quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Aguardente da Lourinhã

"O solo da Lourinhã esconde segredos bem guardados. Como os vestígios da era dos dinossauros ou as uvas que dão origem à única aguardente vínica portuguesa com região demarcada exclusiva. Muitos portugueses não o sabem, mas no mundo só há outros dois casos assim: os gigantes franceses Cognac e Armagnac." Excertos da belíssima reportagem de Luís Francisco, com fotografias de Miguel Manso, para a revista Pública de 4 de Abril 2010.

"(...) Estamos no coração de um dos produtos portugueses mais exclusivos, uma bebida espirituosa que, mesmo pelos padrões internacionais, ostenta um pedigree difícil de igualar. A região demarcada da Lourinhã foi criada exclusivamente para a aguardente vínica, caso único no país e que só encontra paralelo nas regiões francesas de Cognac e Armagnac. "Há muitas - e boas - aguardentes velhas em Portugal", avalia João Pedro Cautela, presidente da Adega Cooperativa da Lourinhã(ACL), "mas a nossa é a única que tem uma região demarcada dedicada." Cognac, Armagnac e... Lourinhac. O trocadilho é quase irresistível, mas em breve deixará de ser um trocadilho. Porque a ACL tem planos para lançar em breve a atenção dos mercados internacionais. (...)

Ou seja, no momento de servirmos um belo balão de digestivo, é como se tivéssemos na mão um cacho de uvas com 150 gramas... Mas não de umas uvas quaisquer. As castas, os solos, a cultura, a vinificação, a conservação, a destilação e o envelhecimento obedecem a regras bem definidas, ao abrigo do estatuto da Região Demarcada das Aguardentes Vínicas da "Lourinhã", estabelecido pelo Decreto-Lei nº 323/94 de 29 de dezembro. A Região Demarcada da Lourinhã tinha sido criada dois anos e meio antes, pelo Decreto-Lei 34/92 de 7 de Março. (...)

representantes da região de Armagnac estiveram de visita à Adega Cooperativa e, numa prova cega, elegeram a aguardente portuguesa como a melhor, em comparação com as suas homólogas francesas. (...)

Ao criar a Real Companhia Velha, no século XVIII, o Marquês de Pombal sabia o que tinha ali: durante dois séculos, o vinho do Porto foi feito com aguardentes made in Lourinhã. Os mais velhos da terra lembram-se dos tempos em que havia "uma destilaria em cada esquina" - eram 32 quando se constituiu a Adega Cooperativa, em 1957. Os produtores do Porto asseguravam um fluxo contínuo do negócio e durante muito tempo o néctar da Lourinhã diluiu-se na mais internacional e cotada das bebidas espirituosas de Portugal. mas na década de 1980 passou a ser obrigatório usar aguardentes da região de produção e as aguardentes de vinho verde entraram em cena. Hoje, a Lourinhã só tem uma destilaria. (...)

A aguardente da Lourinhã não é um bem de consumo maciço e até há algum tempo era preciso procurar para a encontrar. (...)" Mas agora também está disponível n' A Vida Portuguesa.

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