quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Uma loja preciosa

Ainda não estávamos refeitos da notícia segundo a qual a Livraria Portugal se prepara para fechar as portas quando nos atiram com o facto de a Ourivesaria Aliança seguir o mesmo destino. A primeira há 70 anos na Rua do Carmo, a segunda há mais de cem na Rua Garrett, ambas faziam muito pela graça única de Lisboa e traziam um charme de outros tempos a este Chiado a que queremos bem.

A Ourivesaria Aliança foi inaugurada em 1909, enquanto filial da casa do Porto com o mesmo nome, de acordo com o livro "Lisboa As Lojas de um Tempo ao Outro" de Jorge Ribeiro e Júlio Conrado, Editorial Notícias. "Florescente na época áurea do Estado Novo, teve papel preponderante no equipamento da Basílica de Fátima, para a qual forneceu o frontal em prata e a banqueta em prata cinzelada destinados ao altar-mor e o sacrário, considerado um trabalho primoroso de cinzel e arquitectura." E foi uma das grandes oficinas de ourivesaria da Península Ibérica, tendo coleccionado prémios.

Mesmo sem a pujança de outros tempos, actualmente o negócio mantinha-se estável e a loja continuava a atrair, pelo interior sumptuoso feito de detalhes impressionantes e mobiliário antigo, a curiosidade dos passantes, fossem eles turistas estrangeiros ou nacionais. Mas as obras que esperam o edifício e as rendas exorbitantes que se praticam hoje em dia no Chiado vieram ditar o encerramento do espaço, explicou na edição de ontem do jornal Público a sócia gerente da loja.

"Os novos proprietários, uma empresa espanhola que comprou todo o edifício para ali instalar um negócio de aluguer de apartamentos de curta duração, garante que não vai adulterar os faustosos interiores do estabelecimento, mas a sócia-gerente da casa está apreensiva com o seu futuro. "Já andei de departamento camarário em departamento camarário, a avisá-los para estarem alerta quando eu sair e as obras de reconversão do prédio começarem (...) Não quero que aconteça o mesmo que na antiga Casa Ramiro Leão", também no Chiado, onde a chegada da Benetton ditou uma descaracterização quase total dos interiores do edifício, dos quais praticamente só resta um antigo elevador."

Como sugere a jornalista Ana Henriques, "quem nunca lá entrou, tem três semanas para o fazer."

1 comentário:

Sara disse...

é triste a tradição e a herança portuguesa que se está a perder no Chiado nos últimos tempos.

Aos poucos aquele lugar que tinha um charme único está a desaparecer e a dar lugar a um autêntico centro comercial com as lojas do costume, perdendo todo o carisma que levava as pessoas até lá. Não é só mau para nós, portugueses, mas também para os turistas que esperam uma experiência diferente e acabam por ter aquilo que há em todo o lado.