quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Valor Económico no Porto
Num dos pontos comerciais mais nobres do Porto foi inaugurada, em novembro, uma filial da loja "A Vida Portuguesa". Na véspera do Natal as filas da caixa chegavam a mais de uma hora. Sensação em Portugal desde que foi aberta, em 2006, num armazém centenário do Chiado, em Lisboa, a loja é considerada uma das mais curiosas do país pela "Time Out" local.
O conceito de "A Vida Portuguesa" é bastante simples: vender produtos antigos em suas embalagens originais. Nas prateleiras há de flor de sal a relicários. A loja é de tal forma interessante que é possível permanecer lá durante horas e sempre há algo para descobrir. As filas, em tempos de crise, se justificam: dá para comprar presentes divertidos, baratos e bem embalados. Um sabonete com o mesmo design que tinha 20 anos atrás custa 5.
Num mundo que caminha a passos largos para a pasteurização, a loja vai na contramão: preserva a nacionalidade no que ela tem de mais genuíno. Talvez resida aí a razão do seu sucesso. O conceito deu tão certo que, além de duas lojas próprias em Portugal, os produtos de "A Vida Portuguesa" já conquistaram outros destinos. Foram para barcelona e para a loja do MoMA, em Nova Iork.
A dona, a jornalista Catarina Portas, teve a ideia enquanto fazia uma pesquisa para um livro sobre a vida cotidiana em Portugal no século XX. Quando começou a investigar as marcas, fábricas e produtos antigos portugueses, percebeu a quantidade de coisas que existiam ainda com embalagens originais (dos anos 20, 30, 40, 50 e 60). Notou, também a velocidade com que estavam desaparecendo.
"Durante muito tempo, Portugal teve um mercado fechado e de pouca concorrência", diz, para explicar a originalidade do que encontrou. "Pareceu-me que esse design histórico do cotidiano, tão ingênuo e divertido, poderia ser uma vantagem no contexto atual, onde o design é tão valorizado".
Catarina pensou, então, que era possível passar esses produtos que estavam quase esquecidos nas drogarias e nas mercearias para um outro mercado: o das lojas de design e de museus. "Começamos por fazer caixas, agrupando tematicamente os produtos, acompanhados por um pequeno livro que contava a história e as particularidades de cada um. A intenção inicial era valorizar e ajudar a salvar a manufatura portuguesa".
A iniciativa tornou-se um negócio promissor, onde há um diálogo entre a arquitetura das lojas e a linguagem do que se vende. "Abri a loja do Porto depois de uma longa pesquisa. se quiséssemos abrir num shopping qualquer teria sido fácil e rápido. Mas procurávamos uma loja central, antiga, com móveis de origem. Foram dois anos de negociações e mais dois meses de obras para conseguir o armazém de tecidos que existia desde 1886".
Na visão de Catarina, "A Vida Portuguesa" se insere em algo que ela qualifica de "comércio delicado" - que comporta "respeito pelo produto, embalagem e pela história que existe atrás da marca". A partir de maio, ela será uma das representantes de Portugal na Exposição Mundial de Xangai. Ao falar dos seus planos de expansão, deixa claro que "adoraria vender também para o Brasil, por exemplo". E divaga: "Quem sabe no futuro...". Enquanto isso ela se dedica a uma nova atividade que também é resultado de uma ponte entre o país ancestral e o atual. No ano passado, ela recuperou três antigos quiosques de rua em Lisboa. transformou-os em locais de venda de comida e bebida. Em endereços históricos, os quiosques servem pratos populares da culinária portuguesa. Sopa de grão de bico com espinafre, creme de ervilhas, feijão branco, abóbora ou alho poró. Tudo português, com certeza. Mais informações: www.avidaportuguesa.com
Por Maria da Paz Trefaut, do Porto. Jornal "Valor Econômico", Brasil. 12-16 de Fevereiro 2010.
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1 comentário:
Olá Catarina,
Li o artigo sobre seu empreendimento no Jornal Valor Econômico... Cumprimento-a por seu empreendedorismo e originalidade. Sou relações públicas no Brasil, trabalho na área de eventos. Gostaria muito de conhecer sua pesquisa que originou suas lojas... É possível ?
Saudações cordiais.
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