sexta-feira, 31 de julho de 2015

As malas do Alberto

© Vitorino Coragem
Torna-se difícil vislumbrar, por entre as brumas da memória, quando foi exactamente que começámos a vender as malas do Alberto. Mas a verdade é que ainda nem tínhamos loja no Chiado e já as contávamos entre os bens de primeira necessidade que fizeram nascer A Vida Portuguesa.
Alberto Gouveia Gourgel, angolano de 46 anos, mudou-se para Lisboa no princípio dos anos 80 e já não consegue imaginar-se a morar noutro lugar do mundo que não seja a sua adorada Alfama. Ao ponto de já se ter tornado numa das personagens da cidade dos nossos dias, conhecido pela sua graça e colorido, que começou a conquistar a partir da Feira da Ladra, onde - presença tão assídua como o mercado das terças e sábados - começou a vender as suas criações. Quem diz malas diz biombos ou outros formatos, ditados pela recriação e os prazeres da montagem e da colagem. Os temas são tão imprevisíveis como a imaginação, nunca se sabe o que trará a próxima remessa, tanto pode ser Amália Rodrigues como Corin Tellado, e o resultado é sempre surpreendente.
Continua a encontrar a maior parte da sua matéria prima em lojas de antiguidades e leilões, que frequenta habitualmente em busca dos próximos tesouros. Colecciona revistas antigas, pelo puro prazer de as escortanhar, e o vintage assenta-lhe tão bem como a rosa vermelha que sempre traz ao peito. Não lembra de onde lhe veio a veia mas desde pequeno que se soube criativo.

Afirma-se como “um esteta autodidata” que quis conciliar “duas taras antigas: as malas de cartão com as belas divas que apareciam em revistas antigas e as imagens iconográficas das revistas de artes e lavores femininos”. Em Alfama (onde mais?), criou o atelier “Coisas do Alberto” aberto ao público e pronto a descobrir pelos curiosos. E as suas malas estão sempre, mas mesmo sempre, como nos primeiros dias, nas lojas A Vida Portuguesa.

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