segunda-feira, 19 de julho de 2010

Uma perdição chamada Regina

"Trabalhar no atendimento ao público é bastante exigente mas também muito divertido, especialmente quando se trata de uma loja em que os produtos estabelecem uma relação com as memórias de quem a visita. O episódio de uma tarde quente, algures num ambiente republicano, ilustra bem o que digo.

Entra uma senhora de chapéu, arredondada e pequenina como se quer a sardinha e a mulher portuguesa, já lá dizia o ditado. Nisto, vê as sombrinhas da Regina e diz para o marido que a acompanhava: Ah! As sombrinhas de chocolate da minha infância! Oh filho, tens de me dar uma! Vamos levar... Compra lá...

O marido acede, e entre outros produtos inclui o delicioso chocolate. Não passaram mais de dois minutos e a senhora já estava a rasgar avidamente o papel amarelo sob o pretexto de ter de comer o chocolate rapidamente, caso contrário derrete e é uma maçada... Entre mais umas voltas e espreitadelas à loja e à livraria, o casal regressa, com uma nova selecção de artigos.

Enquanto o marido pagava, contando pacientemente as moedas uma a uma, a senhora, ainda a saborear a sombrinha, como um gato que lambe os bigodes depois de uma bela refeição, diz com um ar chateado de menina: Oh Augusto, caramba...tinhas logo de me comprar um chocolate... És sempre a mesma coisa... Logo agora que estou mais gorda... Oh... E o marido, continuando a contar pacientemente as moedas, responde: Filha... Mas foste tu que pediste... Escusado será dizer que a resposta da senhora foi um EU?! indignado, seguido de um sorriso maroto nas costas do marido."

O relato é da Susana Soares, responsável pela loja "A Vida Republicana" da Cordoaria Nacional. A fotografia é de David Borges.

1 comentário:

noteusilênciomaisazul disse...

hahahaha ... sem tirar nem pôr! ...