quarta-feira, 16 de julho de 2014

Americano, o escritor. Português, o caderno


Paul Auster faz o elogio do Caderno Azul da Firmo (e de Portugal, "o último país secreto da Europa") no último número da revista UP (num texto de Maria João Guardão):
"Quando Sidney Orr entrou na papelaria do senhor Chang, em Brooklyn, e comprou um caderno azul, encadernado a pano, não sabia no que se estava a meter. O amigo John bem o avisou sobre o caráter dúplice do objeto, mas era ainda demasiado cedo e tudo corria bem. “De maneira que tirei a tampa da caneta, finquei o aparo na primeira linha da primeira página do caderno azul e comecei a escrever. As palavras vieram rápidas, fluentes, aparentemente sem grande esforço.” Umas páginas mais à frente, a “crueldade dos cadernos portugueses” haveria de se abater sobre o escritor em bloqueio de escrita que vive dentro d’A Noite do Oráculo*, décimo romance de Paul Auster (mais coisa menos coisa, depende de como se conta), publicado em 2003. Por esta altura já o verdadeiro autor teria cumprimentado Pessoa no Chiado, atravessado o Camões até o Calhariz, no seu passo de grande felino, e descoberto a papelaria forrada a madeira onde vivem os CADERNOS AZUIS DA FIRMO, que os começou a fazer em 1951. A produção dos antigos livros de fiado das mercearias, lisos, pautados ou quadriculados, ressuscitou com a referência e passou a ser outra vez fácil encontrá-los em papelarias e lojas de produtos portugueses, mas a patine daquele lugar original é difícil de superar."


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