segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

No início era... a pesquisa



"Comecei a imaginar livros que gostaria de fazer. Pensei num livro sobre a vida quotidiana em Portugal no século XX, que tanto influencia o país que somos e que a minha geração tanto desconhecia (as coisas mudaram entretanto, levantou-se a tampa do alçapão do passado, ainda bem). Lembrei-me de fotografar uma dispensa de época e de um shopping que tinha feito para a Marie Claire, baseado nas crónicas A Causa das Coisas, do Miguel Esteves Cardoso, com esses tais produtos antigos que ele glosava no Expresso. E quando comecei a investigar as marcas, fábricas e produtos antigos portugueses confirmei que uma quantidade de produtos ainda existiam com embalagens originais (dos anos 20 a 60 do século passado, pois tivemos um mercado muito fechado e pouco concorrencial durante o regime salazarista).
Mas também percebi que muitos destes produtos, face a novos concorrentes importados, estavam a desaparecer rapidamente. Ora, eu sempre lhes achei graça, como relíquias do quotidiano do país. O primeiro impulso foi essencialmente egoísta: eu não queria que eles desaparecessem. E comecei a fazer um exercício de imaginação. Como tornar apelativos estes produtos para um novo público? Imaginei agrupá-los em caixas temáticas, com um livrinho que lhes contasse as histórias. Poderia ser este design histórico do quotidiano, tão ingénuo e divertido, uma vantagem no mundo actual, onde o design está tão (sobre)valorizado? Seria possível passar estes produtos quase esquecidos nas drogarias e nas mercearias para um outro mercado, o das lojas de design e de museus? E, graças a esse novo público, valorizar e ajudar a salvar a manufactura portuguesa? Funcionou." Catarina Portas

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