semipreparado, com o Manuel Reis, sobre o Frágil.

Esse lado de escritora/jornalista não morreu? Não. Sou uma jornalista que não escreve e uma documentarista que não filma. Mas o olhar continua a ser esse, a que juntei uma intervenção comercial.

Tem duas lojas A Vida Portuguesa. pensa expandir o negócio? Não quero multiplicar lojas. Quero que elas sejam especiais, invulgares e provem que não é preciso demolir interiores para fazer uma loja.

Recebe muitos pedidos de franchising? Muitos. Fazemos revenda para lojas e para musues e vendemos para Londres. Prefiro dar passos pequenos e ter controlo sobre o que faço. O meu intuito não é fazer dinheiro. Não gasto dinheiro em carros, nem sequer tenho carta, barcos, palácios... Claro que o sucesso é fundamental, porque sem isso os projectos não avançam. Mas não tenho necessidade de abrir lojas para fazer muito dinheiro. (...)"

Excerto de uma entrevista de Cândida Santos Silva, com fotografia de Ana Baião. Revista "Única", semanário "Expresso", 21 de Agosto 2010.


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Estórias que nos embalam

A nossa livraria e este tomo foram feitos um para o outro. "Embalagem - Estórias de Embalar" é uma delicada edição do autor Manuel Paula, que gosta tanto de embalagens antigas como nós. E decidiu reuni-las em livro. Embalagens de outros tempos que continuam a falar-nos ao coração - algumas delas ainda alindam as nossas prateleiras (a do bolo de mel do Funchal, dos sabonetes Confiança ou Ach. Brito, as latas da Encerite ou Coração) e outras que gostávamos de lá ver, em reedições merecidamente primorosas.

Todas notáveis, das mais elegantes às mais hilariantes (como a do xarope "Jerboner, para curar o vicio da embriaguês"). Um compêndio indispensável aos profissionais ou curiosos do design de embalagens (parece que agora também lhe chamam "packaging"). Com as suas 140 páginas, capa dura branca e uma embalagem preta, para protecção acrescida. Uma pérola em forma de livro.

"As embalagens são caixas de estórias, muitas, a maior parte ficarão submersas no esquecimento e desaparecerão. Outras, porque contiveram algo que é perene e porque se vestiram sempre de forma a serem olhadas e apreciadas, irão permanecer nossas companheiras nesta viagem que empreendemos. (...) Antes de mais, as embalagens fazem parte de um universo muito amplo, que tem a ver com o desenvolvimento de um determinado local geográfico, com as suas necessidades, tradições e capacidades de consumo. (...)

As imagens valem por si. Em grande parte reflectem o gosto e os ambientes das épocas. Sintetizam um retrato e uma preocupação, o dar a ver, valorizar o que se encontra em risco de se perder e já se perdeu tanto, ajudar a perceber as nossas contingências e como tantas vezes, com tão pouco, fomos capazes de inventar, de sonhar e de construir. (...) As embalagens traduzem um código genético que incorpora os nossos gostos, a nossa maneira de sentir e de se deixar embalar no sonho da posse. No fundo, são o espelho da nossa alma." Da introdução, por Manuel Paula.

A manufactura enquanto vantagem

A manufactura portuguesa afirma-se cada vez mais como uma vantagem num cenário globalizado: Catarina Portas no programa "As Cidades Invisíveis" de Guta Moura Guedes.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Empresária com atitude de jornalista

Catarina Portas desfia o novelo do seu percurso profissional à revista Recursos Humanos de Julho/Agosto 2010. Fala da iniciação à carreira de jornalista, da passagem pela televisão, do amor pelo cinema. Revela como nasceram A Vida Portuguesa e o Quiosque de Refresco, explica que não quis abrir mão das "relíquias do quotidiano do país" e alegra-se pelo facto de se ter levantado entretanto "a tampa do alçapão do passado". E, numa edição especial "RH no Feminino", avança: "Nos negócios, não acredito demasiadamente num instinto ou forma feminina totalmente diferente de fazer as coisas. Mas acredito profunda e convictamente nas mulheres, na sua força, pragmatismo e agilidade."

Recursos Humanos Magazine: A sua actividade, quer enquanto profissional liberal quer como empreendedora e cívica, tem sido muito diversificada em termos de campos de actuação e interesses. É jornalista desde 1988, tendo começado a sua actividade profissional como jornalista na Correio da Manhã Rádio…

Catarina Portas: Comecei muito cedo, por estar por ali, que por acaso era o sítio certo no momento certo. Esse sítio era O Independente, um jornal que então começava, a querer ser diferente de tudo o que existia, dirigido pelo Miguel Esteves Cardoso e o Paulo Portas, meu irmão. Eu tinha 19 anos e queria ser chapeleira de alta-costura, mas rondava os amigos metidos nessa aventura e, no meio do sufoco, alguém disse: “Faz tu!”. E eu comecei a escrever. Eu estava a aprender mas não era grave, estávamos todos. Depois candidatei-me à CMR, pensando que se queria de facto ser jornalista talvez fosse melhor ir para um sítio onde não conhecesse ninguém, onde me julgassem primeiro pelo meu trabalho. Dirigida pelo Rui Pego, era uma rádio nova e agitada e aí fiz programas dedicados à música francesa ou à moda e amigos que ficaram para sempre, como a Margarida Pinto Correia ou o Rui Vargas. Ia mantendo uma colaboração com O Independente; foi graças a isso que a Maria Elisa me convidou para redactora da Marie Claire, então nos primeiros números. Aí se deu a minha verdadeira formação, numa revista mensal onde pude fazer de tudo, com tempo para a investigação, ao longo de dois anos e meio: entrevista, reportagem, shoppings, até culinária. Em 1991, ganhei os dois Prémios Revelação de Jornalismo, o Gazeta e o do Clube Português de Imprensa, com reportagens publicadas na Marie Claire sobre Braga e o Rui Reininho. Só então a sempre insegura autodidacta sossegou um pouco e ganhou alguma confiança... Ter a coragem de deixar a Marie Claire para experimentar outros meios e aprender mais foi a consequência.

RHM: Em que ano ingressou na RTP?

CP:
Em 1992, dei o salto para a televisão. A RTP contratou um grupo alargado de jovens jornalistas, para colmatar o êxodo de profissionais para as televisões privadas que nesse ano começaram a emitir. Comecei pela informação diária, durante um ano, como jornalista de sociedade e cultura do 24 Horas e Telejornal. Foi um tempo muito excitante, em que aprendi muito, sobre o profissionalismo no meio do caos reinante na informação diária, por exemplo.

RHM: Qual dos programas em que foi co-autora e co-apresentadora foi o mais gratificante para si?

CP:
A informação diária foi um excelente treino, mas frustrava-me o imediatismo do trabalho. Foi com a Manuela Moura Guedes, quando ela deixou a apresentação do Telejornal, que me estreei noutro género de programas como o Raios e Coriscos, uma tentativa mais solta de tratar alguns temas de sociedade. Depois foi o Frou-Frou, um programa de olhar feminino com uma bela equipa, e, na RTP2, o Falatório/Juventude e o Onda Curta, dedicado às curtas que então se começavam a afirmar. Por último, o Sofá Vermelho, na SIC, foi certamente aquele que me deu mais gozo, pois o resultado final foi o mais parecido com aquilo que tínhamos imaginado de início, o que, em televisão, com tantos intermediários e circunstâncias, não é fácil. Infelizmente, a SIC desrespeitou o acordo com o MC, desprogramando estes pequenos três minutos do prime time. Mas quando isso acontecia, não era raro os livros esgotarem – foi uma tentativa de falar de livros, de transmitir a vontade de ler um livro, como uma actividade normal e quotidiana que funcionava.

RHM: A partir de 1997 começou a apresentar programas ligados ao cinema. Foi por essa altura que nasceu a paixão pela sétima arte?

CP:
Sempre gostei de cinema. Durante os últimos anos de liceu, saía das aulas e rumava diariamente para a sessão das 18h30 min da Cinemateca. O gosto pelo cinema, temo-lo todos na família, por culpa do meu pai, crítico de cinema na sua juventude e fervoroso cinéfilo. Após uma ida ao Festival de Curtas de Vila do Conde, pressentindo a dinâmica do género, candidatei-me a apresentar o Onda Curta. Já então me aproximava do documentário, trabalhando com a Filmes do Tejo, da minha amiga Maria João Mayer, no desenvolvimento de projectos de ficção e documentário. […]

RHM: Em 2001 recebeu, com o filme Bruta Flor do Querer, o Prémio Melhor Curta-metragem Documental e o Prémio dos Cineclubes. Qual a importância que atribui a estas duas distinções?

CP: Fazer o filme é que foi importante. É apenas um exercício de escola, estava a fazer um curso de documentário nos Ateliers Varan em Paris e esta curta era o trabalho final. Filmado numa loja de cartazes de cinema originais em Paris, convivendo com os coleccionadores que a frequentam – verdadeiros cinéfilos fetichistas. Digamos que é um filme sobre o amor pelo cinema, um certo tipo de amor – pareceu-me o tema adequado a um primeiro filme. Queria continuar pelo cinema, ainda fiz mais umas pequenas coisas mas, enquanto esperava conseguir montar os meus projectos e me ocupava numa intensa investigação, proposta pelo realizador João Maia para um filme sobre o António Variações, surgiu a ideia que viria a dar n’A Vida Portuguesa... […]

RHM: Em que contexto surgiu o projecto Uma Casa Portuguesa?

CP:
Estava com pouco trabalho, esperando a viabilidade de projectos de cinema, e comecei a imaginar livros que também gostaria de fazer. Pensei num livro sobre a vida quotidiana em Portugal no século XX, que tanto influencia o país que somos e que a minha geração tanto desconhecia (as coisas mudaram entretanto, levantou-se a tampa do alçapão do passado, ainda bem). Lembrei-me de fotografar uma despensa de época e de um shopping que tinha feito para a Marie Claire, baseado nas crónicas A Causa das Coisas, do Miguel Esteves Cardoso, com esses tais produtos antigos que ele glosava no Expresso. E quando comecei a investigar as marcas, fábricas e produtos antigos portugueses confirmei que uma quantidade de produtos ainda existia com embalagens originais (dos anos 20 a 60 do século passado, pois tivemos um mercado muito fechado e pouco concorrencial durante o regime salazarista). Mas também percebi que muitos destes produtos, face a novos concorrentes importados, estavam a desaparecer rapidamente. Ora, eu sempre lhes achei graça, como relíquias do quotidiano do país. O primeiro impulso foi essencialmente egoísta: eu não queria que eles desaparecessem. E comecei a fazer um exercício de imaginação. Como tornar apelativos estes produtos para um novo público? Imaginei agrupá-los em caixas temáticas, com um livrinho que lhes contasse as histórias. Poderia ser este design histórico do quotidiano, tão ingénuo e divertido, uma vantagem no mundo actual, onde o design está tão (sobre)valorizado? Seria possível passar estes produtos quase esquecidos nas drogarias e nas mercearias para um outro mercado, o das lojas de design e de museus? E, graças a esse novo público, valorizar e ajudar a salvar a manufactura portuguesa? Funcionou. […]

RHM: Como amadureceu o projecto até chegar à marca A Vida Portuguesa, com a loja de vendas ao público na Rua Anchieta e toda a organização que requer uma estrutura desta envergadura?

CP: Falei da ideia a várias pessoas e uma amiga minha interessou-se. Fomos às fábricas e fizemos as primeiras caixas da marca Uma Casa Portuguesa no Natal de 2004 para a Mousse, uma loja de design. Correu tão bem que percebemos que tinha pernas para andar. Aperfeiçoámos o produto e, graças a uma parceria com a Saboaria Confiança, fomos a uma feira internacional importantíssima, a Maison et Objet em Paris. Vendendo para lojas como a Conran Shop ou a Designer’s Guild em Londres, tornou-se claro que a apetência era mais do que local e nostálgica. Mas, em 2007, a sociedade não corria bem e decidi recomeçar tudo sozinha. Em Maio de 2007 nasceu A Vida Portuguesa, um nome mais limpo de conotações e também mais abrangente e adequado a um projecto mais vasto. E já com loja no Chiado. […]

RHM: Os negócios têm-lhe corrido de feição. Foi o sucesso experimentado com A Vida Portuguesa que a levou a avançar para o seu projecto mais recente dos quiosques de Lisboa?

CP: Quando me surgiu a ideia d’A Vida Portuguesa, comecei naturalmente a aplicar o mesmo modelo de pensamento a outros temas. Como pegar numa herança antiga e recuperá-la para os dias de hoje? Sempre gostei de quiosques e afligia-me ver tantos e tão bonitos fechados e degradados. Quando a Câmara Municipal de Lisboa colocou a concurso a concessão de três quiosques antigos no centro da cidade, desafiei o João Regal, da DeliDelux, para este projecto de recuperação. Os quiosques do Largo Camões, Príncipe Real e Praça das Flores foram integralmente recuperados e apetrechados para vender as bebidas frescas tradicionais lisboetas (em vez dos habituais e monótonos refrigerantes engarrafados): a limonada, o capilé, a groselha, a orchata, o leite perfumado. E a ginginha, claro. Sabores próprios e antigos, fresquíssimos, sem conservantes mas bem conservados porque recriados para os dias de hoje. Tudo em louça descartável e biodegradável (copos transparentes em PLA, amido de milho, em vez de plástico). A preços acessíveis porque este é um espaço de todos, com esplanada, para desfrutar sem pressas. […]

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Fernando Pessoa, Empregado de Escritório

A última novidade literária nas estantes da nossa livraria chama-se "Fernando Pessoa, Empregado de Escritório". Aborda, de acordo com a editora Assírio & Alvim "(...) os reflexos da profissão na sua obra literária; a sua teorização sobre economia, comércio e gestão; ou alguns sugestivos apontamentos sobre a personalidade de quem foi, entre tantas outras coisas, um poeta ímpar e um competente correspondente de línguas em numerosos escritórios da Baixa lisboeta. Em suma, estamos perante uma obra que ajuda a sinalizar e a entender muito do universo concreto em que se situou e desenvolveu o génio criativo de Pessoa."

Com o escritório na Baixa e a loja no Chiado, A Vida Portuguesa percorre, quase sem se dar conta, os caminhos que tanta vez fez Fernando Pessoa. E que o Sol redescobriu, não há muito tempo. O Largo de São Carlos (onde nasceu), a Brasileira (onde ia tomar café), a Rua Garrett (onde abastecia de livros, na Bertrand), a R...ua dos Douradores (onde trabalhou e morou), o Martinho da Arcada (restaurante de eleição). E o Cais das Colunas que, como "todo o cais é uma saudade de pedra"...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Uma fábrica que é um doce

Mesmo no centro do Funchal, perto da Sé e não muito longe do Mercado dos Lavradores, há uma instituição estimada e estimável que já leva muitos anos a seduzir gulosos. A Fábrica de Santo António foi fundada em 1893 por Francisco Roque Gomes da Silva, que haveria de ficar orgulhoso por saber que a família continua a zelar-lhe pelo negócio. O seu objectivo era produzir bolachas portuguesas, para rivalizar com as que existiam na altura na Madeira, de origem inglesa, como as de gengibre.

Nem de propósito, foi na Travessa do Forno (na esquina com a Rua 5 de Outubro) que decidiu instalar-se, num espaço reduzido mas bem aproveitado onde cabem fábrica, escritório e loja. Com as suas prateleiras antigas de madeira bem conservada, recheadas até não poder mais, que já viram passar tanta coisa doce...

Há o bolo de mel que tornou a casa famosa, em versão rica ou caseira, combinando o mel de cana com cidra, frutas secas, especiarias; aguenta até 18 meses e é apresentado numa bela embalagem de meio quilo. Há bolachas, que continuam a passar por uma máquina centenária; muitas, das versões mais clássicas como a Maria às mais modernas de preocupações dietéticas, como as de avelãs. Mais rebuçados, compotas deliciosamente embaladas e os sorvetes de fruta que só se podem provar aqui e que, por isso mesmo, sabem melhor ainda. Por isso, não se concebe uma ida ao Funchal sem passar pela Fábrica de Santo António. Até para quem não é guloso.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

"Uma grande ideia feita loja"

"Una grande idea hecha tienda. (...) A Vida Portuguesa está ubicada en la Rua Anchieta número 11 en el barrio lisboeta del Chiado, lo más parecido a la Milla de Oro que tienen nuestro vecinos lusos. Este proyecto nació de una investigación de la periodista Catarina Portas, sobre productos antiguos portugueses. Mi compañera de oficio decidió comercializar muchas de las cosas que usaba de pequeña y que habían desaparecido. Como ocurre en casi todos los sitios, los productos extranjeros se consideran mejores. Así se pueden encontrar artículos que conocen los lusos desde hace décadas, los que han mantenido su embalaje o en ella se inspiran o simplemente aquellos que se siguen haciendo artesanalmente." LG-J, Negocio & Estilo de Vida, 15 de Julio de 2010.

E novidades, não há?...

‎"O melhor papel higiénico do mundo é português" conclui o El Mundo, numa altura em que a Renova faz furor em Espanha.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

República viva

Crónica de Nuno Pacheco no Público, 2 de Agosto 2010: "Agosto é mais propício às praias, já se sabe, mas por algumas horas pode ser saudável subtrair o corpo aos raios solares e levá-lo até outras aventuras. Uma, inesquecível, corre o risco de ser desmesurada para a (escassa?) procura, mas é imperdoável perdê-la. Trata-se da exposição Viva a República! (1910-2010), acto maior do centenário e que ocupa na íntegra as instalações da Cordoaria Nacional, em Lisboa. Quem pensa tratar-se de um desfile fastidioso de bigodes, cartolas e chapéus de coco desengane-se.

A forma como foi concebida, se por um lado revela uma paixão indisfarçável pela revolução da "ideia", mostra ali também tudo o que contribuiu para acelerar o seu fim. Como uma sucessão de quadros num teatro, as várias alas da exposição fazem "desfilar" perante o visitante, dando a sensação de que elas próprias se movem e não apenas quem as vê e visita, uma República viva, repleta de pequenas histórias, nomes, lugares, cartazes, sons, filmes, declarações inflamadas e gritos de revolta, peças de oratória e manifestos eloquentes, caricaturas virulentas e sátiras mordazes a tudo e todos. Que num jornal como O Zé retratavam, com um desenho a condizer, a sessão parlamentar de uma certa quarta-feira de 1912 do seguinte modo: "Sôccos, bofetadas, pontapés, murros, cachações, caldos, galhetas, solhas, cervejas, estalos e um monoculo pelo ar! Ena rapazes! D'esta vêz é que foi trabalhar!"

E, claro, com caricatura ou sem ela, também as coisas da vida de todos os dias: em casa, nas escolas, nos espectáculos, nas ruas. Lá estão os cartazes das modas e os que vendiam cognac, os das touradas e os do boxe (com Max Fredo, o "rei do K.O." e o célebre e popular Santa Camarão), os dos teatros e das sessões de cinema no Chiado Terrasse. E a Orpheu, claro, Almada e Pessoa e os gritos das artes contra a já exposta falência dos políticos. E, a par das novas liberdades sociais e políticas, a humilhação dos padres e a expulsão dos jesuítas, o que levou a comparar Afonso Costa ao Marquês de Pombal (que, nem de propósito, viria a ganhar por via republicana uma estátua em pleno centro da Rotunda que, de lugar histórico do republicanismo se tornou depois, assim se mantendo hoje, Praça Marquês de Pombal).

E ainda os terrores da guerra, com os seus milhares de mortos e mutilados, as trincheiras da pesada derrota de La Lys e os minutos de silêncio pedidos a "homens de todas as crenças" para "glorificar" os que deram o seu sangue pela grandeza de Portugal". E, numa repetição fatal, os tumultos e revoltas, as trocas imparáveis de ministros e as greves, o descontentamento popular e a degradação progressiva do poder e do Estado.

São precisas várias horas, até porque é impossível desviar o olhar de muitos dos textos, escritos de forma clara e atractiva e expostos com mestria gráfica, mas vale a pena. Mais do que uma exposição, Viva a República! é uma sucessão de quadros vivos, impressivos, que aproxima a história do comum dos mortais. Quem a visitar, voltará outra vez. Só é pena que tal trabalho se perca e não fique, como merecia, para museu."

Nota: as lojas A Vida Republicana da Cordoaria e do Terreiro do Paço estão abertas até às 24h00, hoje e dia 12 de Agosto, fazendo companhia às exposições que complementam: "Viva a República!" e "Viajar - Viajantes e Turistas à Descoberta de Portugal no Tempo da Primeira República" respectivamente. Isto porque o Festival dos Oceanos veio animar a cidade e associa-se às comemorações do Centenário da República Portuguesa.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Direito de resposta

Na edição da Time Out de 14 de Julho publicou-se uma peça sobre a loja À Antiga Portuguesa, onde se encontra o seguinte parágrafo:

Com produtos entre os três e os 30 euros, esta é das únicas diferenças entre esta loja e “A Vida Portuguesa”, que habita no Chiado. Apesar de confessar já ter tido “problemas” com Catarina Portas, por causa do “conceito”, Maria Helena garante que “este tipo de loja já existe em Coimbra”. “A senhora pensa que é tudo dela, mas não é”, diz.

A Vida Portuguesa não tem qualquer “problema” com lojas que vendam produtos antigos portugueses, inspiradas ou não pelo nosso projecto. Quantas mais formos melhor, pois essa é a garantia da longevidade das marcas e produtos de que gostamos. E esse sempre foi o nosso principal objectivo. Fazemos aliás revenda dos nossos produtos exclusivos para muitas dessas novas lojas, com imenso prazer.

Foi o que aconteceu, durante algum tempo, para a loja “À Antiga Portuguesa”, em Cascais. Até ao dia em que percebemos que esta loja tinha copiado um dos nossos produtos exclusivos, as “Andorinhas Para Colar”, em versão colorida. Fomos até encontrá-las noutras lojas, em Sintra por exemplo: as mesmas duas folhas de sete andorinhas, com a mesma silhueta, o texto que eu escrevi em português e inglês – enfim tudo praticamente igual excepto a menção à marca que criou e comercializou este produto. A isto chama-se cópia ou contrafacção e com isso, sim, temos um “problema” (que foi entregue aos nossos advogados).

Pois gostávamos de viver num mundo onde as pessoas se esforçassem por ser um pouco mais originais e, já agora, respeitassem a criação dos outros. Neste caso, uma ideia de Maria Antónia Linhares de Lima, com design de Paulo Seabra e texto meu. Para não deixar mentiras à solta, parece-me justo que esta correcção seja publicada. Muito obrigada. Catarina Portas

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Agosto em Alfama

"Perca-se nas ruelas de Alfama". A Time Out Lisboa andou à caça de sugestões para fazer de Agosto o "mês perfeito" na capital. A contribuição de Catarina Portas: "nas noites de calor gosto de pura e simplesmente andar por Alfama. Gosto de me deixar ir e perder-me, sozinha ou acompanhada. Alfama transforma-se numa espécie de labirinto branco nessas noites." A Time Out sugere que aproveite ainda para parar em bares como o Bela (Rua dos Remédios 190) ou o Tejo Bar (Beco do Vigário 1).