quarta-feira, 30 de junho de 2010

Empresários imprevistos

A edição de Julho da revista Exame traz um artigo assinado por Joana Madeira Pereira, que entrevistou Nuno Artur Silva, Pedro Abrunhosa, Filipe La Feria e Catarina Portas. "Nada os fazia adivinhar homens (e mulher) de negócios. Começaram na escrita e no palco, mas hoje fazem contas às empresas que têm. A proprietária d' A Vida Portuguesa explicou que ainda lhe custa rever-se na expressão "empresária". "Actuo mais na área do comércio delicado, que se preocupa com os fabricantes, produtos e clientes (...) a minha atitude continua a ser a de uma jornalista: investigo as marcas, recolho a informação, reflicto e, depois, dou a conhecê-la". Também em vídeo para o Expresso.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Dá cá um balão

O São João já foi sinónimo de tradição tripeira. Agora festeja-se um pouco por todo o país, ilhas incluídas. No Funchal por exemplo, este ano voltaram a haver marchas por bairros populares, regadas a poncha e cidra, a acompanhar o picado (cubos de carne de porco temperadas com vinha d'alhos e fritas, servidas com um palito ou a rechear sandes). Mas porque gostamos de ir beber à fonte, quisemos saber da nossa loja do Porto como se fazem por ali os festejos. E aqui deixamos os costumes dessa noite (entre as mais longas que se vivem na cidade, senão a mais longa, sem dúvida a mais castiça), nas palavras da Francisca Alves Costa:

"Não só no Porto antigo mas em todos os bairros, as pessoas trazem os fogareiros para a rua e assam sardinhas, pimentos, chouriço e entrecosto, que são acompanhados de broa e binho berde. Também há caldo verde, normalmente servido em loiça de barro e fogaças (uma espécie de pão doce). Montam-se as cascatas, que são verdadeiras aldeias em miniatura com casas, pontes, pessoas, animais e igreja. Fazem-se fogueiras nas ruas, que toda a gente quer saltar. Os bailaricos invadem a cidade. Também temos os manjericos com quadras e, claro, o fogo de artifício.

Os martelos de plástico colorido (uma invenção não muito antiga), servem para dar marteladas na cabeça de toda a gente, naquilo que se tornou uma brincadeira colectiva. Mas há quem prefira dar a cheirar o alho porro ou os molhos de cidreira aos narizes de quem passa. O ar depressa fica impregnado deste cheiro.

O céu cobre-se de pontos de luz, que são os lindos balões de São João e canta-se "São João, São João, dá cá um balão para eu brincar!..." O lançamento de um balão é sempre uma emoção: as pessoas fazem uma roda e seguram-no o mais delicadamente possível até ele subir. Quando chega lá acima, as pessoas gritam e batem palmas de alegria. Quando o balão arde ouve-se sempre um coro de “HOOOO!!!” E, ao fim da noite, os mais corajosos acabam na Foz a dar um mergulho no mar."

Nota: fotografia de Joana Bourgard extraída da galeria de imagens do Jornal de Notícias.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Feitoria

Recomendamos vivamente, a quem passar pelo aeroporto de Faro, uma visita à Feitoria. Uma loja criada por Alexandra Melo, especializada em artigos portugueses, sobretudo artesanais e tradicionais, e que também revende alguns dos nossos produtos. Comércio delicado, que começou como um espaço virtual e já adquiriu uma presença física no Algarve.

"As Feitorias eram um dos postos avançados do império colonial português, representando ao mesmo tempo os interesses político-militares da Coroa e os interesses comerciais da nação. Essas agências serviam de mercado para troca de produtos e de base militar para a expansão territorial." Esta Feitoria, dos dias de hoje, pode orgulhar-se de percorrer o país, de lés alés, à procura daquilo que é nosso. Pelo elogio do trabalho artesanal, do talento manual que urge preservar.

Dias de praia

A Vida Portuguesa gosta da praia. Tanto na sua versão mais convencional, feita de mar e areia, como em formato de caderno, com o bom gosto e sentido de humor das magníficas edições Serrote.

Portugal em voga

A revista Vogue de Julho traz um especial "Made in Portugal", com "o que de melhor se produz no país". E, como não podia deixar de ser, vieram abastecer à nossa loja. Levaram as andorinhas de Bordalo Pinheiro, artigos de perfumaria (A Lavanda Ach Brito, a pasta Couto, a vela Águia da Claus Porto, o creme Benamor e os sabonetes Costa do Sol e Camélias de Sintra), outros para a casa (cera Encerite em versão alfazema, a flor de sal da Ria Formosa, o atum Risonho e o azeite Triunfo) e o clássico caderno Emílio Braga (provavelmente para assentar notas e ideias). O resultado final só podia ser de encher o olho...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A Vida Republicana

A Vida Portuguesa abriu uma nova loja. Trata-se de uma loja temporária que complementa a exposição “Viva a República!”, na Cordoaria Nacional em Lisboa, a mais importante e extensa exposição incluída nas Comemorações Oficiais do Centenário da República. “A Vida Republicana” reune produtos portugueses da época, apresenta reedições de produtos rebublicanos especialmente concebidos para a ocasião, e inclui ainda uma livraria temática.

Inaugurou no passado dia 18 de Junho “Viva a República!”, a principal exposição comemorativa do Centenário da República em Portugal. Comissariada por Luís Farinha e cncenada com esmero pelo Atelier Henrique Cayatte, aborda tematicamente, em 10 núcleos distintos, as particularidades do regime político que passou a ser o nosso desde 5 de Outubro de 1910. Está patente na Cordoaria Nacional, Avenida da Índia em Lisboa, até Outubro de 2010. A inauguração contou com a presença de inúmeras figuras públicas, incluindo a do primeiro ministro José Sócrates.

O convite foi endereçado pela Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República (CNCCR) a Catarina Portas, a proprietária das lojas A Vida Portuguesa. Foi um desafio que acolhi, logo de início, com entusiasmo. Pois acredito que o consumo também pode ser um acto de conhecimento e cultura – além de um gesto político.

A reedição de produtos de época ou a produção de objectos de consumo inspirados por este tema pode ser também uma forma de sensibilizar, recordar e dar a conhecer a história de um país. E, dadas as características do tema “República”, gostaria de acreditar que estes objectos poderão ser capazes de contribuir para incitar à reflexão e alimentar um sentimento de cidadania, indispensável a uma democracia plena e participada.

Investiguei os arquivos de várias fábricas e empresas com as quais trabalho regularmente como a Ach Brito (reeditaremos fielmente o sabonete República de 1910), a Bordalo Pinheiro (que recuperou o molde original do cinzeiro “Viva a República” para a sua reedição) ou a CRERE – Museu do estuque (que guarda o espólio dos estuques da Oficina Baganha onde se incluía um busto da figura da República, agora à venda em dois tamanhos). Também há uma placa publicitária em metal, reproduzindo um delicioso anúncio de época, e até, um “Bigode Republicano”, especialmente dirigido ao público infantil.

A imagem da loja, tal como a criação de alguns produtos inspirados pela iconografia republicana ( uma colecção de 3 canecas, por exemplo) foram desenvolvidos em colaboração com o reconhecido designer gráfico Ricardo Mealha.

A Vida Portuguesa estreia-se assim na criação de espaços com objectivos mais direccionados, adequados a temáticas que lhe são caras, com produtos feitos à medida. Também pesou na decisão o facto de poder fazer encomendas a várias empresas portuguesas, aumentando a facturação das mesmas em época de crise. Os encargos financeiros inerentes ao desenvolvimento e fabricação dos produtos são suportados pel’ A Vida Portuguesa, que os comercializa ainda nas lojas de Lisboa, do Porto e online. E que é responsável ainda pela livraria, que apresenta uma selecção de obras sobre a República e a sua época, com muitas curiosidades.

Catarina Portas recomenda vivamente a visita a uma exposição como é raro fazer-se em Portugal, extensa, bem investigada e excelentemente apresentada sobre um período crítico mas importante (e quase sempre tão mal conhecido) da nossa história recente. Pois acreditamos que conhecer a história é aprender com ela, com os seus erros inclusive, para nos podermos governar melhor.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O milagre lisboeta

"No sábado passado, fui à procissão. Eram cinco horas de uma tarde abafada quando ela saiu da Igreja de Santo António, junto à Sé, e se enfiou pelos “becos, escadinhas, ruas estreitinhas” como canta a Carminho na “Marcha de Alfama”. A abrir o cortejo, para que não haja dúvida que o ano é o de 2009, um casal de agentes fardados nas suas segways, como dois cavaleiros do futuro. Atrás, seis andores e uns milhares de pessoas. Lá vem o Santo António, sobre um jipe dos bombeiros, e mais os seus vizinhos do bairro, carregados em ombros: São Miguel, São João, Santo Estevão, São Vicente e Santiago, imagens antigas e douradas, vindas de cada uma das igrejas do bairro de Alfama. Os pendões agitam-se, acompanhando o som tonitruante e dolente da banda filarmónica, atrás das fardas luzidias o Núncio Apostólico marcha também exibindo nas mãos uma relíquia de Fernando de Bulhões que se fez António em 1220.

Os escuteiros pressurosos tentam manter organizada esta mole humana que, como uma serpente, se estica ou se alarga, consoante as vielas do labirinto branco que é o casario de Alfama. Caminham na procissão alguns pés descalços sobre as pedras da calçada que na noite anterior viram rolar garrafas e derramar cerveja. Hoje, são pétalas que chovem sobre o Santo António, atapetando delicadamente o chão. Com os festões suspensos no ar e as colchas coloridas nas janelas, o bairro parece uma sala rica em dia de festa, engalanada e exuberante. E a gente, é tanta gente e tão concentrada neste gesto. Quem sai à rua nesta dia, a passear com o Santo António? Sai o bairro, claro, que procissão é tradição, e ocorrem devotos da cidade e arredores. Há pobres e ricos, homens e mulheres, muitos velhos e muitos jovens, portugueses ou nem por isso, numa amostragem tão vasta quanto surpreendente nos dias que correm. Trazem velas ou terços nas mãos, um credo no coração ou simplesmente a curiosidade no olhos. Mas lá vão eles, caminhando pela tarde quente, percorrendo o labirinto, repetindo em coro, compenetrados, as palavras “ Santo António de Lisboa, abençoai a nossa cidade” (e também “Santo António de Lisboa abençoai os nossos governantes”).

É diante da Sé, onde desagua toda esta gente, que se alinham os andores e fala o sumo sacerdote da ocasião. No final, quando cada uma das imagens regressa a casa, encaminhando-se para a sua respectiva igreja, também Santo António começa a descer a ladeira. E é nesse momento, quando todos os olhares o seguem, virando-se para baixo e recebendo o sol de frente que acontece o milagre: dezenas de rostos levantados para o sol, lacrimejam, entre silêncio e burburinho. Uma senhora, africana luzidia e exultante, descreve-me o que viu: Santo António no ceú e os anjos todos esvoaçando em seu redor. No ano passado, não conseguira mas neste, sim. A vizinha teve menos sorte, só viu o sol a balouçar, como um barquinho. Talvez para o ano…

Eu, a grande descrente, também vi o milagre. Também lá estava o Santo António, balouçando numa procissão de um outro século a atravessar os meus dias."

Crónica de Catarina Portas para o Público de 20 de Junho de 2009. O álbum fotográfico da procissão está disponível aqui.